Topo

Transforma

Mulheres protagonizam um mundo em evolução


Filme de Michael Jackson mostra atitudes comuns de abusadores de crianças

Wade Robson conheceu Michael Jackson quando tinha 5 anos; ele alega que foi abusado pelo cantor - Divulgação
Wade Robson conheceu Michael Jackson quando tinha 5 anos; ele alega que foi abusado pelo cantor Imagem: Divulgação

Jacqueline Elise

Da Universa

19/03/2019 04h00

Nos dias 16 e 17 de março, o canal a cabo HBO exibiu o documentário "Deixando Neverland". Dividido em duas partes, o filme apresenta os relatos de Wade Robson e James Safechuck, ambos com 36 anos, que alegam terem sido abusados pelo cantor Michael Jackson quando eram crianças, no Rancho Neverland, onde o astro morava.

Durante as quase quatro horas de documentário, Robson e Safechuck detalham como conheceram Michael, como os abusos teriam começado e o impacto que os eventos tiveram em suas vidas. Para além de julgar se as acusações são verdadeiras ou não, as entrevistas mostraram como casos de abuso sexual infantil podem ser perpetrados e como os agressores costumam manter o ciclo de violência em ação. Veja sinais que dão indícios de abuso:

Abusadores usam seu poder para manipular vítimas e família

O que mostra o documentário: Robson afirma que Michael Jackson fez de tudo para que pudesse ter a confiança dos pais e das crianças, dizendo que ajudaria os meninos a se tornarem estrelas. Ele diz que o cantor conseguiu convencer a família a se mudar da Austrália para os Estados Unidos, para que a carreira de dançarino de Robson pudesse deslanchar. Safechuck diz que Jackson prometia a ele que faria de tudo para que o jovem se tornasse "o próximo Steven Spielberg".

O que costuma acontecer: Aproveitar-se da vulnerabilidade das crianças e manipular a família para que passem mais tempo com o abusador é uma das táticas usadas, para que ninguém suspeite que tem algo errado naquela relação.

Eles tentam fazer a vítima se sentir especial

O que mostra o documentário: Safechuck diz que Jackson lhe presenteou com joias em troca de favores sexuais, chegando até a fazer um "casamento de mentira" com o menino. Robson alega que o cantor disse em um momento: "eu e você estamos juntos por causa de Deus. Estamos destinados a ficar juntos e esta é a forma que nós demonstramos que nós nos amamos".

O que costuma acontecer: os relatos mostram outra forma que abusadores, em geral, tentam conquistar a confiança da vítima: fazendo-a se sentir especial, presenteando-a e dizendo coisas que fazem a pessoa acreditar que ela está sendo bem cuidada.

Eles falam que contar o abuso pode trazer consequências terríveis

O que mostra o documentário: os dois entrevistados afirmam que Jackson chegou a dizer que eles não poderiam contar para ninguém sobre os atos que aconteciam quando eles estavam juntos, pois "ambos poderiam ser presos, ou então "eles nunca mais poderiam se ver novamente".

O que costuma acontecer: um padrão recorrente em casos de abuso sexual infantil é a ameaça: o abusador tenta convencer a vítima de que ela só terá a perder se confessar o que acontece entre eles a terceiros. As ameaças vão desde afirmar que "ambos podem sofrer consequências" até mesmo colocar a vida de outra pessoa em risco.

Eles tentam fazer a vítima se afastar da família o máximo possível

O que mostra o documentário: em "Deixando Neverland", Robson e Safechuck afirmam que sempre frequentavam festas do pijama na casa de Michael Jackson com outras crianças. Eles também dizem que eram levados para viajar com o cantor, e Robson declara que Jackson até pediu para que ele se mudasse para o Rancho Neverland por um ano. A mãe do garoto não permitiu, mas disse que ele poderia frequentar a casa.

O que costuma acontecer: uma das estratégias mais comuns entre abusadores é tentar manter a vítima por perto o máximo possível, inclusive fazendo com que ela se afaste de seus pais e amigos.

Insistem/chantageiam a vítima para negar o abuso

O que mostra o documentário: quando Jackson foi acusado de abuso sexual infantil pela primeira vez, em 1993, os entrevistados disseram que ele pediu para que eles o defendessem publicamente. Robson testemunhou a favor do astro pop, em 2005, quando ele foi a julgamento novamente por outra acusação de molestar um adolescente. A mãe de Safechuck diz que, coincidentemente, o cantor comprou uma casa para sua família na mesma época em que ele era acusado. Robson também alega que recebeu diversas ligações de Jackson, implorando para que fosse sua testemunha de defesa.

O que costuma acontecer: persuadir ou insistir para que vítima negue o abuso sofrido ou desacredite de outras vítimas publicamente ocorrem com frequência em casos de abuso sexual infantil. Somente quando a criança passa a ter consciência de que está sendo ou de que foi abusada que ela se sente mais confortável de contar a alguém.

Traumas durante ou após o período de abuso

O que mostra o documentário: Robson e Safechuck afirmam que seu comportamento mudou após o abuso, apesar de não saberem dizer o motivo. Ambos relataram sintomas de depressão e ansiedade, e Robson afirmou que, cada vez que alguma notícia sobre Michael Jackson saía na imprensa, ele se atolava de trabalho para não pensar nisso.

O que costuma acontecer: especialistas relatam que mudança de comportamento durante o período em que o abuso ocorre ou até mesmo após os atos são recorrentes --é preciso estar atento às atitudes das vítimas para notar alguma mudança.