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"Meu namorado me passou sífilis quando estávamos há dois anos juntos"

iStock/Getty Images
Imagem: iStock/Getty Images

Carolina Prado

Colaboração para Universa

15/05/2018 04h00

Pela falta de uso da camisinha, a sífilis, uma doença sexualmente transmissível (DST), não para de crescer no Brasil. De 2014 a 2015, de acordo com o Ministério da Saúde, os casos em adultos aumentaram 32,7%.

E muitas mulheres são infectadas em relacionamentos estáveis, quando o preservativo é deixado de lado. A doença, nesses casos, traz também a suspeita de uma traição. A atendente Virginia, 39, passou por isso e conta a sua história.

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“Eu costumo dizer que só amamos uma vez na vida e esse meu ex-namorado foi meu grande amor. Nos conhecemos quando estudávamos no colégio, eu tinha 12 anos. Ele logo se tornou meu primeiro namorado. Mas éramos muito novos, claro, e a vida seguiu.

Eu me casei com outro homem, tive duas filhas, me separei e, 25 anos depois daquele nosso primeiro namoro, nos reencontramos. Foi uma paixão doida! Logo começamos a namorar. Porém, um ano e meio depois que estávamos juntos, começamos a nos desentender. Discutíamos, nos separávamos por alguns dias e voltávamos. Sempre tínhamos uma desculpa para ficarmos juntos, tanto ele quanto eu. Isso se repetiu algumas vezes.

Então, em dezembro de 2017, numa dessas reconciliações, eu percebi algo diferente no corpo dele. Tinham umas feridinhas no pênis e elas não estavam lá na última vez que ficamos juntos. Aquilo ficou na minha cabeça. Não usávamos camisinha, eu tomava anticoncepcional.

No dia seguinte, sem conseguir esquecer o que eu tinha visto, eu marquei com uma ginecologista. Eu não tinha sintoma algum, marquei porque fiquei encanada. Mas nos dias que decorreram até a consulta comecei a sentir muita coceira. Também ardia muito. E apareceram umas manchas avermelhadas pelo meu corpo.

Cheguei na médica, contei o que tinha visto nele, ela me avaliou e pediu para fazer um exame. O diagnóstico só poderia ser dado após o resultado. Quando saiu, eu descobri: estava com sífilis.

Eu fiquei revoltada. Não conseguia acreditar que ele tinha feito aquilo comigo, a gente tinha uma relação honesta, sabe? Conversávamos sobre tudo. Aquela situação era o fim do mundo! Não consegui aceitar numa boa. A única reação que fui capaz de ter após o diagnóstico foi bloqueá-lo em todas as minhas redes sociais.

Quando ele tentou falar comigo, eu disse que não havia mais nada entre nós, não me justifiquei. Parei de falar com ele totalmente. E não contei que estava com sífilis. Eu faria o tratamento e pronto. Estava com muita raiva.

Eu era meio doente por ele. Até desconfiava que ele me traía, só que não aceitava. Eu não queria ver, essa é a verdade. No fundo eu tinha certeza que ele ficava com outras, mas eu decidia passar por cima daqueles pensamentos e seguir com ele. Ficamos dois anos juntos.

Estar com sífilis me deu tanto ódio, que cheguei a passar uma noite toda imaginando como me vingaria dele. Eu queria de qualquer forma fazer algo ruim para ele. Mas não demorou muito para eu entender que a maior vingança seria eu me afastar e me cuidar. Comecei a fazer o tratamento, precisei tomar duas injeções de penicilina durante três semanas.

Ainda não estou curada. Preciso repetir o exame no mês que vem e voltar na médica. Mas faz dois meses que estou saindo com outro homem, já estamos em uma relação estável. Só que comigo não existe mais isso de confiar totalmente no outro. Eu agora uso preservativo. Entendi que mesmo gostando muito de outra pessoa, tenho que manter o meu pé no chão.

No fim das contas, a minha vingança foi me valorizar, me afastar dele e escolher ficar com uma pessoa que está me empurrando para frente. Até voltei a estudar. Eu não falei mais com o ex e não contei sobre a sífilis. Não quero saber se ele descobriu ou se tratou. Agora estou cuidando de mim.”