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Preenchedores: conheça as substâncias usadas para modelar o rosto e o corpo

Kylie Jenner, uma das famosas que já admitiu o uso de preenchimentos - Instagram
Kylie Jenner, uma das famosas que já admitiu o uso de preenchimentos Imagem: Instagram

Mariana Araújo

da Universa, em São Paulo

18/07/2018 04h00

Kylie Jenner fez fama -- e fortuna com os lábios esculpidos -- e assim como ela, muitas mulheres procuram hoje opções, a priori, menos invasivas para fazer alterações tanto na face quanto no corpo e buscar as imagens que julgam desejáveis para si mesmas.

No entanto, procedimentos estéticos são, ainda e antes de mais nada, procedimentos médicos. Por isso, há indicações e riscos para cada um deles. No domingo (15), a bancária Lilian Calixto, de 46 anos, morreu no Rio de Janeiro -- a causa teria sido uma embolia pulmonar após uma aplicação de PMMA (polimetilmetacrilato).

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Entre um dos procedimentos mais populares nos consultórios está o uso de preenchimentos para aumentar lábios, destacar maçãs do rosto, dar novo formato ao queixo, alterar a curvatura do nariz, entre outros objetivos.

Não há uma indicação de quantidade máxima a ser usada nos procedimentos. "Vai muito do bom senso do profissional, para não causar deformidade e isquemia (alteração de fluxo sanguíneo na região). Por exemplo: se você coloca 10 ml de um produto em uma região do rosto pode levar à isquemia", explica a cirurgiã plástica Karina Gilio. 

Há diversos tipos destas substâncias que podem ser adotadas e é preciso se informar sobre seu funcionamento para discutir com um profissional a adoção delas. Conheça as mais populares:

Ácido hialurônico

Um dos preenchedores mais utilizados, principalmente no rosto, apesar de ser indicado também para o corpo, o ácido hialurônico estimula a produção de colágeno, além de ter ação hidratante na região em que for aplicado. 

"Ao preencher uma região profunda, um sulco ou uma ruga, [o ácido] absorve como uma esponja a água dos tecidos ao redor para esta região, aumentando ainda mais o volume da molécula", explica o cirurgião plástico Ronaldo Soares. O resultado é instantâneo e pode ser conferido após a primeira aplicação.

Contraindicação: Pacientes com alergias, doenças autoimunes, anêmicos, câncer e grávidas e lactantes, já que a maioria das composições comerciais trazem lidocaína, um anestésico local para diminuir a dor durante a infiltração do ácido, além de outros conservantes, que podem ser tóxicos para as gestantes. Caso haja inflamação presente no local da aplicação, ele não deve ser utilizado.

"A injeção [dele] no nariz é muito perigosa”, adverte o cirurgião plástico Alan Landecker. Segundo o especialista, o ácido hialurônico pode causar necrose de pele quando injetado dentro de algum vaso sanguíneo dentro desta região. Ele ainda orienta que qualquer preenchimento deve ser feito apenas por especialistas na área de dermatologia e cirurgia plástica, conforme as recomendações do Conselho Federal de Medicina.

Duração: O ácido hialurônico é reabsorvido pelo corpo após um período de um a dois anos.

Valores: 1 ml do produto custa de R$ 300 a R$ 500 no mercado.

Hidroxiapatita de cálcio/Ácido poli-L-lático

Outras duas substâncias sintéticas utilizadas em pacientes com flacidez e excesso de pele em regiões como rosto, pescoço, umbigo, parte interna dos braços e face interna das coxas que não querem recorrer a um tratamento cirúrgico, já que ele provoca a contração da pele. Seu efeito é visto após duas ou três aplicações. 

"Eles são bioestimuladores do colágeno que preenchem, hidratam e tonificam a pele, melhorando a flacidez a longo prazo. Não são volumizadores. A hidroxiapatita de cálcio tem o nome comercial de Radiesse e o ácido poli-L-lático, de Sculptra", explica a cirurgiã plástica Karina Gilio.  

