Topo

Pílula anticoncepcional: elas deixaram o remédio e contam como a vida mudou

iStock
Imagem: iStock

Geiza Martins

Colaboração para Universa

16/04/2018 04h00

Se na década de 1960 a pílula anticoncepcional era símbolo de liberdade sexual para a mulher, hoje, a necessidade dela vem sendo quetionada. Muitas estão abandonando esse método contraceptivo.

O motivo nem sempre está relacionado ao desejo de engravidar, mas, sim, com empoderamento e saúde, mais especificamente aos efeitos colaterais que a dose hormonal pode causar em nosso corpo, como queda de cabelo, redução da libido, inchaço e até trombose.

Veja também

Vale dizer que todas as pílulas podem causar trombose. Ainda que a pílula tenha seu papel - tem 97% de eficácia, além de ser uma maneira de tratar ovários policísticos - constantemente, ouvimos relatos de pessoas que tiveram algum problema de saúde desencadeado por métodos contraceptivos hormonais.

Para saber como é a vida sem a pílula, ouvimos o depoimento de quatro mulheres que optaram pela interrupção do método.

Do anel vaginal ao DIU de cobre

Esther Querat - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Esther Querat
Imagem: Arquivo Pessoal

"Eu iniciei o uso de anticoncepcional um pouco tarde, aos 28 anos. O que usei de maneira contínua foi um anel vaginal contraceptivo, pela praticidade indicada pela ginecologista. Após 10 meses de uso, tive sintomas estranhos, como enxaquecas com aura, quando a visão vai ficando branca. Comentei com a médica e ela suspendeu imediatamente o uso, pois aquele sintoma era claramente a reação da progesterona, que me fazia mal. Ela então recomendou o DIU de cobre. Interrompi o anel em fevereiro de 2015 e coloquei o DIU de cobre em junho do mesmo ano, após fazer todos os exames. A colocação foi como um procedimento cirúrgico simples, mas fiz no hospital por recomendação médica. Foi fácil e sem dor e a melhor decisão tomada. Claro que sem os hormônios eu tenho cólicas e um fluxo menstrual mais intenso, mas fico muito tranquila em relação a segurança do método em todos os sentidos. Infelizmente, o índice de AVC e trombose dos anticoncepcionais com hormônios em mulheres é alarmante e pouco discutido. Para amenizar as cólicas e irritabilidade pré-menstrual, minha médica me indicou o óleo de borragem, natural, uma salvação! Devo tirar o DIU em breve para a primeira gestação. Felizmente o tabu do DIU que seria somente para mulheres que já tiveram filhos se foi."

Esther Gonçalves, 32 anos, publicitária

A cólica voltou. E a libido, também

Andrea Domingues - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Andrea Domingues
Imagem: Arquivo Pessoal

"Eu parei de tomar pílula duas vezes. A primeira foi após o rompimento de um namoro. Não tinha nenhuma justificativa sólida, apenas decidi ficar sem. Mas como tive muitas espinhas nas costas e também estava em um novo relacionamento, voltei atrás. Agora, há quase dois anos, decidi interromper novamente e o motivo foi medo. Eu lia toda semana relatos de trombose na internet. Antes, além da pílula, eu era adepta da camisinha somente quando não tinha parceiro fixo. Agora só uso preservativo. Mas também já esqueci de usar e acabei na pílula do dia seguinte, o que é bem complicado por se tratar de uma bomba de hormônios. Na verdade, para mim, o que mais pega para se acostumar com a nova rotina é ter que lembrar de colocar a camisinha, porque a pílula te deixa desencanada em relação à gravidez. Mas lembro também que era problemático ficar em dia com os comprimidos, pois eu nunca tomava no horário certo. Sem as pílulas, também tive que me acostumar com uma cólica que não sentia. Antes eu nem precisava tomar remédio para dor, agora ando com um na bolsa. A libido aumentou. O fluxo também, mas acabei me acostumando. Agora, os dias de menstruação continuaram iguais, de três a quatro dias. Não senti diferença em relação a TPM, a única coisa que sinto é vontade de doce e fico meio chorona, mas não é todo mês."

