A mandachuva do reality show

Juliana Algañaraz, diretora da Endemol Shine Brasil, é a responsável pelo BBB, MasterChef e Dancing Brasil

Dinalva Fernandes (Colaboração) e Luiza Souto Da Universa
Carine Wallauer/Universa

Você assiste "MasterChef", "Big Brother", "Dancing Brasil" ou "Batalha dos Confeiteiros". E gosta? Pois saiba que "a culpa" desses sucessos é dela: Juliana Algañaraz. A argentina, que mora no Brasil há cerca de duas décadas, é a diretora-geral da Endemol Shine Brasil, braço nacional da empresa produtora de conteúdo com sede na Holanda, que faz os maiores reality shows do mundo. Juliana é a responsável pela adaptação desses programas por aqui.

A executiva, que já trabalhou em outras gigantes da TV, inclusive nos Estados Unidos, como Discovery, Animal Planet e Fox, no Brasil, foi também a CEO do "Porta dos Fundos". Nessa trajetória, diz ter errado por "não seguir os instintos", acertado ainda mais porque "sempre tem respostas certeiras", porque "as mulheres enfrentam as situações de forma menos frontal e, por isso, mais estratégica" e também pelo fato de que, ainda bem, não enfrentou preconceito por ser estrangeira: "sejamos sinceras: eu sou branca, estudada e culta. E isso é visto como um charme".

Nesta entrevista, ela conta quais foram as guinadas em sua carreira, dá dicas para mulheres que querem se tornar chefes e também como lidou com um episódio constrangedor causado por um homem.

Como chegou onde está?
Sou formada em Rádio e TV, na Argentina. Quando comecei a trabalhar, todo mundo saía de férias e eu me propunha a cobri-las. Fui subindo. Passei a cuidar de um reality show no Canal 13 (um dos mais importantes canais de TV na Argentina) e me chamaram para coordenar produções da Discovery Channel. Foi ali que passei a entender de mercado internacional. Evoluí mais e a Discovery me colocou para negociar os direitos autorais dos conteúdos para a internet de toda a América Latina, em Miami. Depois, ainda nos Estados Unidos, o Animal Planet me contratou para ser produtora executiva do canal. 

Por que saiu dos Estados Unidos, um dos países mais importante nesse ramo de trabalho, e veio para o Brasil?
Eu casei com um brasileiro e tínhamos um bebê. E, quando estávamos lá, as Torres Gêmeas caíram, eu e meu então marido estávamos em crise e ele não queria mais morar nos Estados Unidos. Então, ou me divorciava ou me mudava para o Brasil com ele. Mas a parte mais importante da minha carreira está no Brasil. Não que a chegada aqui tenha sido fácil.

Apesar do currículo que tinha acumulado na Argentina e nos Estados Unidos, demorei para conseguir emprego aqui. Ninguém contrata se não tiver uma indicação. E eu não tinha. 

E a guinada no Brasil aconteceu como?
Eu falava um português horroroso, mas mesmo assim, fui chamada para ser assistente na produção de documentários para a National Geographic. Cresci e virei diretora de produção. A primeira grande guinada aconteceu quando a Rede TV! me chamou para ser diretora de programa e, pouco tempo depois, para criar um departamento de novos conteúdos.  Se você dá resultados, não importa se é homem, mulher, lesma ou cachorro. Trabalhei em conteúdos como “Donas de Casa Desesperadas” e em coproduções como a do "Dr. Rey". Em 2011, veio a segunda guinada: fui convidada para ser diretora de operações da Fox Brasil. Estava bem lá, quando outra virada aconteceu. Um amigo argentino me ligou e perguntou: "Estou buscando um CEO para a Endemol. Tem interesse?". Fiz o processo de seleção, passei e, quando fui admitida, contratei um coach para aprender sobre gestão de pessoas, estratégias e afins. Fiz também um MBA na Fundação Getúlio Vargas em Gestão e Finanças por um ano; mas não consegui terminar por causa do trabalho.

Quais foram alguns de seus principais feitos como chefe?
Na Endemol, participei da implementação da área de Branded Content, com a criação e produção de cases para P&G e Heineken. Além disso, ajudei a desenvolver formatos e projetos seguindo o conceito 360°, que é colocar nossas marcas em todas as frentes comerciais e de conteúdo. Fiz isso, por exemplo, com o "MasterChef Brasil", que é um fenômeno em todos os mercados. Em 2017, a Endemol Shine Brasil cresceu 151%, sendo que 30% deles vieram da área de Branded Content.

Homens e mulheres em cargos de chefia na Endemol Brasil têm salários e oportunidades iguais?
Temos um plano de carreira justo para todo mundo. O salário é por categoria e não por sexo. E damos apoio total a homens e mulheres que se tornam pais. Os funcionários homens podem ficar fora por 15 dias quando o filho nasce. E a mulher, depois que volta do período de licença, tem oportunidades de recolocação. 

Na sua área, quais as vantagens que uma chefe mulher leva?
As mulheres enfrentam as situações de forma menos frontal e, por isso, mais estratégica. Essa inteligência emocional serve muito bem para os negócios.

Os homens são mais diretos. Isso pode ser genial, mas também gera muito impacto. Nós estamos mais acostumadas a controlar os danos em volta o tempo inteiro.

Com quem uma chefe mulher normalmente pode contar dentro da empresa?
Os líderes sofrem da chamada solidão do poder. Em geral, não podemos compartilhar com muitas pessoas o que está acontecendo, porque lidamos com decisões estratégicas. Se choro aqui, começa todo mundo a tremer lá embaixo. Por isso, sempre contei mais com os meus chefes.

Sempre quis entrar nesse mercado?
Eu comecei a estudar culinária na Argentina. Um chef me contratou para atender artistas em estádios. No primeiro dia, era um show do Guns N'Roses. Quando saí da cozinha e vi o público vibrando, percebi que queria gerar aquilo nas pessoas.

Me toquei que eu gostava de cozinhar, mas não de ser cozinheira. Fui então para a área do cinema e lá, vi que precisava de coisas mais dinâmicas. Foi então que mudei para televisão.

Quais erros cometeu como chefe? E o que aprendeu com eles?
O pior foi não seguir os meus instintos. Em determinada ocasião, por exemplo, deveria ter demitido uma pessoa e não o fiz pensando na família dela, achando que ela podia melhorar. No final, foi uma das pessoas que mais atrapalharam minha vida. 

Na sua experiência, mostrar fraquezas ajuda ou atrapalha?
Falar que não é forte em determinado assunto, mas que quer aprender e está disposta a se esforçar mais é ótimo. Assim, todo mundo sabe o que esperar de você e as expectativas ficam alinhadas.

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