Brigitte Bardot tropical

Luisa Mell fala de sua demissão da TV, 10 mil bichos que resgatou, pecha de chata e apelido dado por Rita Lee

Andressa Zanandrea Da Universa
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Ela contabiliza ter salvado de maus-tratos cerca de 10 mil animais. Mas Luisa Mell diz que, na verdade, são eles que salvam sua vida. Todos os dias; mas, principalmente, no passado, dez anos atrás, quando a ex-apresentadora, hoje ativista, viveu um período horroroso -- que envolveu uma separação nada amigável do primeiro marido, que era também seu chefe, uma consequente demissão da RedeTV!, onde os dois trabalhavam, e um grave acidente de carro. Naquela época, Luisa pensou em se matar. 

Exatamente uma década depois, em agosto de 2018, um terço da história se repetiu. Agora, casada com um próspero empresário da construção civil e mãe de um menininho de três anos, Luisa -- que na verdade se chama Marina -- se viu demitida de outro canal, a Band, antes mesmo de seu programa estrear. Os outros dois terços da narrativa, no entanto, não podiam ser mais palpitantes: nesses anos, ela virou a defensora dos animais mais conhecida do país (amada e odiada), amealhou patrimônio financeiro e emocional consideráveis, e uma verve capaz de encantar Rita Lee -- que lhe deu o apelido de Brigitte Bardot dos trópicos, em referência à atriz e ambientalista francesa --, debater aborto e política de maneira madura e fazer rir, e, vá lá, muitas vezes chorar, quem escuta suas histórias e gaiatices. 

Na semana em que foi demitida, Luisa recebeu a Universa em seu apartamento em São Paulo, nos Jardins. Em meio a pãezinhos de queijo -- de queijo vegano -- arrumada com roupas, sapatos e maquiagem que não tinham, pelo amor de São Francisco de Assis, nada de seda, couro ou teste em animais, a dona do coração de 1,8 milhão de seguidores apenas no Instagram revelou uma porção de delicinhas; entre elas, a de que não mata baratas e que, nas festas, é a primeira a ficar bêbada. "Vegano é assim. Nunca tem comida pra gente, então, é só bebendo." 

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Amores, ciúmes e bois

No começo do ano, Luisa Mell foi convidada para uma reunião na TV Bandeirantes. A proposta: apresentar um novo programa. A previsão era de que as gravações começassem em julho. No dia 30 daquele mês, no entanto, veio a surpresa: foi demitida, sem ter gravado sequer o piloto da atração. O motivo alegado pela TV foi que o projeto não tinha se viabilizado comercialmente. Luisa diz que não é beeem assim. 

"Na primeira reunião, eu já tinha falado: 'olha, não sou mais uma apresentadora de televisão, e sim uma ativista. Não sei como vai ser para vocês, já que essa é uma emissora de pecuaristas'. A família Saad (dona da Band) tem grandes empresários da pecuária. Responderam que me queriam justamente por isso, porque eu tinha propriedade para falar." O contrato foi fechado. Inclusive, com uma cláusula bastante incomum no universo da TV -- a de que ela não era obrigada a fazer publicidade. 

Quatro meses depois, Luisa foi chamada para uma nova reunião na empresa. Desta vez, para ser informada de que o programa havia flopado. "Se eu tivesse uma emissora, também mandaria embora um pecuarista que fosse contra os veganos", analisa, às gargalhadas. 

E olha que coincidência: a demissão aconteceu no mesmo mês e no mesmo dia que, dez anos antes, ela havia sido "saída" do programa "Late Show", na RedeTV!. "Naquela época, quando tiraram meu programa, tiraram também meu microfone. Hoje, tenho meu microfone e ninguém o tira". A história da demissão da RedeTV! passa por amores, ciúmes, um casamento desfeito e outro, nascedouro. Luisa vivia, havia cinco anos, uma relação amorosa com um dos donos da TV, o empresário Amilcare Dallevo Júnior. E conta que, depois que se separou e envolveu-se com o galã Henri Castelli, viu o ex-marido, já se relacionando com outra mulher, Daniela Albuquerque, sua esposa atualmente, a demitir, com requintes de crueldade. 

"Fui proibida de aparecer em qualquer coisa da TV, ela (a Daniela) mandou os seguranças expulsarem minha mãe (a família de Luisa trabalhava com ela no programa) e teve mais um tanto de histórias tão loucas e tão perversas...", relembra. 

