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Empresárias de nicho ganham dinheiro com algo que você não imaginou vender

Mariane Noda, dona da Caramapple - Divulgação
Mariane Noda, dona da Caramapple Imagem: Divulgação

Marina Oliveira

Colaboração para Universa

15/09/2018 04h00

Investir em nichos de mercado significa concentrar estratégias em um único segmento, o que, apesar de reduzir o número potencial de clientes, ajuda a empresa a se destacar e tornar-se referência –desde que faça bem o seu trabalho, é claro. Conheça algumas empresárias e seus respectivos negócios, que têm prosperado com essa estratégia.

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Imitação de carne

São quase 30 milhões de brasileiros que se declaram vegetarianos, segundo levantamento do Ibope de 2018, encomendado pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). O número é 75% maior do que seis anos atrás. Entre os entrevistados, 55% declarou o interesse por consumir mais produtos veganos, livres de ingredientes de origem animal. É para esse público que Marcella Izzo, 27, olhou ao decidir abrir um açougue vegano na cidade São Paulo, em 2016.

“Faz quatro anos que sou vegana e percebia que as opções de pratos que existiam eram basicamente feitos de soja, o que me levou a criar algumas coisas em casa”, conta. Dessa experiência, somada a um investimento de R$ 60 mil, nasceu a primeira loja da No Bones em uma garagem. O carro-chefe do negócio são as fake meats, as “imitações” de carne, como a picanha vegetal, uma das mais vendidas, produzida com queijo vegetal tipo parmesão (que faz as vezes de capa de gordura), arroz vermelho, beterraba e temperos especiais, como fumaça em pó, para ter gosto e aroma de defumados.

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Marcella Izzo tem um açougue vegano na cidade São Paulo
Imagem: divulgação

"Imitamos o visual da carne para ter apelo visual e tem funcionado, pois 60% do nosso público ainda consome carne, mas busca substitutos para o dia a dia e para confraternizações. Quando a pessoa olha para a picanha, já sabe que ela vai bem em um churrasco", conta. Um ano e meio após a abertura da primeira loja, ela abriu mais duas: em Niterói (RJ) e em Atibaia (SP). Também passaram a distribuir as fake meats por meio de parceiros. Até o fim de 2018, ela quer estar em 12 estados brasileiros.

Papel com semente

A empresária Andrea Carvalho, 50, morava em Atibaia (SP) e era dona de uma pizzaria delivery quando começou a trabalhar como voluntária em uma instituição que produzia papel reciclado artesanal com a comunidade local, que vivia em torno de um lixão. Ao mudar de estado e voltar para sua cidade natal, Niterói (RJ), essa vivência pesou ao decidir empreender.

“O meu marido e sócio viu uma ação publicitária na Inglaterra que utilizava papel semente, algo que não se produzia no Brasil. Era um prato cheio para empreendedores”, fala. Com R$ 200 mil de investimento inicial eles montaram, em 2009, a estrutura de produção da Papel Semente. O produto é feito a partir de restos de aparas de papel de gráficas e de papéis jogados fora por empresas e residências. Quem coleta o material é uma cooperativa de catadores de itens recicláveis, que faz parte da ONG Guardiões do Mar. A semente, o diferencial do produto, é adicionada na etapa final da produção, antes de o papel ser colocado para secar.

papel semente - Divulgação - Divulgação
Andrea Carvalho, da papel Semente
Imagem: Divulgação

“Temos um produto que tem vida. É o papel que, após ser lido ou usado, não vai ocupar um lugar nos aterros e lixões, mas ser plantado e dele brotará uma flor ou até uma salada”, fala.

As sementes usadas são variadas: rúcula, agrião, cenoura, pimenta e margaridas, entre outras. “Atualmente, atendemos desde a mulher que quer fazer suas lembranças de maternidade, a noiva que vai casar, até as grandes empresas do mercado”, explica Andrea.

São os crachás para eventos e folders para a comunicação das grandes empresas, que querem alinhar sua marca à questão socioambiental, porém, que fazem a roda girar, diz ela. A produção atual está em 600 folhas gráficas por dia, o triplo da inicial. E o faturamento anual estimado para 2018 é de R$ 1,2 milhão. “Ainda em 2018, vamos iniciar nossa expansão internacional com um e-commerce na França, para atender a Europa”, fala a empresária.

Maçãs carameladas

Foi durante uma viagem à Califórnia, em 2011, que Mariane Noda conheceu a caramel apple, ou maçã caramelada, uma sobremesa típica do Halloween. Parece uma maçã do amor, mas a empresária e confeiteira garante que a semelhança acaba na fruta espetada no palito. “A receita é completamente diferente. Só usamos maçã verde e o caramelo é bem macio, feito com diversos ingredientes importados, diferente da maçã do amor que leva açúcar e corante”, explica.

maçã caramelada - Divulgação - Divulgação
Interior da Caramapple
Imagem: Divulgação

Na época, ela era dona de casa e resolveu testar receitas para reproduzir o doce. No ano seguinte, começou uma produção caseira, vendida por encomenda. Em 2017, ela e o marido, decidiram abrir uma loja física em São Paulo, a Caramapple. No cardápio estão mais de 15 sabores de maçãs carameladas, que podem levar coberturas como biscoitos, confeitos, marshmallow, castanhas e chocolate belga.

