Ela leva playboy pro funk

Carol Sampaio conta casos de famosos: treta com Ronaldo, choro de Ludmilla e pipoca pra Anitta

Valmir Moratelli COLABORAÇÃO PARA UNIVERSA
Bruna Prado/Universa

Passa da meia-noite de uma quarta-feira, e os dois celulares de Carol Sampaio, a relações públicas mais famosa do país, não param de apitar com Whats e ligações. Pudera: cada um deles tem 6 mil contatos. É mais ou menos neste ritmo que Carol, batizada Ana Carolina pelos pais e, mais tarde, rebatizada no mundo do funk como "A Favorita", se equilibra entre reuniões com patrocinadores (tipo Ambev), organização de shows (naipe Rock in Rio), convites para celebridades (Bruna Marquezine, Ronaldo Fenômeno e mais uns...12 mil nomes), e muitos, muitos mimos a todas eles.

Carol é a empresária que, numa manobra ousada, criou um mega baile funk na Rocinha, no começo dos anos 2010, utilizando-se da mistura de três ingredientes poderosos: contratação de funkeiros já famosos na comunidade, convites e mimos para artistas da Globo e ricos da Zona Sul e distribuição de centenas de ingressos para a comunidade. Ela não inventou, mas sacramentou a fórmula do tudo junto e misturado. 

Todos, ou quase todos os eventos disputados no Rio de Janeiro hoje são articulados pela sua empresa, a CS Eventos - a sigla, evidentemente dispensa explicação. "Sou ponto de referência. Consegui chegar aonde cheguei, trabalhando na noite, o que não era normal para uma mulher", diz a empresária carioca, de 36 anos, no seu escritório, situado no quadrilátero mais caro de Ipanema.

Carol é melhor amiga da protagonista da novela das 9, dos principais nomes do PIB nacional, pagodeiros e medalhistas olímpicos - seja lá quem estiver no posto, no momento. "Os famosos sempre me prestigiam, se divertem, sabem que cuido deles com carinho", diz ela. "Ontem mesmo achei no celular uma foto com Fefê (Fernanda Paes Leme), Fiorella  Mattheis e Francisco Gil. Todo mundo agachando, no chão. Eu vivo de fazer as pessoas felizes". 

Reginaldo Teixeira/Divulgação Reginaldo Teixeira/Divulgação

Na Rocinha de Chanel

"Sou a responsável pela elitização do funk", dispara Carol, com um vozeirão que é sua marca registrada e o poder de quem levou a elite carioca para rebolar até o chão, no ritmo do batidão do morro. "O funk em Ipanema surgiu por minha causa". 

Carol jura, jura que, para botar seu negócio de pé na Rocinha, nunca precisou lidar com a bandidagem. Das festas que promove na quadra de samba local, separa 250 convites para a "comunidade". É sua fórmula para manter tudo junto e misturado. "Eu levo diversão. Quem pode ser contra isso?". 

"Minha manicure diz: 'Nossa, Carol, é muito engraçado ver aquelas menininhas todas de Chanel e sandalinha de salto fino requebrando até o chão'. As pessoas não viam essas meninas de paetê e bolsa de marca na favela. Elas perderam a vergonha de falar que dançam funk", analisa a dona da coisa toda.

Quando era adolescente, Carol fugia de casa para ir em baile funk na favela com os amigos do jiu-jítsu. No começo da vida adulta, trabalhou por oito anos como promoter da Baronetti, famosa e extinta boate de Ipanema e, juntando tantas experiências, resolveu fazer o seu próprio baile.

Passando pela Rocinha, nos idos de 2010, viu a quadra de samba local, bateu lá e perguntou quanto era o aluguel. "Paguei três vezes o que pediram", diz Carol, remontando o começo do que é hoje a festa mais bombada do Rio. "Na mesma semana, MC Marcinho me falou que tinha feito uma música para mim, 'A Favorita'. Pronto, já tinha o nome da festa!". Anitta fez seu primeiro show lá. E Ludmilla, em sua estreia no baile, levou a mãe, ficou nervosa e saiu do palco chorando.

Foi uma manobra ousada atravessar o túnel da Gávea rumo a São Conrado, entrar na favela da Rocinha antes da pacificação pelas UPPs e fincar no morro uma bandeira de playboy. Ousada, inclusive, do ponto de vista do marketing empresarial. 

"Nos dois primeiros anos, sofri bastante preconceito. As grifes bacanas me criticavam, dizendo que eu tinha virado 'promoter de baile funk'. Hoje, essas grifes pagam fortunas para ter um funkeiro como garoto-propaganda". 