"Não teria colocado o que coloquei na TV se não tivesse costas quentes"

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Luisa x Marina

Marina tornou-se Luisa em 2001.

A avó que ela adorava, chamada Luisa, morreu atropelada em frente de casa, meses antes de a ativista começar a apresentar um quadro no programa "Noite Afora", de Monique Evans, na RedeTV!. Para esse trabalho, ela inventou o nome Luisa Mello -- em homenagem à avó --, que, mais tarde se tornou Luisa Mell. Na infância, ela vendia pão de mel pelas ruas do Bom Retiro, bairro paulistano onde cresceu, um então reduto da comunidade judaica. 

Luisa diz que seu interesse pela televisão veio por causa dos pais. José Alfredo era redator dos programas "Viva o Gordo", "Planeta dos Homens" e "Os Trapalhões", e Sandra, assessora de imprensa da apresentadora Angélica. "Eu é que sempre fazia os discursos na escola e botava todo mundo pra chorar. Adorava televisão e os bastidores."

Em família, Luisa ainda é chamada de Marina. "Mas não consigo dividir muito, aqui é a Marina, aqui é a Luisa. Não sou duas pessoas", conta. Quando era menor, o filhinho, Enzo, ficou intrigado: por que todo mundo chamava a mãe de Luisa Mell? "Um dia, ele chegou pra minha irmã e perguntou: 'tia Marcela, você também é Luisa Mell?' Achei até inteligente. E expliquei: 'não, Luisa Mell é só a mamãe, esse é outro nome que eu tenho.'"

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De onde vem o dinheiro?

Luisa é sempre questionada se ganha dinheiro com seu Instituto Luisa Mell, fundado em 2015. A resposta é categórica: nada. Além de assinar uma linha de sapatos veganos, que não levam couro (ela usa um deles na foto ao lado), a renda dela vem de investimentos antigos e trabalhos em publicidade e eventos. "Alugo imóveis que comprei há muito tempo. Meu trabalho no instituto é totalmente voluntário", explica Luisa, que não tem problema em dizer que o marido, rico, banca enorme parte da vida da família.

Boa parte dos trabalhos para os quais Luisa é convidada a fazer acaba esbarrando em suas convicções ambientalistas. "Recuso a maioria das propostas, porque as empresas fazem testes em animais, por exemplo. Outro dia, me chamaram para fazer a campanha de um carro. Achei superlegal a ideia do comercial, porque mostrava os resgates que faço, de bichos maltratados." Quando ela desligou o telefone, pensou: "será que os bancos do carro são de couro?" Ligou para a responsável pela campanha, fez a pergunta e, diante da resposta "Sim, tem um fiozinho de couro", o trabalho foi recusado. "Antes mesmo de perguntar o cachê", informa.

No instituto, os diretores não recebem salários. Segundo Luisa, os únicos remunerados são os 23 funcionários, veterinários, enfermeiros e tratadores. A maioria da renda vem de doações de pessoas físicas e das vendas da lojinha da instituição, que conta também com uma versão online. 

Fazer parcerias com empresas, segundo Luisa, não compensa. "Chegam as propostas mais indecentes do mundo. A pessoa quer que eu faça todas as propagandas e que eu trabalhe de graça para ela",diz Luisa, explicando que, por mês, os gastos na instituição ficam na faixa de R$ 200 mil; dinheiro que cobre apenas salários, ração e medicamentos.

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"Me chamaram para fazer a campanha de um carro. Perguntei se os bancos eram de couro. Aí a pessoa me fala que, sim, tem um fiozinho. Falei: 'putz, então não posso fazer'. E ela: 'parabéns, nunca vi alguém fazer isso, e nem perguntou o cachê.'"

Luisa Mell

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A carga pesada de Luisa

Por causa de sua atuação na defesa dos animais, Luisa invariavelmente se vê envolvida em questões políticas -- e espúrias -- do país. Como regra geral, briga muito, escuta insultos, descobre novos descalabros parlamentares e, infelizmente, consegue parcos resultados.

Sua mais recente participação nesse universo é a briga para que seja proibido o transporte de animais vivos; prática, segundo Luisa, que maltrata especialmente bois. Os bichos, ela conta, são amontoados em caminhões e navios por horas, levam choques, por vezes, caem no mar e, durante as viagens, o que é ração e fezes, vira a mesma coisa.

