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Movimento #MeToo chega à Índia e abala Bollywood

O ator Nana Patekar, de 67 anos, foi acusado de estuprar uma colega - Getty Images
O ator Nana Patekar, de 67 anos, foi acusado de estuprar uma colega Imagem: Getty Images

Sébastien Farcis

Da RFI, em Nova Déli

15/10/2018 17h01

A primeira revelação, envolvendo o ator Nana Patakar, ocorreu há duas semanas. Uma atriz indiana, que vive atualmente nos Estados Unidos, acusou o ícone de Bollywood de tê-la agredido sexualmente durante uma gravação em 2008. A denúncia abalou a imagem de Patakar, que parece ter se tornado o “Weinstein” da Índia.

Uma produtora publicou no Facebook sua experiência com Patakar: o ator, descrito como alcoólico e violento, perseguia as atrizes e todos sabiam sobre o assunto. Mas, por ser a estrela da série televisiva mais popular do momento, ninguém ousava fazer uma denúncia.

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A autora do post na rede social conta que, ao tentar se rebelar contra o artista, foi demitida e estuprada.

A produtora afirma que a possibilidade de poder se exprimir abertamente graças às redes sociais foi o que a motivou a se pronunciar 19 anos após os fatos. O ator, por sua vez, disse que as acusações são absurdas e que, de qualquer forma, “ninguém escuta os homens atualmente”.

As vítimas silenciosas dos processos seletivos de filmagem – que passaram pelos famigerados “testes do sofá” – invadiram o Twitter e o Facebook para acusar as estrelas de Bollywood, algumas extremamente famosas, de “toques íntimos, abusos ou estupro”.

As práticas são tão comuns na indústria cinematográfica que, aparentemente, todas as atrizes já sofreram uma agressão. O movimento #MeTooIndia, que chega com um ano de atraso no país em relação ao exemplo norte-americano, recebe o apoio de grandes atrizes indianas, que começaram a recusar contratos com os acusados.

Acusações no meio político

Mas as denúncias ultrapassam o cinema: Mobashar Akbar, um dos grandes nomes do jornalismo indiano, está sendo representado como um “predador sexual e perverso”.

Uma ex-estagiária conta, por exemplo, que os abusos ocorriam no escritório, com o aval silencioso dos colegas, que tinham medo das consequências. Outras mulheres confirmam o relato e o caso atinge dimensões políticas, tendo em conta que Akbar é hoje secretário de Estado das Relações Estrangeiras.

O governo indiano reagiu às acusações e a ministra encarregada da “emancipação das mulheres” afirmou que apoiava cada acusação. Houve também a promessa da criação de um comitê para reforçar as leis sobre as agressões sexuais no mundo profissional. Akbar, até o momento, continua a trabalhar normalmente.