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Morte no desafio do desodorante: como prevenir que os filhos se envolvam

Polícia suspeita que adolescente em SC morreu tentando inalar desodorante sem respirar - Getty Images/iStockphoto
Polícia suspeita que adolescente em SC morreu tentando inalar desodorante sem respirar Imagem: Getty Images/iStockphoto

Jacqueline Elise

Da Universa

04/05/2019 04h00

No último dia 30 de abril, uma adolescente de 17 anos foi encontrada morta em sua casa, em Guarujá do Sul (SC). A polícia suspeita que ela tenha morrido asfixiada tentando cumprir o chamado "desafio do desodorante", que circulou na internet. A Universa não explicará como é o desafio para não induzir comportamentos.

O "desafio do desodorante" não é novo --em 2018, uma menina de 7 anos morreu por causa dele--, mas voltou a circular na internet um ano depois. Especialistas explicam por que os casos costumam se repetir e como prevenir que os filhos participem de atividades perigosas como essas.

Exposição na internet e "cobrança" incentivam jovens

Andrea Ramal, educadora, escritora e consultora em Educação e Doutora em Educação pela PUC-Rio, explica que, apesar desses "desafios" não serem exatamente novidade para os jovens, a internet se torna um agravante graças à exposição do adolescente ao conteúdo e ao fato da exposição online.

"Agora, a graça para eles é gravar o desafio e postar na internet. No caso de adolescentes, é normal que eles tenham menos percepção do perigo e do autocontrole. Ele se sente forte, ainda não encarou as fragilidades da vida adulta. Assumir um risco como esse traria, na cabeça do jovem, a admiração dos outros e evitaria o bullying. O papel dessa plateia que assiste e incentiva esse comportamento é muito nocivo".

Sem pânico ao tratar o assunto

A psicanalista e psicopedagoga Mônica Pessanha alerta que é preciso ter cuidado ao tratar do assunto para não "aumentar" a questão: em 2017, o "jogo da Baleia Azul" tomou grandes proporções, assim como a Momo em 2018 e em 2019. Em ambos os casos, eles viraram fenômenos pelo pânico gerado nos pais, mas não necessariamente pela incidência de casos.

"Ter acesso à informação de qualidade é fundamental, para que a coisa não se torne algo muito maior do que realmente é. Depois, os pais podem alertar os filhos e outras pessoas também, mas sem generalizar e sem fazer alarde. O melhor é tratar como algo que precisa ser conversado seriamente".

Para iniciar a conversa com as crianças e os jovens, é preciso ter acesso ao mundo deles. "Dificilmente, o adolescente não sinaliza antes o que está acontecendo com ele, o que ele está sentindo. Ele demonstra isso com uma música que gosta muito de ouvir, no estilo de se vestir, nos assuntos que quer conversar com os pais... É importante os pais demonstrarem interesse pela vida do filho", diz Mônica.

A psicanalista também fala da importância de ensinar a criança a fazer boas escolhas desde cedo. "Muitas vezes, a educação em casa é imperativa: 'faça isso', 'faça aquilo', 'isso não pode', 'isso pode'. E não possibilitam situações em que a criança exerça a escolha, para aprender a tomar decisões e saber que elas têm consequências".

"Os pais precisam trazer essa discussão para dentro de casa falando sobre como o filho não precisa se deixar levar pelo que todo mundo faz. Não é porque um youtuber mostrou algo na internet que está certo, e as crianças e jovens precisam saber avaliar isso", diz Andrea.

Rubia Ferrão, advogada especialista em direito constitucional e professora de direito digital, afirma que os pais, também, precisam acompanhar a atividade dos filhos nas redes sociais. "Eles podem acompanhar o histórico de navegação dos filhos para saber o que foi acessado, que tipo de termos eles costumam buscar, as pessoas que seguem nas redes, para entender o que os agradam e o que chama mais a atenção deles".

Escola tem papel fundamental

As especialistas também ressaltam a importância de tratar sobre o assunto no ambiente escolar, onde o jovem vai ter a maior parte da sua vivência e, talvez, tenha a chance de entrar em contato com tais "desafios".

"Seria interessante que a escola falasse o tempo todo sobre isso, e não só quando 'estoura' algum caso assim, de alguém morrer por seguir uma 'brincadeira'. Tem que ser constante esse contato com especialistas, com professores orientando e ouvindo as necessidades dos alunos. Muitas vezes, eles só precisam de espaço para se abrirem", afirma Mônica.

Rubia salienta que, hoje, é possível que as escolas também incluam, em seu cronograma, aulas de educação digital, nas quais os jovens podem aprender a usar a internet de forma responsável e tirar proveito do melhor dos sites que costumam navegar.

Tomando medidas legais

Caso os pais se deparem com vídeos ou conteúdo incentivando práticas perigosas como o "desafio do desodorante", Rubia afirma que o conteúdo pode ser enquadrado no artigo 122 do Código Penal brasileiro: "Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça". A pena é de dois a seis anos e pode ser duplicada caso a vítima seja menor de idade. Além disso, o conteúdo pode ser denunciado no site da Safernet.