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Malunguinho sobre deputado que disse ser gay após transfobia: "Não ameniza"

Os deputados estaduais paulistas Érica Malunguinho (PSOL) e Douglas Garcia (PSL) - Folhapress
Os deputados estaduais paulistas Érica Malunguinho (PSOL) e Douglas Garcia (PSL) Imagem: Folhapress

Mariana Gonzalez

Da Universa, em São Paulo

08/04/2019 16h15

Resumo da notícia

  • Érica Malunguinho (PSOL), primeira transsexual eleita em SP, protocolou na quinta-feira (4) requerimento pela cassação de Douglas Garcia (PSL)
  • Ela alega falta de decoro parlamentar e acusa Garcia de transfobia após declarar que expulsaria "a tapas" uma mulher trans do banheiro feminino
  • No dia seguinte, Garcia se defendeu das acusações alegando que é gay por meio de um discurso da colega de partido, Janaina Paschoal
  • Em comunicado, Malunguinho desejou felicidades ao parlamentar, mas disse que sua orientação sexual "em nada ameniza a incitação ao ódio e à violência"

Érica Malunguinho (PSOL), primeira e única parlamentar transexual a ocupar uma cadeira na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), emitiu um comunicado desejando felicidades ao colega Douglas Garcia (PSL), que afirmou ser gay na última sexta-feira (5) -- dois dias depois de ser acusado de transfobia e sofrer um processo de cassação, movido pela própria deputada.

Na quarta-feira (4), Garcia disse, em plenário, que expulsaria "a tapas" uma mulher trans de um banheiro feminino, se referindo a este grupo como "homem que se acha mulher".

Em comunicado à imprensa divulgado nesta segunda (8), Érica Malunguinho disse que assumir a homossexualidade "em nada ameniza sua fala de incitação ao ódio e à violência", mas que espera que o colega "seja feliz".

"Aproveite uma vida livre que te faça dormir com a cabeça tranquila sabendo que pode amar quem você quiser", escreveu. "Mesmo que você insista em negar, saiba que isso só foi possível e continuará sendo porque militantes LGBT e organizações de direitos humanos fertilizaram o solo para você brotar".

Malunguinho acredita que a demora do deputado estadual, que tem 25 anos, em falar abertamente sobre a sexualidade "faz parte de uma construção social extremamente excludente", que faz com que LGBTs "se submetam a violência física e emocional".

Universa confirmou com a assessoria da deputada que ela vai manter o processo interno pela cassação de Douglas Garcia.

Entenda o caso

"Se um homem que se acha mulher entrar no banheiro em que estiver minha mãe ou minha irmã, tiro o homem de lá a tapas e depois chamo a polícia", disse Douglas Garcia, em plenário, durante uma sessão que debatia critérios para a participação de atletas trans.

Érica Malunguinho não só rebateu o colega por sua fala transfóbica, como anunciou que o denunciaria por falta de decoro parlamentar.

No dia seguinte, a deputada do PSOL protocolou um requerimento pedindo a cassação de seu mandato, com o apoio das bancadas do PT, da Rede, do PCdoB e de parte do PSB. O deputado estadual Carlos Giannazi, seu colega de partido, prometeu levar o caso ao Colégio dos Líderes e à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa na terça-feira (9).

Na sexta, Douglas Garcia se defendeu das acusações de transfobia dizendo que é gay, por meio de anúncio feito pela deputada estadual Janaina Paschoal (PSL), em plenário.

"Ele [Douglas] tomou a decisão, e como ele está um pouco abalado, pediu para eu fazer essa comunicação por ele. Porque hoje, depois de 25 anos, ele conseguiu conversar com os pais dele e dizer que é homossexual", afirmou a deputada no microfone.

Em entrevista à Universa, Garcia afirmou que a primeira medida após se assumir gay é pedir ao presidente Jair Bolsonaro, do mesmo partido, para flexibilizar o manejo de arma de fogo. "É bem fácil: se um cara homofóbico vem me agredir por ser gay, eu uso minha arma de fogo para me defender".