Topo

Festivais brasileiros assinam "política dos 50%" por mais mulheres no palco

Apresentação da Orquestra Manancial da Alvorada, no festival Psicoldália de 2017 - Sue Grimes/Divulgação
Apresentação da Orquestra Manancial da Alvorada, no festival Psicoldália de 2017 Imagem: Sue Grimes/Divulgação

Mariana Gonzalez

Da Universa, em São Paulo

04/10/2018 04h00

No Lollapalooza deste ano, as mulheres representavam menos de 20% do line-up. E, embora na Suécia tenha até festival que proíbe a entrada de homens, por aqui são eles que ainda dominam o cenário musical. 

Para reverter (ou pelo menos igualar) este cenário, os festivais Coquetel Molotov, Psicodália e MADA adotaram uma espécie de "política dos 50%" para garantir que pelo menos metade dos artistas escalados para subir ao palco sejam mulheres. 

Veja também

No Coquetel Molotov, que acontece em 17 de novembro em Recife, em Pernambuco, nomes como Anelis Assumpção, Luedji Luna, Maria Beraldo, Teto Preto e Duda Beat, além da rapper norte-americana Azealia Banks, são algumas das mulheres escaladas. 

No MADA, nos próximos dias 12 e 13 em Natal, no Rio Grande do Norte, estão escaladas Pitty, Angela Castro e Larissa Luz, enquanto no Psicodália, que acontece durante o carnaval de 2019 em Rio Negrinho, Santa Catarina, se apresentam mais uma vez Anelis Assumpção, Mulamba, Ayace, Soema Montenegro e Elza Soares

Pitty e Karol Conka durante apresentação no Festival MADA de 2017 - Gustavo Dantas/Divulgação - Gustavo Dantas/Divulgação
Pitty e Karol Conka durante apresentação no Festival MADA de 2017
Imagem: Gustavo Dantas/Divulgação

Parte desta mudança se deve à atuação da Keychange, uma fundação internacional que incentiva a participação igualitária de mulheres em festivais de música em todo o mundo.

Dos 118 festivais e eventos musicais que se comprometeram com a política dos 50%, apenas 4 são brasileiros. 

Cenário em evolução

"O meio musical sempre foi muito masculino, sempre existiram mais bandas formadas por homens do que por mulheres, mas isso vem mudando há anos. Os produtores precisam ficar sabendo disso", acredita Ana Garcia, uma das organizadoras do Coquetel Molotov. 

Por outro lado, a produtora cultural acredita que ainda há pouco incentivo para as mulheres nesta área.

"Fiquei assustada quando vi que, nas inscrições para o Coquetel Molotov Belo Jardim [edição que acontece na cidade pernambucana], tivemos apenas uma cantora inscrita entre mais de 100 candidatos. Precisamos fazer um trabalho maior para incentivar a participação delas em cidades menores", disse.

O line-up do Festival MADA é organizada de forma participativa, a partir de sugestões do público. Gabriela Teixeira, da organização do evento, disse que a cada sente uma demanda maior pela participação feminina. 

Tanto Gabriela quanto Ana Garcia acreditam que essa preocupação não pode ficar restrita apenas às atrações dos eventos, mas deve chegar também aos bastidores e à área técnica.

"A cada ano contratamos cada vez mais mulheres para assumir detalhes técnicos do festival, como controle do monitor, da luz, do som e, principalmente, da produção", explica Ana.

Em cima do palco

Em entrevista à Universa, a cantora Anelis Assumpção, que se apresenta no Coquetel Molotov e no Psicodália , comparou a iniciativa à ação cotas nas universidades. 

"Há muito tempo a gente vem tentando ocupar esse espaço, mostrar nosso valor enquanto mulheres músicas. Assim como o sistema de cotas, [a política dos 50%] é um movimento importante e reparador, uma possibilidade de equivalência social para um grupo que sempre foi excluído deste espaço".