"Os deputados que são contrários ao fim dessa política têm benefícios diretos com ela. O vice do João Doria (ao governo de São Paulo, deputado Rodrigo Garcia, do DEM), que fala que o nosso projeto é um absurdo, é um dos maiores exportadores de carga viva. Eu fico pensando como que um cara, que deve ter filhos e que mora nesse país quer envenenar nossa comida, nosso solo, nossa água", ataca Luisa. 

Em fevereiro deste ano, cerca de 25 mil bois foram embarcados no Porto de Santos com destino à Turquia, após um embate que envolveu o Tribunal Regional Federal e a Advocacia Geral da União. Os ativistas, Luisa Mell incluída, denunciaram que os animais sofriam violências físicas e estavam em condições precárias de higiene.

Na sequência, o deputado Feliciano Filho (PRP) apresentou na Assembleia Legislativa, o Projeto de Lei 31, que ficou conhecido como o "PL dos Bois", que visa a impedir o embarque de carga viva no Estado. Houve parecer favorável em algumas comissões e o projeto seguiu para votação no começo de julho. Porém, durante três semanas, as votações foram adiadas, até que decidiu-se adiá-las para depois das eleições presidenciais. "O transporte de carga viva continua acontecendo porque, desse modo, os pecuaristas não pagam impostos aqui", denuncia Luisa.

Luisa Mell estava entre os muitos ativistas que marcaram presença ferrenha na assembleia. "Me envolvi num pau porque um deputado falou: 'essas pessoas que ficam falando nas redes sociais vão ter benefícios próprios, para seus próprios institutos'. Eu quase fui expulsa (da assembleia), porque comecei a gritar: 'agora você vai provaaaar o que está falaaaando!!'. Eles medem os outros pela sua própria régua."

Três vezes por semana, durante seis semanas, os ativistas foram à assembleia para pressionar os deputados. Mas, segundo Luisa, foram feitas manobras, como emendas e falta de quórum, para evitar que o projeto fosse votado.

Agora sou a inimiga número 1 dos deputados. Só porque eu mostrei que não tinha ninguém trabalhando numa quarta-feira. Eles podem votar não, têm o direito de ser contra. Agora, não votar? Fazer as manobras mais imundas, por quê? Mesmo os que falam que estão nos apoiando, na verdade não estão; ficam jogando para não se comprometer. Para não perder voto daqui nem o dinheirinho de lá."

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Mais política? Sim, é preciso

Outros dois rounds políticos foram travados e perdidos por Luisa. 

Um deles aconteceu por causa do que os ambientalistas chamam de PL do Veneno. O Projeto de Lei 6299/02, defendido pela bancada ruralista da Câmara dos Deputados, propõe mudanças -- na visão dos ativistas, flexibilizações --, na fiscalização e no controle de agrotóxicos no Brasil. O projeto foi aprovado numa comissão especial da Câmara, mas ainda precisa passar pelo plenário.

"O relator desse projeto é dono de duas empresas de agrotóxicos. Preciso ainda falar alguma coisa sobre o assunto?"

Luisa também se envolveu no movimento ambientalista que, há cerca de dois anos, pedia o fim das vaquejadas. Em festas bastante comuns no Nordeste, dois vaqueiros montados a cavalo têm de derrubar um boi, puxando-o pelo rabo. Depois de embates entre defensores e críticos da vaquejada, em 2016, o presidente Michel Temer reconheceu a atividade como patrimônio cultural imaterial. 

"Desde quando massacrar um inocente é cultura? O que a gente faz com os animais norteia toda a nossa sociedade. Quem é agressivo com os animais também o é com mulheres. Nos lugares onde esses esportes são comuns, também a violência com a mulher é mais alta; com assassinatos, inclusive. Como pode alguém aplaudir um cara que sobe num cavalo, às vezes um bebê, e quebra o pescoço dele?", se horroriza Luisa.

"Fui para Brasília, para tentar falar em uma audiência pública, mas não consegui. Fui xingada e tive que me proteger com seguranças porque queriam me bater." 

Luisa conta que, alguns anos atrás, foi convidada por Paulo Skaf (MDB), hoje, candidato ao governo de São Paulo, para entrar na política. E não topou. "Tenho horror à política. É assustador, nojento, vergonhoso", diz ela. No que se refere às próximas eleições presidenciais, ela conta que Marina Silva (Rede) a chamou "para conversar" e que pretende visitar seu instituto. "Já o Bolsonaro, anunciou que vai juntar a pasta do Meio Ambiente com a da Pecuária, aquela que destrói a Amazônia. Uma coisa maluca." 

