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Maria do Rosário: "Sou a favor da liberdade de expressão, não do ataque"

Deputada Maria do Rosário (PT-RS) - Fátima Meire/Futura Press/Estadão Conteúdo
Deputada Maria do Rosário (PT-RS) Imagem: Fátima Meire/Futura Press/Estadão Conteúdo

Nina Lemos

Colaboração para Universa

12/04/2019 04h00

"Eu espero que a condenação de Danilo Gentili seja educativa e possa mostrar para as pessoas que precisamos nos tratar com respeito e delicadeza, tanto nas redes sociais, no parlamento, como na vida em geral".

Quem fala isso é a deputada Maria do Rosário, um dia depois do resultado da sentença em processo movido por ela por injúria e que condenou o humorista Danilo Gentili a seis meses e 28 dias de prisão no regime semiaberto.

Rosário, que conversou com exclusividade com a Universa, não celebra a sentença. "Não comemoro a desgraça de ninguém, não pedi a prisão. Isso foi decisão da juíza, mas nem acho que vai ocorrer".

Uma sentença de seis meses no semiaberto geralmente é transformada em outra coisa. Mas isso não me importa, nem me diz respeito. O que me importa e o que celebro, é a justiça."

Liberdade do ódio

Rosário faz questão de deixar claro que é a favor da liberdade completa de expressão. "Sou totalmente a favor da crítica política, de toda crítica social, cada um pode falar o que quiser. Se quiserem criticar minhas ideias políticas, sintam-se a vontade. Eu luto pela liberdade de expressão. O que não posso tolerar é a liberdade de ataque, de agressão e a pregação do ódio. Isso tem que ser combatido em todos os espaços."

A deputada tem processos contra o humorista que correm desde 2016. O primeiro foi por causa de um tuíte em que ele dizia que quem encontrasse a Maria do Rosário poderia bater e cuspir nela.

"Quando li esse tuíte, me senti agredida, ele não só estava me agredindo como estava propondo que qualquer pessoa que me encontrasse na rua o fizesse. Isso é uma coisa perigosa. Olha o país em que estamos vivendo. Uma pessoa já foi morta [ela se refere a Marielle Franco]".

Quis explicar para ele que isso era perigoso, que ele podia acabar sendo responsável por um ato que nem era objetivo dele."

No dia seguinte ao resultado da sentença, ela afirma que até setores progressistas estão fazendo uma confusão entre liberdade de expressão e incitação à violência.

"Meu objetivo não era de censura. Era contra os ataques de ódio, contra a violência. O humor não deve ser censurado, nem é. Você pode ver: Jô Soares, Chico Anísio e outros humoristas fazem essas coisas? Atacam as pessoas? Não. Eles fazem humor, um humor que pode até ser discutido, mas não agride."

O processo

E conta mais sobre o processo. "Mandei, por meio da procuradoria da câmara, uma carta pedindo que ele explicasse que não estava sendo literal quando disse que as pessoas podiam me bater. Não era nem pedindo que ele apagasse o tuíte."

E a resposta demorou um ano: "Aí ele fez aquele vídeo, em que esfrega a carta nas partes íntimas e fala coisas que eu nem gosto de repetir. Ele tem que entender que não está acima da lei", disse a deputada.

Depois disso, segundo ela, eles tiveram duas audiências conciliatórias. "Ele se negou a entender e conversar comigo e continuou a me atacar nas redes. Disse que eu era uma puta e, depois, que isso era uma forma de humor 'ácido'".

Tentei explicar para ele que tinha uma filha, que ela também sofre com as agressões que recebo. Mas ele não parou".

Ataques nas ruas

Nesse meio tempo, a deputada conta já ter sofrido inúmeros constragimentos nas ruas. "Você não sabe quantas coisas eu já ouvi depois disso. Quantos homens já pararam na rua e fizeram o mesmo movimento para mim, de colocar a mão entre as calças, imitando o que ele fez no video."

E como você aguenta?, pergunto. "Porque tenho o comprometimento com a minha causa, que são os direitos humanos. Por isso mesmo processei. Como cidadã, e como parlamentar, tenho que dar o exemplo. Vou deixar pisarem no meu pescoço? Não é esse exemplo que quero dar para as mulheres que confiam em mim."

Ela espera que a condenação represente mais mulheres. "Todas aquelas que já se sentiram atingidas por ele podem pensar que foi uma vitória delas também. Porque o que ele faz é um abuso do poder. Com um milhão de fãs, ele tem o poder de colocar milhares de pessoas contra alguém. E, fora disso, ele famoso, faz filmes para adolescentes, esse exemplo de ódio não é bom para a sociedade."

A vitória, segundo ela, é principalmente das mulheres.

Existem setores masculinos que não entendem que nós, mulheres, podemos ter espaço de poder, voz, que querem nos calar."

E o que pensou Maria do Rosário ao ver a reação do Presidente Jair Bolsonaro, que escreveu um tuíte de solidariedade à Danilo Gentili? "No primeiro momento, pensei, nossa, isso diz muito sobre ele, presta essa solidariedade e não disse nada sobre o Evaldo, que foi morto com 80 tiros pelo exército. Depois pensei: ah, o que eles têm em comum? Os dois foram processados por mim e perderam. Então, acho que foi a abraço dos afogados."