Sou a responsável pela elitização do funk

Carol Sampaio

Bruna Prado/Universa Bruna Prado/Universa

Rock in Rio, Justin Bieber e festa pra 3 mil

A relação muitíssimo próxima com os famosos rendeu a Carol um outro título, o de cupida. "Já fiz muito casal nos meus bailes. Preta (Gil) e Rodrigo (Godoy), Cris (Vianna) e Luiz Roque, Kyra (Gracie) e Malvino (Salvador), Juliana (Pereira) e Paulo Rocha, Isis (Valverde) e André (Resende). Sou madrinha de Thiaguinho, do Marcelo Faria, da Preta e, agora, da Isis", enumera, sem a necessidade, claro, de falar os sobrenomes de seus queridos; para ela, nunca, celebridades.

"Para mim, não tem diferença entre uma amiga de colégio perguntar se pode ir na minha festa com três casais ou o Thiago Martins (ator global) falar: 'Posso levar minha galera do Vidigal?'. Claro que pode!", explica Carol.

Além e por causa da Favorita, a empresária é hoje o nome mais influente da noite carioca. Ela é a responsável, por exemplo, pelos espaços vip do Rock in Rio e cuidou desses inferninhos chiques em shows de Justin Bieber, Coldplay, Lady Gaga e Joss Stone.

Trabalhando na night desde os 17 anos, Carol decidiu montar seu próprio negócio, entre outros motivos - fora o principal, ter mais grana, claro - por não conseguir convidar todos os amigos para os eventos legais que produzia, como funcionária. "Não podia convidar meus 47 primos para curtir o melhor camarote da Sapucaí. Isso me matava!". 

Para dar conta desse probleminha, na semana seguinte ao Carnaval, Carol começou a fazer um festaço de aniversário no Copacabana Palace com, atenção, três mil pessoas. "Convido to-do-mun-do", diz ela, a respeito da balada que virou item de desejo na agenda pós-folia do Rio. 

Já fui madrinha de Thiaguinho, Marcelo Faria, Preta, e, agora, da Isis

Carol Sampaio

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Namorei todo tipo de pessoa: das normais a jogadores de futebol, passando por empresários e políticos

Carol Sampaio

Quem "prestigia" Carol

  • Thaila Ayala

    "É minha musa, me acompanha desde moleca"

    Imagem: Reprodução/Instagram
  • Camila Rodrigues

    "Vai nos meus bailes desde o primeiro ano"

    Imagem: AgNews
  • Paulo Gustavo

    "Quando não pode ir, sempre arruma um jeito de se fazer presente. Dá uma moral nos stories"

    Imagem: Reprodução/Instagram
  • Romário

    "Me orgulho de mim mesma por ter ele por perto"

    Imagem: UOL
  • Dani Hipólito e Rafaela Silva

    "A gente dá pouco valor ao atleta no Brasil. Coloco todos no palco"

    Imagem: Divulgação
  • Jojo Toddynho, MC Pocahontas e Ludmila

    "Estão sempre comigo nos bailes. São eles que fazem as coisas acontecerem"

  • Fátima Bernardes

    "Os filhos dela vão sempre aos meus eventos. Ela esteve no camarote esse ano e fiquei muito feliz"

    Imagem: Reprodução
  • Bruna Marquezine

    "Chegou da Europa no Sábado das Campeãs, e foi me ver, na avenida, no mesmo dia"

    Imagem: Getty Images
  • Taís Araújo

    "Convidei para o camarote, e ela disse que o Lázaro seria homenageado por uma escola do grupo D, no subúrbio. O que eu fiz? Mandei uma van buscar toda família depois do desfile e levar pra Sapucaí"

    Imagem: Luis Crispino/Claudia
  • Uma grande falta: Camila Pitanga

    "Sempre tento, mas ainda não consegui. Apesar disso, é educada, responde, dá atenção"

    Imagem: Divulgação/TV Globo
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RT Fotografia/Brazil News/CS Eventos Divulgacao RT Fotografia/Brazil News/CS Eventos Divulgacao

Em Ibiza, com Ronaldo; em Angra, com uma bola

"Namorei todo tipo de gente: pessoas normais, jogadores de futebol, empresários, políticos. Ai, gente! Comecei até a suar na mão... Tô conhecendo alguém", diz Carol, num dos únicos momentos em que diminui o ritmo da conversa - sempre muito acelerada. Entre seus ex estão o jogador Rodrigo Alvim e o empresário João Netto Mallupy.

A mulher dos dois celulares que nunca desligam, cujas baterias duram eternamente graças a um emaranhado de carregadores portáteis que leva na bolsa, planeja, ansiosa, doze dias de ferias em Ibiza. A companhia? Ronaldo Fenômeno, seu amigo e sócio. A viagem vai acontecer depois do Rock in Rio Lisboa, do qual ela é a dona do camarote vip. Ah vá. 

A relação entre ela e o Fenômeno tem passagens curiosas. "Ele ficou sem falar comigo um ano, porque eu não pude colocar os parentes dele pra dentro do camarote da Sapucaí. Era meu primeiro ano como promoter da Brahma e minha cota de convite já tinha acabado! Cara, foi tenso: imagina, não colocar a família do Ronaldo pra dentro?".

