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Descriminalização da homossexualidade libera a economia LGTB na Índia

da AFP, em Mumbai

12/09/2018 15h33

De boates gays a turismo direcionado, especialistas acreditam que a recente descriminalização da homossexualidade na Índia anuncia a ascensão de uma das mais importantes "economias arco-íris" do mundo no segundo país mais populoso do planeta.

A comunidade LGBT do país celebrou com grande entusiasmo a decisão, na semana passada, da Suprema Corte de invalidar um artigo do código penal que proibia relações sexuais entre pessoas do mesmo gênero.

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Especialistas do setor estimam que essa decisão histórica beneficiará a terceira maior economia da Ásia, pois prevê o surgimento de um novo mercado voltado especialmente para esse setor da população - embora a homossexualidade ainda seja um tabu na sociedade indiana.

"Bilhões de dólares podem ser gerados para a economia indiana se a comunidade gay da Índia gastar", disse à AFP Keshav Suri, hoteleiro, ativista gay e um dos peticionários que levou o caso à Suprema Corte.

Na Índia, vivem mais de 55 milhões de adultos LGBT, cuja renda nominal é de cerca de 113 milhões de dólares por ano, de acordo com dados da agência de marketing Out Now Consulting, que ajuda empresas a atingir consumidores gays.

"O valor da economia arco-íris, assim como os aspectos sociais da comunidade LGBT, agora são importantes demais para serem ignorados", acrescentou Keshav Suri.

Em média, casais gays têm maior poder aquisitivo que os heterossexuais.

O mercado indiano "representa um dos maiores mercados LGBT do mundo", disse à AFP Ian Johnson, fundador da Out Now Consulting.

As marcas de bebidas e as agências de turismo serão as primeiras a se dirigirem a essa comunidade, acrescentou.

Bares, discotecas e cafés pró-LGTB também devem começar a ser abertos sem risco de perseguição judicial.

Legalidade, liberdade e oportunidades

Nakshatra Bagwe é empresário em Bombai e em outubro de 2016 fundou a The BackPack Travels, uma agência de viagens para turistas gays. Embora a agência seja atualmente lucrativa, após a recente descriminalização, Bagwe antecipa que seu negócio crescerá ainda mais.

"Com a legalidade e a liberdade do nosso lado, as empresas investirão na comunidade e haverá um aumento de oportunidades nos próximos anos", disse ele à AFP.

Inder Vhatwar, outro empresário da capital econômica da Índia, também aproveitará a decisão da Suprema Corte para reabrir seu negócio.

Quando as relações homossexuais foram brevemente descriminalizadas em 2009 pelo Supremo Tribunal de Délhi, Vhatwar abriu uma loja de roupas chamativas e brilhantes no bairro de Bandra, muito na moda e popular entre as estrelas de Bollywood.

Mas em 2013, a Suprema Corte restabeleceu a proibição, e Vhatwar foi expulso pelo proprietário do imóvel.

"A proibição me causou muitos problemas e tive que fechá-la, mas depois dessa nova decisão eu pretendo abrir minha loja novamente", disse ele à AFP.

Atitudes homofóbicas e discriminação no trabalho custariam à economia indiana entre 0,1 e 1,7% do seu PIB, segundo uma pesquisa do Banco Mundial de 2014.

De acordo com Parmesh Shahani, responsável pelo setor cultural do conglomerado indiano Godrej, "a comunidade LGTB é claramente um mercado inexplorado, e o potencial de negócios é enorme e tenderá a crescer".