Topo

Universa

Antiga igreja sem função é transformada em loft minimalista na Holanda

25/10/2011 07h00Atualizada em 22/04/2015 19h04

Ao invés de demolir, preservar. E quando o assunto é patrimônio histórico e arquitetônico, os holandeses vão além. Moralismos à parte, até em seus hábitos mais cotidianos (como o de moradia) eles se mostram avançados, e têm demonstrado que velhas igrejas também podem ser readaptadas para receber novos usos, inclusive o residencial.

A chamada “Church of Living” (“igreja de habitar”, numa tradução livre), em Utrecht, é mais um exemplo das várias igrejas que, por ausência de fiéis e altíssimos custos de manutenção predial foram compradas por particulares que não quiseram deixar a peteca da tradição cair -pelo menos nos seus aspectos estéticos. 

“O grande desafio foi organizar o imenso espaço sacro em residência confortável”, afirma o arquiteto Marnix van der Meer, do Zecc Architecten. “Não dá para simplesmente colocar uma cama de casal num canto qualquer e dizer que se mora dentro de uma igreja; é preciso considerar as várias funções necessárias ao uso familiar; separar o que vai ser dormitório do que será a cozinha, e pensar em banheiros e salas de estar e jantar”, afirma. Tudo isso gera necessidades diversas de instalações elétricas, hidráulicas, ou mesmo de iluminação.

Para o projetista holandês, grande sorte foi poder desenhar o espaço para uma única família e não ter que transformá-lo num prédio de apartamentos, “o que teria limitado demais nossa criação, desfigurando o ponto de partida, que era o uso religioso.”

Os arquitetos distribuíram o programa de necessidades da residência em dois pavimentos: no térreo, há um dormitório, cozinha, banheiros e um living, disposto meio nível mais alto e aberto, “composto de ambientações variadas e que recebe a luz natural”. O segundo piso é, na verdade, um mezanino que poderá servir tanto como atelier de pintura como área de brinquedos para crianças, ou mesmo sala de descanso e estudos.

O balcão, ou parapeito, do mezanino funciona como elemento escultural, além de organizar a área social da casa. Trata-se de estrutura metálica fechada em madeira e revestimento liso.

Ordem religiosa

Uma nova hierarquia espacial é criada pelo posicionamento assimétrico deste elemento organizador: o toque minimalista predominante se concretiza na forma abstrata e retilínea do balcão, em forte contraste com o espírito rústico do edifício, que quase tende ao rebuscado, típico das velhas capelas.

Não há dúvidas, no entanto, de que o órgão original, mantido junto ao balcão, é elemento essencial à hierarquia dos espaços, por sua imponência. Lá em cima, a madeira do piso é ainda a que data da construção da igreja.

“O piso de madeira se repete nas áreas íntimas; já os ambientes sociais de living receberam revestimento cimentício flutuante, que esconde o sistema de aquecimento para o piso.”Instalações elétricas e hidráulicas também foram passadas sob o novo piso.

Além do órgão, os bancos de madeira da capela também puderam ser reutilizados, só que desta vez para a confecção de uma mesa de jantar.

O choque entre o novo e o velho está materializado no uso de outras relíquias, como peças de confessionários e a própria manutenção de detalhes feitos de pedra, como anjos e crucifixos. As portas de madeira também foram mantidas.

O acabamento sedoso dos revestimentos compõe-se por vezes de metal, outras de madeira - sempre muito bem polidos, mas também com laminados melamínicos, de textura lisa. Do lado de fora, na fachada, todas as linhas e ornamentos tiveram de ser mantidos.

Luz

A única janela adicionada à velha igreja foi a “Mondriaan”, que modernizou a face para a rua, comunicando, através da antiga forma, um conceito mais contemporâneo, mas sem perder as cores dos vitrais originais da igreja. Esses últimos mantêm seu papel histórico de atrair a luz, refletindo cores.

“Para compensar, uma série de clarabóias laterais, acima dos próprios vitrais, deixam entrar luz do dia”, afirma o arquiteto. Ele garante que essas entradas de luz não têm nenhuma função de dar vista ao mundo exterior: “A questão era puramente trazer iluminação natural, sem interferir na arquitetura”.

No ritmo da composição de interiores, o uso total de revestimentos brancos gerou um contraste profundo, o que embelezou ainda mais o contexto dos vitrais.

Como faltam janelas ao nível dos olhos, o contato com a rua se dá pela nova “janela-Mondriaan”. É por ela que seus moradores contam, de dentro de casa, o desenrolar da história da religião ocidental, sob a perspectiva de uma nova estética, mais adaptada à realidade social do século 21. (Giovanny Gerolla, colaboração para o UOL)

Ficha técnica

Church of the Living, Utrecht, Holanda

Projeto de Zecc Architecten

Detalhes do projeto
  • Área Construída 250 m²
  • Início do Projeto setembro de 2006
  • Conclusão da Obra abril de 2007
  • Projeto Zecc Architecten BNA - Rolf Bruggink e Marnix van der Meer
  • Colaboradores René de Korte, Marc Brummelhuis e Thijs Toxopeus
  • Projeto de Instalações Elétricas Comfort & Installatie te Opheusden
  • Projeto Luminotécnico Springers Utrecht