"Tem gente que fala que só defendo os animais porque quero ser política"

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Vegana: da beleza à mesa

Tornar-se vegano não é algo que acontece da noite para o dia. Quem se interessa pela onda, geralmente, começa cortando a carne vermelha. Depois, abandona outras carnes, os demais derivados animais, deixa de usar cosméticos de empresas que fazem testes em bichos, bem como de adquirir roupas, sapatos, móveis e até carros que contenham, por exemplo, couro. Foi assim com Luisa.

A carne foi o mais fácil de tirar, porque nunca gostei, e é evidente que ali é um bicho morto. Mas o leite e o ovo foi difícil. A vida muda totalmente. Quem não gosta de ir a uma festa e comer os doces? Eu já sei que vou à festa e só vou beber. O vegano é o primeiro a ficar bêbado porque nunca tem comida pra ele."

Quando se tornou vegana, Luisa parou de comprar peças de couro e seda. Mas não se desfez delas imediatamente. "Quem é que joga todo o armário fora? É impossível, e também não é muito ecológico. Não tenho nada de couro há muito tempo, mas vez ou outra acho uma blusinha de seda. Comecei a tirar faz dois anos e ainda tem." O mesmo ocorreu com o mobiliário de seu apartamento. "Meu marido já morava aqui, então tinha alguns móveis com couro. Troquei tudo, consegui transformar a casa inteira." 

O veganismo faz com que a ativista seja tachada de mala por muita gente. "Até eu às vezes falo 'ai, lá vem a chata'. Sou sempre aquela que vem implicar com alguma coisa. Estou sempre causando. Não é fácil nem para mim."

E a mecânica acontece até mesmo em momentos de diversão com o filho, quando Luisa vê algo que a incomoda e posta no Stories. "Já fui a festa infantil que tem aquelas animadoras desgraçadas, que trazem pato, coruja e outros bichos. Tinha também um lugar que os famosos levavam os filhos para ter contato com animais exóticos. Quando soube, liguei para o Ibama. Eles foram lá e fecharam o local."

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E beleza sempre ajuda

Luisa não tem vergonha de usar a beleza para aumentar seu poder de atuação. "Uso todas as minhas armas. Tenho uma coisa muito importante para falar."

Antigamente, a visão de protetora de animais era aquela mulher largada, feia, encalhada, que está se dedicando aos animais porque não tem família nem marido. Isso foi por muito tempo um estereótipo, uma coisa horrorosa e mentirosa. Eu vim para mostrar justamente o contrário."

E a ativista é, sim, vaidosa. "Não é porque amo os animais que estou sempre maloqueira, não me arrumo ou não passo maquiagem. Você pode acreditar num mundo diferente e não abrir mão dessas coisas. Dá para ter um sapato bonito vegano, uma maquiagem e uma tintura incrível."

Por causa de suas ações, Luisa é reconhecida por organizações ambientalistas importantes. Caso da PETA, por exemplo, com quem fez uma campanha, para pedir que os brasileiros não frequentem mais o parque SeaWorld, nos Estados Unidos. "Mas não tenho muito isso de querer o reconhecimento de outras ONGs. Vale muito mais você falar que virou vegetariana por minha causa. Nossa, eu choro. É esse troféu que eu busco."

"Não é porque sou vegana que não me arrumo ou não passo maquiagem"

Os resgastes mais emblemáticos

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Guilherme Samora/Divulgação Guilherme Samora/Divulgação

A bênção de Rita Lee

Rita Lee, que há décadas grita pelos direitos dos animais, é um dos maiores ídolos de Luisa. As duas se aproximaram quando a cantora pediu para conhecer o instituto de Luisa. Rita assina a orelha da autobiografia da ativista e lhe deu a alcunha de Brigitte Bardot tropical. 

Toda vez que eu a encontro, pareço retardada. É um ídolo muito forte para mim, em todos os sentidos. Há quanto tempo ela já fala de prazer feminino e empoderamento? Foi a primeira mulher a peitar os grandes poderosos e falar dos animais. E a primeira artista e uma das únicas que se levantou contra rodeio."

