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Como grupos de mulheres estão se organizando para eleger candidatas em 2018

27-04-2016: Bancada feminina da Câmara faz protesto contra o então presidente Eduardo Cunha devido ao projeto que cria comissão das Mulheres. As deputadas eram contra - Alan Marques/Folhapress
27-04-2016: Bancada feminina da Câmara faz protesto contra o então presidente Eduardo Cunha devido ao projeto que cria comissão das Mulheres. As deputadas eram contra Imagem: Alan Marques/Folhapress

Natacha Cortêz

Da Universa

13/06/2018 04h00

Alzira Soriano de Souza foi a primeira mulher a vencer uma eleição no Brasil. De 1929 a 1930, ela assumiu a prefeitura de Lajes, no Rio Grande do Norte --o que também a fez ser a primeira prefeita eleita na América Latina.

87 anos depois, mais precisamente nas últimas eleições municipais de 2016, apenas 11,8% das prefeituras do país eram comandadas por mulheres. O número é do Tribunal Superior Eleitoral.

Mas a sub-representação feminina na política nacional não é sintoma típico das prefeituras. As mulheres também são minoria no Congresso (nem 10% das cadeiras), no Senado (hoje, são 13 mulheres para 68 homens), nos governos estaduais (em 2014, uma mulher foi eleita), nos ministérios (das 29 pastas, uma é ocupada por mulher) e STF (duas mulheres para nove homens).

Alzira Soriano de Souza - Reprodução - Reprodução
Alzira, a primeira política brasileira eleita, em sua posse, em 1929
Imagem: Reprodução

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O cenário tem chamado a atenção de movimentos de mulheres ditos suprapartidários (acima dos interesses e ideologias dos partidos), que, agora, tentam virar o jogo e fazer da política (também) lugar de mulher.

A brasiliense Bárbara Furiati, 30, cocriadora da plataforma “A Candidata”, é uma delas. “Quando o assunto é a presença de mulheres, a política não tem acompanhado os avanços de outras áreas, como o mercado de trabalho e a educação. O que queremos com nosso projeto é criar uma rede de apoio para mulheres líderes, pensando em candidaturas para 2018 e demais eleições. Para isso, ofereceremos treinamentos e mentorias às futuras políticas.”

Foco nas prefeituras

No Rio de Janeiro, o Instituto Alziras, inspirado na primeira política brasileira aqui citada, pensa parecido, quer encorajar votos em mulheres, mas tem ainda outra estratégia de atuação. São quatro mulheres à frente da organização que quer ampliar a representação das mulheres no Executivo “através do fortalecimento dos mandatos de prefeitas eleitas em 2016”, explica a administradora pública Cintia  Melchiori, 37. Para isso, o grupo promete elaborar pesquisas, oferecer cursos, fóruns, debates e até apoio no planejamento de governo dessas mulheres.

Entre as ações do Alziras está uma pesquisa --agora em fase de coleta de dados-- sobre as prefeitas brasileiras. A ideia é construir retratos das mulheres em pleito entre 2017 e 2020. Esse levantamento recebeu suporte financeiro de dois investidores. O Instituto Clima e Sociedade é um deles.

“O objetivo é entender quem são as Alziras por todo o país, quais as trajetórias delas, que desafios enfrentam em termos de discriminação e violência política contra mulheres e quais são suas propostas e desafios de gestão”, conta Cintia. “O que nos uniu nesse projeto foi uma série de incômodos, como o fato do número de prefeitas eleitas ter caído pela primeira vez nas eleições de 2016 e o Brasil seguir absolutamente atrasado no indicador de representação política da União Interparlamentar, atrás de países como o Afeganistão e Iraque [ocupamos o 154º posição dentre os 193 países]”, completa.

"Meu Voto Será Feminista"

Meu Voto Será Feminista” é outra iniciativa de mulheres para corrigir o que elas chamam de “vergonhoso lugar das cidadãs brasileiras na política institucional”. Quem nos conta da campanha, criada pelo movimento #PartidA Feminista, é a jornalista pernambucana Juliana Romão, 40, uma das membras.

“Só é possível mudar as estruturas de poder através de um projeto de mulheres, para mulheres e com mulheres”, diz ela. “Nossa missão é ocupar os espaços de poder com mais mulheres feministas, comprometidas com a transformação e com uma política do encontro e do afeto”.

Por isso, até a véspera das eleições de 2018, o grupo atuará nas redes sociais e ruas, disseminando a mensagem “Meu voto será feminista” através de conteúdos educativos.

Só é possível mudar as estruturas de poder através de um projeto de mulheres, para mulheres e com mulheres.

“Precisamos sensibilizar a população da importância do voto em mulheres feministas, o que significa não só votar em mulheres, mas naquelas que possam representar a luta pelas pautas que intervenham nas desigualdades de gênero, raça e classe social. Sempre entendendo que os direitos das mulheres sobre seus corpos, suas vidas e em busca de uma existência sem medo e opressão são pautas prioritárias”, afirma Juliana.

A #PartidA Feminista tem como uma de suas idealizadoras a filósofa e escritora Márcia Tiburi, sondada pelo PT para o governo do Estado do Rio de Janeiro.

Em Uberlândia, Minas Gerais, o grupo "Eleja Mulheres de Luta" é outro braço da #PartidA que pede por votos em mulheres. 

"Vote Nelas"

A socióloga paulistana Gisele Agnelli, 40, é uma das integrantes da plataforma “Vote Nelas”. Ao lado de nove companheiras, ela tenta conscientizar a população sobre a escassez de mulheres na política. “Somos um coletivo que nasceu do misto de indignação, cansaço e esperança diante da sub-representação de nós mulheres na política”, ela diz.

Além de produzir conteúdo nas redes sociais para falar do assunto, o “Vote Nelas” tem a intenção de apoiar 150 candidatas nestas eleições. Nomes como Marina Helou (REDE), pré-candidata a deputada estadual, Duda Alcântara (REDE) e Adriana Vasconcellos (PSOL), ambas pré-candidatas a deputada federal, estão na lista.

Mas o que quer dizer “apoiar”, nesse caso? “Vamos escolher duas candidatas a deputada estadual e duas candidatas a deputada federal por estado para dar visibilidade e suporte para as suas campanhas. Seja nas redes sociais ou nas ruas”, responde Gisele.

Para receber a assistência da plataforma, “a candidata precisa estar comprometida com valores feministas e femininos”, conta a integrante. E dinheiro, também será uma forma de apoio? “Não, em nenhum momento. No máximo, vamos ajudá-las a montar seus crowdfundings.”

“Outros movimentos de renovação política falharam miseravelmente em focar nas mulheres. Nosso grande diferencial é justamente esse. Nosso pedido é que pelo menos metade dos votos de um cidadão nas próximas eleições [cada um de nós terá seis] vá para as mulheres”, termina Gisele.