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Amor obsessivo: veja sinais de que a relação deixou de ser saudável

Não era amor, era cilada? - Getty Images
Não era amor, era cilada? Imagem: Getty Images

Roberta Figueira

Colaboração para a Universa

06/03/2019 04h00

Você conheceu alguém e de cara já sentiu uma conexão. Logo veio a curiosidade de saber mais sobre essa pessoa.

Deu aquela fuçada nas redes sociais, descobriu o que ela faz, lugares que frequenta, viu alguns amigos, achou "provas" de um relacionamento passado, partiu para o perfil da possível ex e, quando percebeu, tinha passado horas vasculhando a vida do seu objeto de desejo.

Essa história não é tão difícil de imaginar. Isso por que é normal querer conhecer melhor o outro quando estamos iniciando um relacionamento ou até mesmo antes de embarcar em um. Porém, é preciso ficar atenta para saber se esse interesse não está passando do limite.

"A curiosidade faz parte de todos nós, mas quando isso se torna obsessivo ao ponto de alguém precisar saber cada detalhe da vida do outro e de acompanhar todos os passos, já configura uma doença", defende a psicanalista Tatiana Ades.

E isso também vale para a dinâmica dentro de um relacionamento. Sabe aquela coisa de ficar acompanhando todas as atualizações do namorado, querer saber as senhas e ficar buscando indícios de que ele saiu da linha ou não a ama mais como antes? Isso pode ser um sinal de que a relação não está saudável.

Um comportamento obsessivo é tudo aquilo que leva a pessoa a ficar pensando exageradamente sobre algo, quando sua vida gira em tono disso, como um vício. É uma questão que toma a mente de forma que outras coisas que eram importantes antes se tornam coadjuvantes,

A afirmação é da psicóloga Daniela Faertes, criadora do setor de amor patológico da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.

Quando a relação começa a apresentar essas características, é bom perceber se o relacionamento não está trazendo prejuízos para outras áreas da vida.

"Claro que, quando estamos no auge da paixão, tendemos a pensar só no ser amado, mal dormimos, não sentimos fome, o coração dispara etc. Mas, com o tempo, isso tende se 'normalizar'. Porém, em alguns casos, isso não acontece", explica a psiquiatra Monica Zilberman, pesquisadora de obsessão amorosa e ciúme excessivo.

Segundo a especialista, em situações assim o comportamento da pessoa se assemelha a de um dependente químico, ela não consegue pensar em nada além de seu objeto de desejo e é capaz de qualquer coisa para estar próximo do amado.

Amor patológico

O amor é definido pelo dicionário como sentimento que impulsiona ao belo, digno ou grandioso, como grande afeição que une uma pessoa a outra, como apego ao que proporciona prazer, como desejo intenso de possuir, entre outras coisas. Mas sabemos que, na vida real, ele é ainda mais complexo e pode até virar doença.

Segundo a psicoterapeuta Eglacy Sophia, autora do livro Como lidar com o Amor Patológico, isso acontece quando há o comportamento de cuidar dos interesses do parceiro de maneira excessiva e sem controle.

Apesar de esse quadro existir bem antes da internet, Eglacy acredita que as redes sociais, muitas vezes, acabam instigando ainda mais o ciúme, o medo da perda e a insegurança de pessoas com amor patológico. "No amor saudável, existe o respeito pelo limite do outro, não há necessidade de controle.

Já no patológico, existe um jogo de poder e o controle obsessivo. O ciúme acaba aparecendo e, em muitos casos, até uma paranoia em relação à traição. Esse tipo de amor é um vício, que pode levar a quadros graves de depressão, pânico e crises de ira", completa Tatiana.

As origens do problema, de acordo com Monica, estão na forma como se desenvolveram as primeiras relações da pessoa.

Muitas vezes, os pais, ou cuidadores, não eram disponíveis emocionalmente de forma consistente. A criança então tende a desenvolver ansiedade de separação, pois não tem confiança de que o cuidador estará disponível caso ela precise, dificultando o desenvolvimento da autoconfiança e autoestima

Principais sinais

  • Necessidade de controle das atividades e do pensamento do parceiro. O outro se torna o centro de tudo, quer estar junto o tempo todo, saber cada passo do outro e controlar sua vida, como amizades, trabalho e participação em redes sociais.
  • Insatisfação e insegurança com o relacionamento. Medo de abandono, excesso de possessão, ciúme e pode chegar a paranoia.
  • Intensa dedicação ao relacionamento. O outro se torna mais importante que qualquer coisa, filhos, família, trabalho, dinheiro, amigos, tudo.
  • Idealização do outro e do relacionamento. É comum ideias como "fomos feitos um para o outro"; "nossa conexão é total"; "eu adivinho seus pensamentos e ele adivinha os meus"; "se eu não ficar com ele, nunca mais conseguirei ser feliz na minha vida."
  • Sintomas físicos, como taquicardia, dores musculares e insônia, quando está longe ou brigada com o parceiro.
  • Aparecimento de problemas emocionais como depressão e ansiedade e, nos casos mais graves, pode chegar a pensamentos suicidas e/ou homicidas ou até tentativas nesse sentido quando sentem que vão perder a pessoa amada. É comum sentir muita raiva, tanto do parceiro quanto de si mesma.
  • Abandono de seus próprios interesses e das atividades normais do dia a dia. Falta de foco e de interesse por tudo que não envolve o parceiro.
  • Autoestima extremamente baixa, sensação de falta de identidade e vazio constante.

Tratamento

O processo terapêutico é essencial para identificar a patologia e entender o caso. Segundo Tatiana, o tratamento para doentes de amor é parecido com o de viciados em álcool e outras drogas. Existem inclusive grupos anônimos como o CODA (Co-dependentes anônimos) e o MADA (Mulheres que amam demais).

Muitas vezes é necessário o uso de medicamentos para quadros depressivos ou de transtorno de ansiedade para controlar a impulsividade e as oscilações de humor. "Meditação, atividade física e técnicas de relaxamento também são importantes para fortalecer a autoestima, reduzir a ansiedade e melhorar a autodeterminação", aconselha Monica.