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Relacionamento tóxico: os primeiros passos para sair dessa roubada

Podemos estar preservando uma realação tóxica sem perceber... - iStock
Podemos estar preservando uma realação tóxica sem perceber... Imagem: iStock

Claudia Dias

Colaboração para Universa

19/05/2019 04h00

Nem sempre é algo claro, a ponto de os mais próximos e (principalmente) a vítima perceberem, mas o relacionamento tóxico é muito mais comum do que se imagina. Esse tipo de relação, aliás, não se limita ao contexto amoroso.

Pode ser identificado em qualquer cenário: na família, entre amigos e mesmo no ambiente de trabalho. Se reconhecer o problema é complicado, sair dele tende a ser ainda mais difícil - mas não é impossível.

Por relacionamento tóxico entenda-se aquele que bate de frente com toda manifestação espontânea e saudável de um indivíduo. "É o que te impede de ser 'você', com toda a sua essência. É o que mente, manipula e faz mais chorar do que sorrir. É quando você se desconhece e se anula para tentar se adequar às vontades do outro", descreve Bruna Stamato, neurolinguista, autora de "Você merece um amor bom".

Este tipo de relação bombardeia o amor-próprio e gera uma autoimagem deturpada. "Acarreta danos principalmente emocionais, como: autoestima rebaixada, humilhação física e verbal, esgotamento físico, cansaço, tristeza profunda, perda da própria identidade. Acontece sutilmente e vai passando dos limites, até causar sofrimento e dor", aponta Linda Vieira, psicóloga e coaching psychology.

Algumas situações tóxicas

  • Tratar o par como propriedade, disfarçado de ciúme, do tipo "Eu cuido do que é meu".
  • Jogar a culpa dos problemas da relação no outro e jamais assumir a responsabilidade.
  • Ditar as regras e os limites do relacionamento e até impor obrigações para as partes.
  • Criticar duramente as escolhas do amigo, deixando-o para baixo com os comentários.
  • Destratar o filho que não corresponde ao desejo de sucesso projetado.
  • Ameaçar terminar a relação com chantagem emocional, explorando o medo alheio.
  • Não responder às mensagens e ligações como forma de punição por alguma contrariedade.
  • Fazer bullying, humilhando o colega de trabalho em tom de brincadeira, na frente de outras pessoas.
  • Negar atitudes e manipular psicologicamente, fazendo o outro se autoquestionar - "Será que eu disse aquilo?" ou "Então foi minha culpa?"
  • Falar frases do tipo: "Nunca tive esse tipo de problema em nenhum relacionamento anterior, só com você" e "Não sei como te aguento! Ninguém mais vai te aturar".

O psiquiatra Luiz Scocca pontua que há muitos sinais indiretos num relacionamento tóxico. De acordo com ele, são comportamentos comuns do abusador: ironia, piadinhas constantes; ciúme excessivo; relações extraconjugais e traições; forçar relação sexual e comportamentos indesejados; ignorar e excluir a pessoa no ambiente de trabalho; provocar com comentários sexistas; abusar do poder econômico, posição social, hierarquia ou uma combinação desses cenários.

Como se livrar dessa situação

1. Reconheça que a relação é tóxica

Esse é o primeiro grande passo, que pode ser o mais difícil e, também, o mais demorado, por diferentes razões. Para chegar aí, é preciso avaliar racionalmente o cenário, fazendo autoquestionamentos, do tipo: sente culpa, vergonha ou medo frequente do par? Se afastou dos amigos e da própria família? Sempre espera que o outro cumpra a promessa de que vai mudar?

2. Tenha firmeza nas atitudes

Definir os limites pessoais é bem importante. Entretanto, vale lembrar que esta é uma referência particular, pois o que é ok e aceitável para um pode não ser para outro. Ainda mais imprescindível é não ultrapassar os parâmetros determinados.

A autorresponsabilidade é muito necessária, ou seja, ser fiel, honesta, coerente e autêntica com suas verdades. Isso leva ao maior autocontrole, reconhecendo as reais necessidades e o que realmente lhe faz bem.

3. Fortaleça o amor-próprio

"Pode soar clichê, mas o amor-próprio é um bote de salvação. Quando o respeito por si mesma volta a falar mais alto, tira da posição de vítima e cria força para ir à luta, resgatando a confiança para curar a autoestima adoecida", ponta Bruna Stamato.

Quando essa autoestima é restabelecida, vem à tona a consciência do merecimento de uma vida melhor. Uma atitude importante para esse passo é buscar o autoconhecimento.

"É ir atrás de conhecer a si mesma, sua história, sua personalidade, qualidades, pontos fortes e, também, fraquezas. Tudo isso faz parte nesse processo para identificar onde está insegurança e, a partir daí, promover pequenas mudanças para ir alterando a condição", ensina Linda.

4. Busque e aceite ajuda

Ao se sentir mais confiante, converse com alguém. Pode ser o médico, algum parente, amigo, líder religioso, vizinho?. "Fale, mesmo que esteja com medo de não acreditarem, mesmo que isso faça parte das ameaças do abusador", recomenda Luiz Scocca.

Também não negue apoio, inclusive financeiro, o que pode fazer toda diferença em momentos críticos. "Peça, aceite e saiba que haverá uma queda no padrão de vida por um tempo, mas valerá a pena", acrescenta o especialista.

5. Corte relações

Tenha ciência de que todo esse movimento vai exigir força de vontade e foco e, talvez, atitudes mais drásticas, como afastar-se completamente do abusador. Se for o chefe do trabalho, concentre suas energias em conseguir um novo emprego; se for uma relação amorosa ou fruto de amizade, corte relações e elimine as formas de comunicação, como redes sociais e WhatsApp. Não tenha medo de dar atenção e correr atrás só do que lhe faz bem.