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Cátia Damasceno: "Transformei o tabu do sexo em um negócio que dá dinheiro"

Cátia Damasceno está em cartaz com a peça "O que pode dar errado na cama?" - iStock
Cátia Damasceno está em cartaz com a peça "O que pode dar errado na cama?" Imagem: iStock

Talyta Vespa

Universa

11/06/2019 04h00

São 4,3 milhões de inscritos no canal do YouTube e quase 2 milhões de seguidores no Instagram. O negócio que começou numa sala de estética, em que eram dadas aulas de "ginástica íntima" para grávidas tornou-se o ganha-pão, geleia, suco, leite etc da fisioterapeuta e sexóloga Cátia Damasceno. Além da mega atividade nas redes, ela está em cartaz com a peça "O que pode dar errado na cama?" e também ministra cursos de pompoarismo para mulheres. "Dá para ganhar dinheiro com sexo sem se prostituir", diz, Cátia, meio na galhofa.

Filha de pai militar e mãe religiosíssima, a brasiliense de 40 anos reprimiu a sexualidade até a vida adulta. "Quando menstruei, achei que tinha machucado a vagina e que o absorvente era um curativo gigante". Por isso, faz tudo diferente no que diz respeito à educação sexual dos filhos. "Sou mãe de quatro. Aos que já namoraram, dei camisinha. Ensinei até os amigos do meu filho a colocarem preservativo em uma banana".

Você diz que teve a sexualidade reprimida durante a infância e adolescência. Quando ficou dona do seu desejo?
Depois que me separei. Quando eu era pequena, ninguém falava de sexo comigo em casa. Tanto que, quando menstruei, achei que tivesse me machucado brincando no parquinho. O absorvente que me deram, achei que era um curativo gigante. Todo mundo começou a me dar parabéns e eu só conseguia pensar: "Parabéns pelo quê, meu Deus? Eu estou machucada e as pessoas me parabenizando". Me casei com meu primeiro namorado e ele contribuiu muito para a minha baixa autoestima. Depois que tive filhos, ele dizia que eu era feia e que, por isso, ninguém iria me querer além dele.

Qual a proposta mais absurda que você recebeu desde que começou o canal?
Já fui pedida em casamento, o que foi bem engraçado. Os comentários normalmente são positivos, mas têm também os haters. "Como uma velha dessas pode falar de sexo na internet?", é o que eles mais gostam de dizer. Também falam que eu devo rezar, encontrar Deus e parar de falar sobre sexualidade. E eu fiz muito isso, viu? Quando comecei a trabalhar com prazer sexual, rezava todos os dias e pedia perdão a Deus. Achava que era pecado.

Falar de sexo dá dinheiro?
Super dá para ganhar dinheiro falando de sexo e não preciso me prostituir para isso. Trabalho com cursos online, estou em cartaz com a peça, o canal e faço palestras em eventos. Transformei o tabu do sexo em um negócio que dá dinheiro. Esse ano também termino meu livro sobre sexualidade. Mas, além disso, sou mãe de quatro, os levo à escola, busco, faxino a casa e sou esposa.

O que fazer para o relacionamento não cair na rotina?
Pessoalmente, diferencio intimidade de privacidade. Intimidade é dormir pelado abraçadinho e conversar sobre tudo. Privacidade é fazer xixi e cocô de porta fechada. Essa coisa de soltar pum na frente do parceiro é péssimo para o tesão. Outra coisa importante é inventar, buscar uma opção diferente para o sexo, uma lingerie, um brinquedinho, assistir a vídeos sensuais juntos. Para não cair na rotina é preciso que os parceiros se insinuem para o outro, como se tivessem acabado de se conhecer. Ah, e muito importante: só transar com vontade; nunca por obrigação.