Contraindicação: Não são indicados para pacientes com alergias, doenças autoimunes, anemia, câncer, grávidas, lactentes ou com processo inflamatório no local da aplicação, pelos mesmos motivos.

Duração: Até 2 anos.

Valores: 1,5 ml da hidroxiapatita de cálcio sai por R$ 700, enquanto a mesma quantidade de ácido poli-L-lático chega a custar R$ 1.200.

Policaprolactona

Outra substância sintética absorvível com ação semelhante à do ácido hialurônico, que estimula a produção do colágeno e chegou ao mercado no último ano. Muito usado para preencher rugas, sulcos, remodelar queixo, mandíbula e maçã do rosto, também pode ser usado no corpo.

Contraindicação: Não recomendado para pacientes com alergias, anemia, doenças autoimunes, câncer, grávidas, lactentes ou com processos inflamatórios e infecciosos no local da aplicação. 

Duração: Tem quatro apresentações, com efeito que dura 1, 2, 3 ou até 4 anos, dependendo dos compostos que o acompanham e que desaceleram sua metabolização pelo organismo.

Valores: Depende da formulação. Um 1 ml da composição que dura até 1 ano sai por R$ 400. Já a versão que dura até por 4 anos custa até R$ 2 mil.

Gordura enxertada

É indicada para o preenchimento de grandes áreas, como os glúteos ou no colo após a inserção de próteses de silicone, para que ele fique mais preenchido. 

"Como se usa a gordura do próprio corpo, não há risco de rejeição ou processo inflamatório, caso as regras sejam seguidas", explica Ronaldo.  A aplicação não deve ser feita próxima a grandes vasos, para evitar os riscos de embolia.

Contraindicação: Os riscos do enxerto de gordura são os mesmos de qualquer cirurgia, já que o procedimento requer uma lipoaspiração anterior de gorduras de outras porções do corpo. Por isso mesmo, ela só é indicada para quem tiver estes depósitos. "Em uma atleta, que não tenha gordura nenhuma no corpo, tem de se usar prótese [de silicone]. A injeção de gordura depende de gordura disponível para transferências", explica Alan Landecker.

Duração: Permanente.

Valores: São determinados de acordo com a região do corpo e necessidades da paciente.

PMMA (Polimetilmetacrilato)

As microesferas acrílicas que já foram usadas por Andressa Urach são substâncias sintéticas e não são encontradas naturalmente no corpo nem absorvíveis. Elas são indicadas apenas para preenchimentos em pacientes imunodeprimidos, como os portadores do HIV, que perdem gordura da face.

"Não tinha uma outra opção que desse resultado tão favorável para estes pacientes", explica o dermatologista Fabrício Lamy. No entanto, as doses usadas devem ser baixas mesmo nestes casos: até 3 ml por aplicação.

Contraindicação: Rejeição, inflamações, infecções, embolia e até morte.

Segundo pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional São Paulo (SBPC-SP), essa substância sintética provocou deformidades e complicações em cerca de 17 mil pessoas entre 2015 e 2016, pelo seu uso indiscriminado em pacientes que não tinham indicação de uso.

Duração: Permanente. Uma vez injetado, ele só pode ser removido cirurgicamente.

Valores: R$ 200 a R$ 300 para cada 5 ml.

Hidrogel

Ainda usado por alguns profissionais, esta substância sintética está proibida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Brasil.

Contraindicação: Rejeição, inflamações, infecções, embolia e até morte. 

Duração: Permanente. Uma vez injetado, ele só pode ser removido cirurgicamente.

Valores: Sua venda só acontece no mercado negro.

Dr. Fabrício Lamy, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professor de pós-graduação em Dermatologia do Instituto Carlos Chagas; Dr. Alan Landecker, cirurgião plástico membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica; Dr. Ronaldo Soares, cirurgião plástico, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e Dra. Karina Gilio, cirurgiã plástica, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.