“A maioria compra para presentear ou para consumo próprio. Também oferecemos um tamanho menor de maçãs para festas e eventos”, fala. Eleger um produto como carro-chefe do negócio tem vantagens e desvantagens, diz Mariane.

“Desde o início, trabalhar com as maçãs é um desafio, por não ser uma sobremesa amplamente conhecida no Brasil. Entretanto, justamente por ser algo específico, nós fidelizamos uma clientela, que sabe que só vai encontrar aqui o produto”, fala. 

Desde 2012, quando iniciou a produção, ainda de forma caseira, o faturamento tem crescido. “Vendíamos cerca de 80 maçãs por mês. Posteriormente, já em uma cozinha exclusiva, aumentamos a produção para 400 maçãs. Atualmente, temos uma produção de mais de mil maçãs por mês”, fala.

Ração vegetal

Em 2013, a família de Thais Lage, 35, e do marido e sócio, Victor, aumentou. O vira-lata Frodo foi adotado para fazer companhia a Rufus, da raça Pug. O casal que, dois anos antes, tinha se tornado vegetariano, passou, então, a buscar opções de ração 100% vegetal também para os pets. Com dificuldade, encontraram um fornecedor no interior de São Paulo e compraram de uma vez 240 kg do alimento.

“Imaginamos que outras pessoas podiam estar passando pela mesma situação que nós, de procurar e não encontrar rações sem carne. Criamos um site simples para revender desse fornecedor. Se não houvesse procura, teríamos garantido um ano de ração para o Rufus e o Frodo”, conta Thais. Mas teve. No final daquele ano, 2014, eles já recebiam uma média de 20 a 30 pedidos por mês. 

“Como estávamos fazendo um teste, armazenávamos tudo em casa mesmo. Ao entrar algum pedido, fazíamos a embalagem e íamos pessoalmente ao Correios levar as caixas”, conta. No ano seguinte, decidiram investir em um e-commerce de produtos 100% vegetais, cruelty free (não testados em animais) e biodegradáveis para pets, nascia a VegPet, que comercializa produtos de alimentação, higiene, comportamento e cuidados. Com o crescimento da empresa, em 2018, eles lançaram uma marca própria de ração vegetal para cães e gatos, a Bicho Green, e de distribuidores passaram a ser fabricantes.

A ração, em versões para cachorros e gatos, não possui corantes ou antioxidantes artificiais em sua fórmula e é feita totalmente com proteína vegetal. “Somente na semana de lançamento registramos quase duas toneladas em pedidos”, conta. A Bicho Green já representa 50% do faturamento da VegPet e a expectativa é fechar este ano com faturamento 40% maior do que o do ano passado, que foi de R$ 1,2 milhão.

Joias afetivas

Soraia Nakano, 37, fez carreira no mercado financeiro e após 17 anos no mundo corporativo decidiu resgatar um gosto antigo: desenhar e vender joias. O impulso foi o nascimento da filha Clarice, na época com dois anos. “Na adolescência, antes de entrar para o mercado de trabalho formal, me aventurei vendendo semijoias e joias. Não eram desenhadas por mim, mas vendia bem”, fala.

Ela abriu a Inffinità By Soraia Nakano, em 2016, após investir em cursos de capacitação, nas áreas de joalheria e de empreendedorismo. Envolvida pela maternidade, criou um nicho: joias afetivas. “Tive a ideia de materializar, em um pingente, o carimbinho dos pezinhos, aquele que é feito na maternidade, logo após o nascimento da criança. Esse colar, até hoje, é o mais vendido”, fala.

joia afetiva - Divulgação - Divulgação
Soraia Nakano abriu a Inffinità By Soraia Nakano
Imagem: Divulgação

O portfólio cresceu, vieram pulseiras, anéis e brincos, todos personalizados. E as joias que eram pensadas para as mães se tornaram também presentes para pais, avós, tios e padrinhos. “O cliente escolhe o tipo de joia e como deseja personalizá-la: pezinhos do bebê, mãozinhas ou desenho da criança, por exemplo. Nossa oficina reproduz com total exatidão a arte aprovada em ouro branco, ouro 18k ou prata”, fala Soraia.

A equipe, que era de três pessoas, hoje é de 12 pessoas. O crescimento anual é de 70%. “A joalheria é uma área extremamente concorrida e com marcas já consolidadas. Entrar em um mercado assim exige diferencial. O nosso é ser uma marca focada na família”, fala.