Os dedinhos de pazes não só foram dados, como a dupla, hoje, é sócia na organização Nosso Camarote, o canto mais bombado do carnaval carioca". "Não cabe mais na minha agenda dormir no Carnaval". Do time, faz parte também o amigo Gabriel David. O trio investiu cerca de R$10 milhões no primeiro ano de parceria. E teve zero de lucro.

"Foi muito choro em casa. Refiz orçamentos quarenta vezes. Respirei planilhas". Como consequência do estresse, uma infecção, duas semanas antes da folia, levou Carol para uma UTI. "Quando tive alta, saí desesperadamente, meia-noite, e fui direto pro camarote. Fiquei à base de isotônico e de um garçom de lado que me dava água de meia em meia hora. Sou guerreira".

E gaiata também. "Me dá uma bola de futebol e me larga numa ilha em Angra, que serei a pessoa mais feliz do mundo". 

Arte/UOL

Vou te falar: meu mapa está bem dominadinho

Carol Sampaio

Reprodução/Instagram/mariananogueira Reprodução/Instagram/mariananogueira

Rio em guerra, fim de baile

Depois das Olimpíadas de 2016, em que Carol cuidou de vários camarotes vips de estádios, a violência no Rio progrediu em batidas aceleradas. O projeto de pacificação das comunidades praticamente faliu, o Estado entrou em derrocada financeira e o pastor licenciado da Igreja Universal, Marcelo Crivella, foi eleito prefeito. "Não está fácil viver de evento no Rio. As grandes empresas não querem fazer nada aqui. Claro, está tendo uma guerra na cidade."

Por conta de todos esses problemas, a festa na Rocinha está suspensa. E Carol planeja fazer a transferência de seu baile, num esquema pocket, para no alto do Morro da Urca, durante a Copa do Mundo. "O dinheiro pode não estar mais aqui, mas o Rio ainda é janela para o mundo. Acredito na nossa cidade." 

Os anos de sucesso no morro permitiram que Carol levasse sua Favorita para quase todos os cantos do país - só faltam Amazonas e Acre - e para o exterior - já teve em Miami e um compacto no Canadá. Foram 108 edições no ano passado. "É mais que turnê de muita banda por aí. Vou te falar, meu mapa está bem dominadinho."

Você pode trabalhar na noite, rebolar até o chão e ter respeito

Carol Sampaio

Mulher da noite e com orgulho

"Dezessete anos atrás, o pai de um namorado virou para ele e disse: 'Jura que você vai namorar a Carol? Ela trabalha na noite... (fala, com desdém)'. Aquilo me machucou tanto... Hoje, vejo um monte de meninas fazendo faculdade de relações públicas, me pedindo emprego, querendo fazer evento. Isso não era normal. Isso eu trouxe: botar a mulher em outro nível", diz Carol, com o queixinho levantado.

"Você pode trabalhar na noite sim, rebolar até o chão e ter respeito. Você desce do salto, coloca cachaça na boca das pessoas e não perde o próprio salto. Consigo fazer tudo porque tenho a cabeça no lugar". 

Bruna Prado/Universa

Cliente é serpente. Mas paga a conta

Nem só de louros vive a principal RP do país. Saia justa? Ela acumula também. 

"Eu estava fazendo uma festa na casa de um cliente, quando uma atriz me ligou. Eu disse onde estava e ela falou que passaria lá, pra me prestigiar. Quando ela chegou, o cliente falou: 'Tira ela'. Eu não podia tirar, imagina..."  

Aprendizes, escutem a lição: "O que o cliente fez? Desligou o som a uma da manhã e a festa, que ia até às cinco, acabou. Aprendi, ali, que cliente é quem manda. O que é bom pra mim pode não ser pra quem me contrata".

Tampo o umbigo nos meus eventos. É o chacra por onde recebo energia

Carol Sampaio

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São Bento, chacra e Peixes

A mais nova aposta de Carol, o "Roda da Ludmilla", tem todos os ingredientes do sucesso da empresária: a roda de samba é misturada com, adivinha, funk, o comando é da cantora, hit em qualquer roda, e o evento vai acontecer, claro, na zona sul. Se tudo der certo, a balada inaugura em julho, no Jockey Club.

Ninguém duvida que vai dar samba.

Para garantir, no entanto, que a sorte permaneça ao seu lado, Carol investe em todo credo: "A Paloma Bernardi (atriz) me deu um São Bento lindo, com o qual eu rezo sempre que saio de casa. Além disso, em todo evento meu, tampo o umbigo, porque é o chacra onde recebo energia. Falam que isso é de Peixes. E meu ascendente é em Áries. É daí que vem essa força de comando".

Ah, sim, Carol também é sensível, avisa. Colou, inclusive, adesivos de "Frágil" na parede do banheiro da empresa. 

"Choro à toa. Dia desses, uma mulher me escreveu falando que a inspirei, e que colocou uma barraquinha de pipoca pra vender na rua. O que eu fiz? Chamei ela para fazer pipoca na festa da Anitta!". 

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