Andrea Domingues, designer, 38 anos

Reconectada com o próprio corpo (e com a camisinha)

Silvia Sibalde - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Silvia Sibalde
Imagem: Arquivo Pessoal

"Ser mulher não é pouca coisa. Depois de tomar pílula por dez anos, fui obrigada a parar devido a uma trombose. Quando comecei, tinha 25 anos e, naquela época, eu nem sabia que havia esta relação trombose e anticoncepcional. Eu tive alguns casos de circulação sérios na família. Minha avó precisou amputar uma perna pouco antes de morrer, minha tia-avó amputou as duas. Mas em nenhum momento isso me foi questionado em consultório ginecológico. Só descobri o problema em 2014, quando comecei a sentir uma dor muito forte na panturrilha direita, associada a um inchaço e vermelhidão. Era uma trombose. Fiquei internada por três dias tomando anticoagulante na veia, a suspensão da pílula foi imediata. Dos sintomas até o diagnóstico, se passou mais ou menos um mês. Me viraram do avesso para descobrir a causa e nada foi encontrado além do histórico familiar. Depois da internação, fiz uso direto de meia elástica [para a circulação] e um tratamento com anticoagulante por quase dois anos. Os anticoagulantes mais modernos, com menos efeitos colaterais, são bem caros. Eu gastava 250 reais por caixa. Passei a usar somente preservativo para me proteger. No começo, ficava na neura, com medo de engravidar, mas depois me acostumei porque vi que muita gente faz assim e sim, é seguro. Sem a pílula, senti algumas mudanças: desinchei para caramba, emagreci e a libido aumentou. A menstruação se regularizou naturalmente - às vezes, o ciclo atrasa ou adianta um, dois dias. Eu também voltei a sentir cólica, mas me reconectei com o meu corpo.

Silvia Sibalde, 37 anos, jornalista

Detox que trouxe bem-estar

Gisele de Santi - Alesi Ditadi/Divulgação - Alesi Ditadi/Divulgação
Gisele de Santi
Imagem: Alesi Ditadi/Divulgação

"Eu comecei a tomar pílula com 14 anos, quando comecei a namorar um rapaz. Eu nem tinha transado, mas a minha mãe achou melhor me levar em um ginecologista, que logo veio com papo de 'melhora a acne, regula a menstruação'. Eu pensei 'pô, que ótimo. Aí quando eu quiser tomar já estou protegida'. Eu tomei a vida inteira sem saber que bombas eram aquelas. Fiz algumas pausas quando não estava namorando. Mas sempre retomava. Parei em definitivo 1 ano e meio antes de engravidar do meu primeiro filho, Chico. Eu queria fazer um detox total do corpo. Me senti super bem. Não lembro de sentir alguma grande diferença. Claro, eu já era adulta, mas não tive acne e a cólica que me disseram que ia voltar, na verdade, eu acho que nunca tive. O meu ciclo foi que variou, alguns meses eu não menstruava, outras vezes o ciclo era de 30, às vezes de 40 dias. Na verdade, acho bem poético. A vida não é regrada, é cheia de surpresas e a natureza é sábia nesse sentido. Eu passei a achar legal não saber quando ia menstruar. Daí comecei a tomar ácido fólico para gravidez e logo veio Chico. Depois, nunca mais voltei para as pílulas. Fiquei dois anos me protegendo com preservativo, até que nós [ela e o companheiro, o músico Rodrigo Panassolo] partimos para a segunda gestação. Demorou um pouco mais do que planejava, eu ainda amamentava o Chico e não estava ovulando, eu não menstruava. Isso acontece com algumas mulheres. Mas agora estou aguardando Antônio. Ainda não parei para pensar como vai ser no futuro. Acredito que eu vá conversar com o Rodrigo sobre uma vasectomia, pois parece que ela pode ser revertida. Mas nada é certo ainda, porque tem gente que engravida com vasectomia, bebê que nasce com o DIU na mão, com pílula... não existe algo totalmente seguro."

Gisele de Santi, 32 anos, cantora e compositora