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Juíza-ícone pop, que tem boneca e camisetas com seu rosto, agora terá filme

Jacqueline Elise

Da Universa

18/05/2019 04h00

Ruth Bader Ginsburg, juíza da Suprema Corte dos Estados Unidos, se tornou uma referência política por defender os direitos das mulheres, negros e LGBTs desde que mulheres ainda eram malvistas nas universidades, nos anos 1950. Por seu trabalho, acabou virando ícone da cultura pop, com camisetas estampadas com seu rosto sendo vendidas --ela também ganhou o apelido "Notorious R.B.G." ("Notória R.B.G.", em inglês), uma ode ao rapper Notorious B.I.G.

Nascida em 1933, no bairro do Brooklyn, Nova York, Ruth foi uma jovem muito estudiosa e reservada. Foi estudar Direito em Harvard, em 1956, onde era uma das nove mulheres entre 500 homens que integravam sua turma, e terminou sua formação na Universidade de Columbia, onde foi reconhecida como uma dos 250 melhores de seu ano. Ela teve muita dificuldade de encontrar emprego na área por ser mulher, mas sempre fez questão de lutar para que seu gênero tivesse direitos.

Em 1980, o presidente Jimmy Carter a indicou para ocupar uma vaga no Tribunal de Apelações dos Estados Unidos para o Circuito do Distrito de Colúmbia. Em 1993, Bill Clinton a nomeou Juíza Associada da Suprema Corte, cargo que ocupa até hoje e que, aos 86 anos de idade, ainda não tem intenção de largar.

A trajetória de Ruth e sua ascensão ao "posto" de referência cultural foram retratadas no documentário "A Juíza", que concorreu ao Oscar de Melhor Documentário e Melhor Canção Original em 2019 e que será lançado no próximo dia 23 em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Distrito Federal, com entrada franca entre os dias 23 e 26 de maio.

No filme, a família, amigos, colegas e até adversários de Ruth falam sobre sua história, sua personalidade, força e inteligência, e a própria juíza também reconta momentos marcantes de sua vida e dá mais detalhes sobre seu gostos pessoais: ela é uma grande fã de óperas, frequenta teatros até hoje e consegue manter amizades até mesmo com quem era seu contraponto direto na Suprema Corte. A Universa cita quatro pontos interessantes sobre a vida de Ruth retratados no documentário:

1. Abrindo caminhos para as mulheres

Ruth sempre teve como objetivo mudar a realidade das mulheres de seu tempo que, apesar de já poderem estudar e trabalhar, ainda sofriam discriminação no mercado de trabalho e não tinham direito aos mesmos benefícios que os homens.

Sua capacidade argumentativa em tribunal impressionava, e ela foi vitoriosa em cinco dos seis casos que defendeu perante a Suprema Corte, antes de se tornar juíza. Além disso, Ruth defendia tanto mulheres quanto homens quando o assunto era assegurar seus direitos.

2. Respeitada até mesmo por adversários

Ela nunca se exaltava quando representava alguém em tribunal. Sua tática, afirma, era usar a lei para provar seu ponto e convencer o júri com argumentos embasados. A retórica de Ruth é ovacionada até mesmo por quem a considera uma adversária ou por colegas de profissão com visões políticas totalmente opostas --"A Juíza" destaca, especialmente, a amizade que ela criou com o juiz ultraconservador Antonin Scalia, morto em 2016, que era contra diversas medidas que garantiam os direitos das minorias. "Ele sempre me fazia rir", diz Ruth em determinado momento.

3. O apoio incondicional do marido

Ruth conheceu Martin Ginsburg, seu marido, quando ela se formou em artes na Universidade Cornell. Os dois eram bem diferentes um do outro: Marty, como ela o chama, era extrovertido e piadista, enquanto ela era mais calma e reservada. Ela ressalta que ele sempre a apoiou em tudo, e ele se sentia confortável em ter menos destaque em sua área do que ela --Marty também se formou em direito e era considerado um dos melhores advogados fiscais de Nova York. Eles tiveram dois filhos juntos, Jane e James Ginsburg. Marty morreu em 2010 em decorrência de um câncer. Ruth o considera o amor de sua vida.

4. De magistrada à referência da cultura pop

Após a indicação para a Suprema Corte, Ruth se popularizou com o bordão "Eu discordo" ("I dissent"): ela ficou conhecida por ser uma voz dissonante quando medidas que poderiam minar direitos de mulheres, negros e LGBTs corriam o risco de serem aprovadas pelas Suprema Corte.

O apelido de "Notória R.B.G." surgiu após a publicação da biografia "Notorious R.B.G.: The Life and Times of Ruth Bader Ginsburg" ("Notória R.B.G.: A vida e os tempos de Ruth Bader Ginsburg"), escrita por Shana Knizhnik e Irin Carmon. Camisetas, canecas e bonecas com a imagem da juíza passaram a ser vendidas e ela se tornou uma feminista-ícone para muitas jovens, e já foi parodiada pelo programa de TV "Saturday Night Live".