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Experts da moda decretam fim da tendência, mas ela ainda resiste

17/01/2008 14h06

Por Fernanda Ezabella

SÃO PAULO (Reuters) - A tendência está morta, afirmam os especialistas da moda. Viva a tendência, respondem os compradores.

Entre o sim e o não, o fato é que os corredores do São Paulo Fashion Week, que começou na quarta-feira, funcionam como um termômetro das criações que, exibidas há seis meses, pegaram entre as consumidoras.

Tendência, no jargão da moda, é uma idéia que está no ar, muitas vezes soprada da Europa, que aparece nas passarelas e que toma as lojas nos meses seguintes. São as apostas dos estilistas para uma época do ano.

A calça de cintura alta, por exemplo, era uma tendência que demorou algumas estações a vingar, devido ao apego das brasileiras às calças de cintura baixa.

Hoje, no entanto, é possível ver a peça em algumas poucas mulheres -- todas magras, diga-se de passagem. E, quando todo mundo estiver usando, a cintura alta estará no seu auge e, sendo assim, já fora da moda entre os entendidos.

Mas, falar de tendências e de todo seu processo virou tabu no SPFW.

"Tendência, eu não gosto dessa palavra", diz Regina Guerreiro, consultora e editora de moda.

"Porque tendência é uma palavra que não existe mais. A partir do momento que você tem mais de 800 desfiles por temporada, do mundo inteiro, cada estilista fala o que ele tem na cabeça e a mulher fica louquinha, perdida no caos."

Guerreiro ainda usa a palavra impronunciável, mas se corrige, trocando o termo obsoleto por "pistas". "Mas as pistas que eu acho que vão pegar é uma boa jaqueta perfecto, é o mais moderno", disse, bem-humorada, referindo-se a jaquetas justas geralmente feitas de couro.

FIM DAS ESTAÇÕES?

Paulo Borges, diretor do evento, vai além e mata também as estações. "A criação hoje é muito efêmera, cada vez mais rápida. Essas nomenclaturas de inverno e verão não existem mais, estão caindo em desuso", afirma.

"Ninguém mais compra uma roupa porque é verão ou inverno. Compra porque é uma idéia nova, uma imagem nova", diz Borges. "Até porque a tecnologia aplicada ao produto já faz essa adequação de temperatura. Você pode usar uma lã fria no verão, ou um tecido térmico levíssimo no inverno."

Apesar do discurso, a prática ainda é outra. No primeiro dia do evento, os corredores da Bienal, no Parque do Ibirapuera, estavam repletos de novas idéias, mas do evento anterior.

Bermudas sociais com salto alto, vestidos marcados por grandes cintos, óculos tipo abelha e as maxibolsas prateadas não deixam omitir a "tendência" -- ou seria falta de criatividade?

Para Regina Guerreiro, muitas vezes a brasileira interpreta a moda de forma errada e "o que pega na rua é o que não deveria pegar", afirma, lembrando o horror que tem pela bermuda com salto e as sandálias "gladiadoras", que chegam até o tornozelo.

Seja o que for, melhor adaptar o vocabulário.

"Eu sou a pessoa errada para falar de tendência", respondeu o estilista Fause Haten, ao ser perguntado sobre "aquilo". "Não acredito nisso. Mas posso te falar daquilo que eu estou propondo."