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Na Dinamarca, uma em cada seis pessoas se considera feminista, diz pesquisa

Na Dinamarca, mulheres toleram assédio como assobio. A atitude é considerada elogio - Getty Images/iStockphoto
Na Dinamarca, mulheres toleram assédio como assobio. A atitude é considerada elogio Imagem: Getty Images/iStockphoto

Da Universa

11/05/2019 10h24

A Dinamarca é considerado um dos melhores lugares do mundo para ser mulher: tem pouca disparidade salarial entre os gêneros, igualdade de direitos trabalhistas, entre outros. É lá também onde moram algumas das mulheres aposentadas mais felizes do planeta. Mas é também um dos países menos feministas do mundo desenvolvido, conforme pesquisa global sobre atitudes em relação a gênero e direitos iguais.

O levantamento, conduzido pelo YouGov-Cambridge Globalism Project -- estudo anual sobre populismo e estado público de globalização -- com mais de 25 mil pessoas em 23 países importantes, descobriu que apenas um em cada seis dinamarqueses se considera feminista. Um terço disse ser aceitável um homem assobiando para mulheres na rua, e dois em cinco disseram ter uma visão desfavorável do movimento #MeToo (iniciativa que teve início em 2017 depois das alegações de estupro contra o poderoso produtor cinematográfico americano Harvey Weinstein).

De acordo com os dados, apenas um quarto das dinamarquesas se consideram feministas, um forte contraste com a vizinha Suécia (46%), e uma parcela menor até mesmo em países como Itália, Espanha e Reino Unido, que estão muito atrás da Dinamarca em igualdade de gênero.

Segundo reportagem do The Guardian, até a ministra da igualdade da Dinamarca, Karen Ellemann, declarou que não se considerava feminista quando assumiu o cargo, há três anos. De uma dúzia de mulheres abordadas, apenas uma apresentou familiaridade como termo feminista.

"Sim, eu tenho três filhas e as criei como feministas", disse Charlotte Mathiesen. "O homem tem que fazer exatamente os mesmos trabalhos que as mulheres", completou ela ao The Guardian.

Os números mostram que há mais dinamarquesas felizes com os assobios dos homens nas ruas do que as chamadas feministas. Um terço total diz que esse tipo de assédio é aceitável. Entre as justificativas, as entrevistadas disseram considerar o assobio um elogio.

Rikke Andreassen, professor de Estudos da Comunicação na Universidade de Roskilde, argumenta que uma das razões pelas quais os dinamarqueses toleram o assédio sexual considerado de baixo nível é a crença de que o que se entende bem deveria ser desculpado.

"Tivemos uma cultura em que o você diz não é racista ou sexista caso não tenha sido essa a intenção", explica. "Você pode agarrar uma mulher, mas se fez isso como brincadeira, então culturalmente nós tendemos a pensar que não é tão ruim assim."

Isso pode ser parte da razão pela qual o debate desencadeado pelo movimento #MeToo teve um desempenho tão diferente na Dinamarca do que na Suécia.

Apenas 4% dos homens e 8% das mulheres na Dinamarca questionados na pesquisa disseram ter uma impressão "muito favorável" do movimento #MeToo, em comparação com 16% e 34% na Suécia, e 19% e 24% em todo o país.