Sua peça se chama "O que pode dar errado na cama?". Então, o que pode dar errado na cama?
Sexo anal pode, literalmente, dar merda. Meu conselho é: se quiser brincar, esteja disposto a sofrer as consequências dessa brincadeira. Não vai com a expectativa de que vai sair ouro porque não vai. Outra coisa que dá errado é tentar penetrar sem a mulher estar lubrificada. Não dá certo, gente, é tipo descer um toboágua sem água. Tem que ter preliminar. Por fim, algo que nunca me avisaram — e eu adoraria que o tivessem feito: transar depois do parto faz com que vaze leite do peito.

Você gravou um vídeo com Ítalo Ventura, coach de relacionamentos, e a repercussão foi negativa. Não acha que ensinar mulheres a conquistar homens está um pouco ultrapassado?
Se tivesse ultrapassado, o povo não estaria assistindo na internet até hoje. A gente conquista o outro desde que o mundo é mundo. Não concordo com algumas coisas que ele diz, como que o sexo é recompensa, mas gosto de outras, das técnicas de sedução, por exemplo. Para mim, o sexo tem que ser tratado exatamente de forma oposta: se os dois sentirem tesão, têm que transar com vontade. "Ah, mas o que ele vai pensar de mim?". Minha filha, há meia hora ele nem te conhecia, dane-se o que ele vai pensar.

Você diz que sua mãe nunca falou sobre sexo. E agora, ela assiste aos seus vídeos?
Sim, ela sai falando para todo mundo: "Minha filha está na internet". Em maio, participei do programa do Ronnie Von e ela pediu que eu dissesse que ela gosta dele desde quando era jovem. Quando comecei a trabalhar nessa área, passamos a falar de forma mais aberta sobre sexo. Minha mãe tem 80 anos e eu a ensinei pompoarismo porque ela estava com incontinência urinária. Falei: "Mamãe, papai morreu e você não está treinando essa pepeca. Então, vamos fazer ginástica íntima". Há pouco tempo, ela me disse: "Filha, nunca mais fiz xixi na calça graças a você".

Na série "Sex Education", há uma mãe sexóloga que deixa o filho mega constrangido. Com você acontece a mesma coisa?
Não. Eu me identifiquei com ela, mas meus filhos tiram meu trabalho de letra. Eles falam para os amigos que a mãe é youtuber e eles piram, independentemente do tema sobre o qual eu falo. Até as mães deles pedem que eu dê palestra sobre sexualidade no colégio, acredita? Um dia, recebi os amigos de um deles em casa e eles perguntaram tudo. Aí falei: "Vocês já sabem colocar, camisinha?". "Sim, tia!".Então pedi que colocassem o preservativo em uma banana para eu ver se estava certo. Morreram de vergonha, mas colocaram — errado, obviamente. Ensinei o jeito certo e todos nos divertimos.

Como aulas de ginástica íntima para grávidas se transformaram em um canal no YouTube seguido por 4 milhões de pessoas?
Eu sou formada em fisioterapia e pós-graduada em saúde perinatal. Meu trabalho com as gestantes era de preparação para o parto. Eu tinha uma clínica de estética, com day spa e fisioterapia e, um dia, recebi uma noiva que disse: "Cátia, soube que esse exercício que você passa para as grávidas é um tipo de pompoarismo. Me ensina?". E eu pensei: "O músculo é o mesmo, se dá para usar para ganhar neném, dá para usar para ganhar orgasmo". Ela chamou três amigas e eu dei o curso para elas. No mesmo dia, uma mulher me ligou perguntando quando seria a próxima turma. E, nessa hora, me deu um estalo de que isso era um negócio. Não parei mais. O boca a boca foi tão grande que decidi criar redes sociais para divulgar o trabalho.

O que o pompoarismo, na prática, mudou no seu sexo?
Meu orgasmo ficou mais intenso e longo. E não só isso: como não sou das mais bonitas, além de legal eu decidi que tinha de ser boa de cama. E o pompoarismo faz isso. Quando me separei e comecei a transar com outros homens, eu via que eles sempre me ligavam depois do sexo e eu sabia que era porque eu mandava bem. Tudo graças ao pompoarismo. Isso contribuiu muito para que eu levantasse minha autoestima.