Luisa diz que não tem a "ousadia" de dizer que elas são amigas. "Nossa relação é de profundo amor, respeito e gratidão por tudo o que ela é, pelo apoio e carinho que tem com meu trabalho." Ela relembra quando Rita foi ao instituto, em dezembro do ano passado: "A relação dela com os bichos tem outro patamar. O respeito, a profundidade. Era uma entidade ali. E o mais bacana é que ela é tão grande e, ao mesmo tempo, tão humilde."

Aquele momento foi considerado muito especial pela ativista. "É diferente de um monte de gente que vai ajudar meu trabalho e posa para a foto. Ela estava vivendo aquilo, gostando, se realizando. Os animais estavam doentes, ela passava e meio que abençoava. Falei para o pessoal: 'gente, vocês não viram São Francisco hoje por aqui? Eu vi; ele estava junto com ela'. Era uma coisa muito sagrada." 

Caetano Veloso é outro cantor que Luisa admira. Ela teve a oportunidade de conhecê-lo quando Paula Lavigne, de quem é próxima, a convidou para um encontro em sua casa. "Vi uma brechinha, peguei meu livro e perguntei por que ele não era vegetariano. Sou muito cara de pau." 

Famosos ao lado de Luisa na causa animal

  • Whindersson Nunes e Luisa Sonza

    "Adotaram uma cachorrinha, que destrói toda a casa deles. E eles amam a cachorra." Na foto, o casal -- que é contra a compra de animais -- com Regina Casé de Alcione Vekanandry Smith Bueno de Hahaha de Raio Laser e Amora, também adotada.

    Imagem: Reprodução/Instagram/@luisasonza
  • Lucas Lucco

    "Na madrugada, logo após o resgate dos 135 cachorros em Osasco, recebi um áudio dele. Fazia um ano que eu tentava fazer camisetas com alguma marca, mas sempre na última hora as pessoas davam pra trás. O Lucas disse que queria fazer as peças. Lançamos cinco dias depois."

    Imagem: Yuri Sardenberg/Divulgação
  • Evelyn Regly

    "A Evelyn, que é youtuber, foi ao instituto e também adotou um cachorro, o Pernalonga."

    Imagem: Reprodução/Instagram/@evelynregly
  • Laura Neiva

    "Muito fofa. Foi ao instituto e adotou um cachorro velhinho, superferrado. Uma querida."

    Imagem: Marcos Ferreira/Brazil News
  • Larissa Manoela

    "Ela foi a uma das feiras de adoção que promovemos e adotou Vitória Regina, uma cachorra vira-lata adulta."

    Imagem: Reprodução/Instagram
  • Anitta

    "Levamos quatro cachorros ao hotel em que ela estava. Ela não conseguiu escolher só um e adotou logo dois."

    Imagem: Reprodução/Instagram/Luisamell
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Depressão e pensamentos de morte

Depois de ser demitida da RedeTV!, em 2008, Luiza ficou deprimida. E pensou em se matar. Mas diz que os cachorros labradores Marley e Gisele, que ela conta ter "sequestrado" do heliponto da casa do ex, a salvaram do suicídio. A troca de amor entre Luisa e os bichos tomou um fôlego tão definitivo, que a inspirou a escrever a autobiografia "Como os Animais Salvaram Minha Vida".

Pensava na morte o tempo inteiro. Acordava e falava: 'não acredito que estou viva'. Pedia muito a Deus para morrer. Quando andava de avião, pensava: 'ah, podia cair.'" 

Para o provérbio que diz que "quando Deus fecha uma porta, abre uma janela", Luisa tinha sua própria versão: "Nossa, pra mim ele fecha a porta, a janela e passa o cadeado'. Hoje, encaro a vida com mais leveza; nada é tão sério que não tenha solução. A exceção é a morte, claro. Se não tivesse me acontecido tudo isso, eu não teria me motivado a virar quem eu virei". 

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Um marido bom pra cachorro

Casada com Gilberto Zaborowsky, 56, desde 2011, após três anos de namoro graças a um encontro arranjado por um rabino, Luisa diz que o amor do marido por ela ainda a emociona. "Principalmente, quando vejo o quanto ele se transformou. Ele é um homem de posição social mais alta, mas hoje você o vê de camiseta, trabalhando nas minhas feiras. Ele vai até em passeata."

