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Novo jeito de vender pornô está ajudando mulheres jovens a pagar as contas

Foxie, 27, é modelo e tem usado sites como Patreon e CelebTV para vender conteúdo adulto - Arquivo Pessoal
Foxie, 27, é modelo e tem usado sites como Patreon e CelebTV para vender conteúdo adulto Imagem: Arquivo Pessoal

Jacqueline Elise

Da Universa

22/02/2019 04h00

Cansadas de se deparar com o mesmo tipo de pornografia sempre --que muitas vezes envolve a depreciação da figura feminina nos filmes--, as mulheres têm buscado formas novas de encontrar conteúdo adulto que contemple seus prazeres. Mas elas não são somente consumidoras: muitas também produzem entretenimento sexual para ganhar dinheiro, material que nem sempre se encontra nos sites pornô. E isso tem ajudado muitas a se sustentar.

As novas plataformas que modelos e atrizes pornô encontraram, como o Patreon, funcionam com financiamento pessoal: o produtor de conteúdo disponibiliza "pacotes" de benefícios no site para as pessoas assinarem. Cada pacote possui um valor: quanto mais caro ela paga, mais conteúdo exclusivo é liberado. No OnlyFans e CelebTV, outras plataformas que funcionam de jeito parecido, por exemplo, as assinaturas mensais são fixas, e dão acesso a todo conteúdo postado pelo produtor.

A modelo Foxie, 27, de São Paulo (SP) é uma dessas produtoras. Ela já tinha curiosidade pelo meio "exibicionista", como costuma chamar, e decidiu criar uma conta no Instagram para postar suas fotos mais ousadas quando descobriu que daria para fazer de outra forma que lhe renderia mais, usando o Patreon, o OnlyFans e o CelebTV.

"Um amigo fotógrafo, que já trabalhou com modelos nos EUA, me falou sobre esse mercado fora do país. Eu amadureci a ideia e, há mais ou menos oito meses, entrei no ramo", conta. Hoje, ela vende fotos e vídeos em pacotes, com diferentes preços, que vão de US$ 5 a US$ 100. 

"Pagando o pacote mais barato, eu disponibilizo fotos e vídeos de lingerie, mais leves. Os mais caros já envolvem conteúdo de masturbação e uso de brinquedos de sex shop. Estou sempre buscando novas maneiras de expandir esse trabalho para além do Brasil", explica Foxie. Entrar no meio tem ajudado a pagar as contas e com a mensalidade da faculdade, apesar de não pretender continuar nisso por muito tempo. "Também já iniciei muitas pessoas que estavam precisando de dinheiro".

Vanellope, 20, de Belém (PA), também segue o mesmo caminho: "Eu comecei ano passado quando 'perdi' meu sugar daddy, que era o homem que me ajudava a me sustentar. Um amigo me explicou mais ou menos como tudo funcionava e eu fui atrás". 

Mulheres do pornô migrando para outras plataformas - Vanellope, modelo de sites adultos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Vanellope encontrou nos sites de financiamento voluntário uma forma de pagar as contas
Imagem: Arquivo Pessoal

"O Patreon é para os fãs da modelo que sentem vontade de apoiar o trabalho dela, e isso é ótimo porque é uma renda extra que ajuda demais. Eu prefiro sites que realmente ajudam a modelo e não cobram taxas absurdas. O CelebTV é um dos melhores", diz. Ela notou, nos últimos tempos, um aumento no número de meninas que estão aderindo a essas plataformas. "Chega a ser assustador como tantas começaram do nada".

Com tanta adesão nos últimos tempos, Vanellope vê um potencial grande de mudar a cara da pornografia fazendo conteúdo autoral e financiado espontaneamente. "Essa nova era do pornô ajuda meninas como eu a pagar as contas. Podemos criar nossas regras e fazer somente o que gostamos. Não trabalhamos para ninguém além de nós mesmas".

Para entrar nas plataformas e ficar nelas é preciso empenho

As duas modelos ressaltam que, pelo fato dos sites serem internacionais, é exigida uma série de documentos para evitar fraudes. "Eles fazem um cadastro muito minucioso para evitar perfis falsos. Pedem comprovante de residência, documentos com foto, esperam a aprovação bancária, o que dá um certo trabalho para entrar, mas compensa pela segurança", relata Foxie.

Vanellope diz que o mais complicado não é entrar, mas continuar a fazer esse trabalho. "Eu comecei com uma amiga que desistiu logo no começo. Não é tão fácil e tão simples quanto eu pensava que seria, pois preciso produzir um grande volume de conteúdo", diz. Ela conta que chega a trabalhar só com isso, inclusive vendendo fotos e vídeos via WhatsApp, Snapchat, Twitter e Instagram. 

Censura nas redes sociais ainda é forte

As modelos contam que encontram muita dificuldade em manter presença nas redes sociais com o tipo de publicações que fazem: o que poderia ser usado para angariar mais fãs e, consequentemente, mais clientes, acaba ficando mais difícil por conta do tipo de conteúdo que é permitido.

"O Instagram, por exemplo, derruba muitas contas por nudez. A maioria de nós já perdeu contas com mais de 3 mil seguidores por conta disso. Hoje, o Twitter é bem menos restrito: lá, podemos postar vídeos mais explícitos e fotos sem censura", afirma Foxie. Vanellope diz que já teve sua conta do Instagram deletada cinco vezes.

A modelo Raquel Ruiva, 26, entrou no meio porque ainda não arrumou emprego na área na qual se formou. Ela prefere usar as redes sociais para vender fotos e vídeos eróticos seus e de seu noivo, mas criou alguns truques para não ser banida dos sites.

"Precisa saber conquistar seu cliente sem mostrar nada além do permitido. Por conta da censura das redes, vendi muito menos, perdi muitas contas no Instagram. É bem complicado, mas ainda dá para vender", conta. Para isso, ela posta fotos menos explícitas nas redes e mantém o conteúdo sem censura nos sites de financiamento, além de enviar por mensagens privadas das redes e pelo Whatsapp.

Opinião alheia ainda é negativa

As mulheres relatam sofrer muito julgamento. "Hoje, a única dificuldade que eu enfrento é com o preconceito. Não é fácil contar com o que eu trabalho. As pessoas logo presumem que eu sou burra, que não tenho nenhuma chance com um emprego sério, por isso tenho tanto medo em mostrar meu rosto", diz Vanellope.

Mas, mesmo tendo que lidar com estereótipos e preconceitos relacionados às suas atividades, elas veem nessa alternativa uma chance de mudarem o pornô: "Muitos acham que por vendermos imagens de um corpo, estamos ali para ler baixarias gratuitas. Mas, em breve, eu espero que isso mude e as pessoas financiem nosso trabalho como qualquer outro, pois é um produto de entretenimento muito mais saudável do que consumir a grande indústria pornográfica, e merece ser valorizado", argumenta Foxie.