Topo

Monogamia ou amor livre: como saber qual relação tem mais a ver com você?

Saiba quais são as diferenças entre poliamor e relação aberta - Getty Images/iStockphoto
Saiba quais são as diferenças entre poliamor e relação aberta Imagem: Getty Images/iStockphoto

Carolina Prado e Simone Cunha

Colaboração para Universa

01/02/2019 04h00

Em primeiro lugar, é preciso repensar tudo o que você aprendeu que é certo e errado sobre relacionamentos amorosos. "Um dos principais fundamentos do casamento tem sido a monogamia, um valor que a maioria das pessoas adota. Contraditoriamente, é grande o número de pessoas que já traiu, portanto, nem sempre o que se diz é o mesmo que se faz", afirma o psicanalista Sergio Savian, especializado em relacionamentos. 

Esse foi o ponto que levou o casal Biel Vaz, 28, e Tuy Potasso, 26, do canal Sensualise Moi, à decisão de repensar o formato do relacionamento. "Percebi que a monogamia não combinava comigo porque eu traía muito e, mesmo namorando, tinha vontade de ficar com outras pessoas", fala Tuy. Quando ela e Biel se conheceram, decidiram jogar limpo, porque não queriam correr o risco de provocar mágoas um no outro. Eles fizeram um novo combinado e, de comum acordo sobre a decisão de abrir o relacionamento, estão juntos há sete anos. 

Nesse período, mantiveram um relacionamento poliamoroso por um ano e, desde o término, vivem de forma liberal, ou seja, ficam com outras pessoas, porém, sem abrir mão de ficarem juntos. "Não há nada que me faça ficar com alguém separado da Tuy. Se eu conhecer uma pessoa, a Tuy precisa conhecer e gostar também, para vivermos isso juntos", afirma Biel. 

Porém, mesmo nesse formato, a relação não está isenta de regras. "Para dar certo, uma relação liberal exige muita confiança, transparência e comunicação. É preciso que haja regras e que todos os envolvidos saibam e respeitem o que foi acordado", explica Biel.

De acordo com a sexóloga Lelah Monteiro, em geral, os jovens são mais desapegados e estão mais abertos para vivenciar novas possibilidades de envolvimento.

Para Biel, os poliamoristas têm mais facilidade para dissociar as experiências sexuais das afetivas. "O tipo de relação tem de ser condizente com o que você é e com quem está envolvido", afirma. 

Algumas pessoas não sentem necessidade de diversificar os parceiros e as experiências e, para elas, estar com uma única pessoa é o ideal. Outras, por mais que tentem ser monogâmicas, simplesmente não se sentem plenas dessa forma. "Só o tempo e a experiência de vida irão mostrar o que mais combina com cada um", explica Savian. 

O processo de autoconhecimento pode ajudar muito mas, para aqueles que tiveram uma formação moral mais tradicional, pode ser bem complexo experimentar um novo formato. "Para aqueles que questionam a moral vigente, que não têm medo de serem julgados, o poliamor se apresenta como mais um caminho possível", avalia.

Na dúvida, vale experimentar?

Segundo o psicólogo Thiago de Almeida, especializado em relacionamentos amorosos, para decidir experimentar é preciso que a própria pessoa avalie o quanto está aberta a explorar novas oportunidades. "Não existe verdade absoluta, é preciso compreender que o bem-estar e a satisfação não dependem apenas de uma escolha, mas das consequências dessa escolha", diz. 

Para pessoas muito controladoras, ciumentas ou que se incomodam com a opinião de terceiros, talvez seja mais difícil entrar em uma relação aberta. 

Suzane Mirelle Guimarães, 21 anos, namora há quatro anos e meio, mas não descarta a possibilidade de se relacionar com outras pessoas. Ela se sente atraída pela chance de vivenciar outras formas de envolvimento. "Moramos em uma cidade pequena e nosso receio é a exposição, não sabemos se estamos prontos para lidar com comentários e cobranças", diz.

O interesse surgiu de forma natural, sem nenhuma pressão. Mas Suzane também se questiona sobre o risco de uma terceira pessoa interferir no romance dos dois. "Dá um pouco de medo de começar e não dar conta, e isso atrapalhar o nosso amor", comenta. 

A dúvida, no entanto, não pode ser respondida sem que se viva a experiência. Conhecer a vivência e a opinião dos outros não basta. "É no dia a dia que a pessoa terá que se adaptar, entender e lidar com pequenas questões que envolvem esse tipo de relacionamento, para ver se realmente funciona e se topa relacionar-se assim", considera Biel. 

Monogâmicos convictos

"Sou bastante ciumento e não me vejo como ter qualquer tipo de relacionamento diferente de um monogâmico", afirma Sidney Rodrigues da Silva, 38 anos. Sua mulher, Tania Gregório Ravena, 33, diz que entrar em um relacionamento, de fato, é sinônimo de comprometimento pleno com o outro, em todos os aspectos da vida. Para eles, isso inclui assumir compromissos de convivência e partilhar objetivos futuros. "Não consigo ver isso acontecendo de forma efetiva com mais de duas pessoas. Ainda que o acordo seja apenas 'aberto' para encontros eventuais, isso também tiraria o foco dos objetivos comuns", afirma. 

Ambos concordam que esse é o tipo de relacionamento perfeito para o perfil deles. "Não queremos, com isso, afirmar que essa seja a única forma possível de relação afetiva de sucesso", diz Tânia. 

Na opinião da sexóloga, qualquer formato de relacionamento é válido, desde que não haja imposição. "Essa é uma decisão individual, mas que precisa ter o consenso do casal para dar certo". Ou seja, ceder para agradar não é, em contexto algum, uma boa ideia. "Sem consenso, a conta não fecha. Os dois devem estar comprometidos com a nova ideia", afirma Savian.