Foi graças a uma manifestação que o empresário ficou sabendo quem era Luisa. Ela estava em frente ao consulado da China em São Paulo, em um protesto contra o uso de peles de animais. A rua do consulado era a mesma do escritório de Zaborowsky. "Ele diz que falou assim: 'ah, esse povo não tem nada para fazer e não deixa a gente trabalhar'. As mesmas coisas que os meus inimigos hoje falam de mim. Anos depois, estava comigo em uma manifestação na Paulista. É maravilhoso fazer parte da mudança de uma pessoa que eu amo tanto."

Na primeira vez que Zaborowsky convidou Luisa para viajar, para o sítio de sua família, chamou também os dois labradores dela. Ela, claro, se apaixonou. "Ele já havia conhecido a minha família, na primeira semana em que estávamos juntos. Fomos ao Centro de Controle de Zoonoses, às 8h da manhã, para fazer um evento de adoção. Falei pra ele: 'olha, isso aqui sou eu, essa aqui é minha vida. Quer? Certeza?'"

A ativista diz que o marido também é responsável por mudanças na sua vida -- principalmente pela chegada à maturidade de forma gostosa. "Eu era menininha e, com ele, virei mulher. Essa troca é maravilhosa."

Quando ficou grávida, Luisa foi duramente criticada por ter não só seguido a dieta vegana, como por tê-la estendido ao bebê. E Enzo, claro, já é um miniativista. "A professora virou vegetariana por causa dele. E a babá falou que não sabe mais o que fazer, já que Enzo pede que ela deixe de comer peixes porque eles estão acabando", conta Luisa, que garante explicar ao filho que ele precisa "lidar com o diferente" -- como os amiguinhos de escola que comem carne. 

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A chegada aos 40

Por conta dos perrengues que passou nos últimos dez anos, Luisa ganhou fama de chorona e escandalosa. Hoje, prestes a fazer 40, ela faz uma reflexão e conta o que diria para a Luisa de 30 anos:

"Não chora, menina. Não vai se matar nada, tem tanta coisa ainda para você fazer. Calma, continua acreditando, lutando, não desiste", diz. Ela diz que fazer a autobiografia foi um importante processo de amadurecimento. "Foi sofrido, chorei muito. Brincava que era escrevendo e cagando, porque tenho síndrome do intestino irritável. Escrevia e ia ao banheiro. Foram meses assim."

Eu falava: isso aconteceu, foi horrível, mas se não tivesse acontecido, não seria quem eu sou hoje. A vida tem sentido, mesmo as coisas ruins dela." 

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Encontro com Deus

Luisa cumpre à risca alguns rituais da religião judaica, como a Pessach (páscoa) e o ano-novo. "Faço o Shabbat toda semana, acendo as velas, rezo e comemos a Challah (um tipo de pão trançado). O jejum do Yom Kipur, que é o dia do perdão, é um momento sagrado pra mim. É um dia para se perdoar, perdoar os outros e pedir perdão; o que às vezes é superdifícil."

A ativista também estuda a cabala e, por isso, esteve em contato com Madonna. A cantora mandou um e-mail para ela pedindo doação para o Malaui e as duas estiveram em encontros da cabala nos Estados Unidos e em Israel. 

A conexão de Luisa com a religião é tão forte que ela imagina o encontro com Deus, no dia de sua morte. "Fico emocionada porque eu sempre penso nisso. Acho que Deus vai falar assim: 'parabéns, você cumpriu sua missão.'" 

Aborto: questão delicada

Recentemente debatido no STF (Supremo Tribunal Federal), aborto é um tema difícil para Luisa. "Eu nunca faria. Sou muito religiosa, acredito numa alma que já veio, é uma coisa muito séria. Mas ao mesmo tempo, não dá para fechar os olhos para uma realidade que acontece. As pessoas fazem aborto. E morrem. São mulheres pobres, fazendo abortos em lugares horríveis. E o que isso gera de morte e de dinheiro sujo..."

Por conta disso, Luisa defende a descriminalização. "Você tem que pensar nessa questão não só pela sua filosofia pessoal. Eu sou absolutamente contra o aborto, mas não posso ser absolutamente contra a descriminalização, porque a questão não depende só de mim. Tem mulheres que morrem todos os dias."

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"Acho que ninguém tem que abortar. A gente devia investir na educação, que é o que falta para o país melhorar. Mas a gente tem um problema urgente, que são pessoas morrendo todos os dias por causa de uma filosofia de vida minha e de outras pessoas. É um problema de saúde pública."

Luisa Mell

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