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Infarto mata mais mulheres do que câncer de mama; uma das razões é machismo

Estudos recentes mostram que o número de vítimas abaixo dos 50 era bem maior do que se imaginava - iStock
Estudos recentes mostram que o número de vítimas abaixo dos 50 era bem maior do que se imaginava Imagem: iStock

Da RFI

31/07/2018 11h37

O infarto é a primeira causa de mortalidade de mulheres no mundo. Durante muito tempo, os cientistas acreditaram, entretanto, que os hormônios protegiam as pacientes mais jovens, que ainda não tinham entrado na menopausa.

Estudos mais recentes mostraram que o número de vítimas abaixo dos 50 anos era bem maior do que se imaginava – cerca de 25% do total de ataques.

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O infarto mata hoje mais mulheres do que o câncer de mama. As pacientes têm sintomas diferentes dos homens e, numa idade em que normalmente estão ocupadas com o trabalho e a rotina da família, minimizam os sinais: indigestão, dificuldades para respirar, cansaço e fraqueza.

Quando se dão conta da gravidade do problema, pode ser tarde demais. O que em parte explica que a taxa de mortalidade seja também bem maior entre as mulheres.

A rapidez no atendimento é crucial, diz a especialista francesa Martine Gilard, da Federação Francesa de Cardiologia.

“Se desobstruímos a artéria coronária rapidamente, a parte do músculo destruída será pequena. Se a intervenção é tardia, o músculo será mais afetado. Por isso o infarto é uma emergência”, explica. O pronto-atendimento vai limitar o número de células cardíacas afetadas e diminuir as sequelas.

A prevenção do infarto nas mulheres também é uma questão cultural. Em um mundo dominado pelos homens, as queixas femininas são levadas menos a sério, diz a cardiologista.

“Tem que educar a população. Dizer: fique alerta! Se sua mulher reclamar de dor no peito, pode ser um infarto. E não responder: “não é nada, vai deitar um pouco, você esta estressada”, exemplifica.

A sobrecarga mental e doméstica também aumenta o risco de um novo ataque nas mulheres, ressalta. Isso porque as pacientes ativas que sofreram um infarto, numa proporção bem maior do que os homens, diz a especialista, não fazem a reeducação de maneira correta.

“A mulher, quando é jovem, tem seus filhos, tem sua vida de família. E comum ela vai se recusar a ir no centro de reeducação, porque, além do trabalho, tem sua segunda vida: cuidar da faxina, das crianças e da família. Percebemos que os homens fazem a reeducação, mas as mulheres, com frequência, não. Consequentemente, elas têm menos acompanhamento e podem enfartar novamente”, diz a cardiologista.

Os riscos, como a maioria das pessoas sabe, inclui sobrepeso, tabagismo, hereditariedade, falta de atividade física e stress.

Uma junção de fatores que pode ser fatal se as mulheres ainda incluem nesse pacote os anticoncepcionais. Principalmente aqueles que contêm estrogênio e favorecem a trombose – formação de coágulos na corrente sanguínea.

Stress pode provocar infarto sem outros fatores de risco

O stress isoladamente também pode provocar um infarto, explica a médica francesa, mas este tipo incidente é bem mais raro e corresponde a apenas 1% dos casos – que atingem principalmente mulheres.

Em geral, não há destruição das células coronárias, que voltam ao normal depois de sofrer um “colapso” temporário. Mas esse tipo de ataque também necessita cuidados imediatos, porque também pode matar, sublinha a cardiologista francesa.

A gerente de joalheria paulistana Ligia Folco levou um susto quando, em 2010, aos 42 anos, teve um ataque do coração. Na época, ela estava em boa forma, tinha uma alimentação regrada, corria diariamente e não tinha fatores de risco, mas levava uma vida profissional corrida.

O infarto, acreditam seus médicos, foi causado pelo stress. Ela estava em casa e começou a sentir uma indigestão, acompanhada de uma estranha sensação no peito. “Era como se uma pata de elefante estivesse em cima de mim”, descreve.

Passou a noite sem conseguir dormir e no dia seguinte sentiu fraqueza nos membros. “Percebi que alguma coisa estava errada e pedi à minha mãe que me levasse ao hospital”. Era um infarto.

Depois de três dias na UTI e um cateterismo, Ligia ficou sem sequelas e leva uma vida normal. Mas mudou a maneira de encarar a rotina. “Fiquei bem assustada”, diz. “Comecei a dar valor para as coisas que realmente têm valor. Às vezes a gente se desgasta com bobagens. Aprendi a respirar mais e olhar as coisas com mais calma”, diz.

“Era muito agitada. Quando eu trabalho, fico muito envolvida e a mil por hora”, descreve.