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Por que mesmo com acusações de racismo Paula é uma das favoritas do BBB?

Paula se envolveu em polêmicas e, nos casos de grande repercussão, a família se pronunciou através das redes sociais se desculpando pelos discursos - Reprodução/GloboPlay
Paula se envolveu em polêmicas e, nos casos de grande repercussão, a família se pronunciou através das redes sociais se desculpando pelos discursos Imagem: Reprodução/GloboPlay

Ana Bardella

Colaboração para Universa

07/04/2019 04h00

Desde que se apresentou pela primeira vez no Big Brother, Paula Sperling, de 28 anos, chamou a atenção do público. Com o discurso de que não tinha amigos, somente uma porca de estimação, a mineira formada em Direito rapidamente se transformou em uma das personalidades mais comentadas da edição.

Graças as suas falas "sem filtro", ao longo do programa virou notícia diversas vezes, na maior parte delas acusada de ser preconceituosa. Racismo, homofobia e intolerância religiosa foram algumas das palavras associadas ao seu comportamento.

Houve casos em que a repercussão foi tanta que a família da mineira precisou se pronunciar através das redes sociais se desculpando pelos discursos. Em outras, a edição do BBB foi questionada por não exibir as partes mais polêmicas dos diálogos, o que poderia favorecer seu desempenho no jogo. Depois de uma conversa com Maycon na qual disse "ter medo Oxum", a polícia recebeu queixas de intolerância religiosa e uma investigação foi iniciada. Rodrigo, participante colocado no paredão por Paula, compareceu à delegacia para depor contra a ex-colega de confinamento.

O sucesso da participante causa espanto em uma parcela da sociedade. A pergunta que se faz é: mesmo envolvida em tantas situações preconceituosas, como pode ter permanecido no jogo tanto tempo, se estabelecendo como uma das favoritas do público?

Portas abertas

Luana Génot, diretora executiva do ID_BR, explica que o Brasil é estruturalmente racista. "Esse é um dos motivos pelos quais os racistas têm sempre as portas abertas no país. Hoje em dia uma pessoa comete um ato de preconceito, pede desculpas nas redes, vira youtuber e o canal bomba ou ela ganha milhares de seguidores no Instagram. Enquanto isso a saúde física e mental da vítima fica comprometida", exemplifica.

"O racismo estrutural gera pessoas cínicas. Mesmo convivendo com militantes, racistas fazem questão de não entender as colocações, pois isso envolve percepção de privilégios e às vezes a perda deles. Ninguém quer perder privilégios. Por isso a tentativa de desqualificar o discurso como exagero ou 'mimimi': trata-se de uma estratégia para reduzir e encerrar qualquer tipo de debate. Essa é uma das razões pelas quais é tão difícil combater o racismo no Brasil", opina.

Racismo velado

"Pessoas racistas não gostam de se assumir dessa maneira", explica Livia Marques, psicóloga organizacional e clínica. "O racismo velado faz parte da cultura do país. As pessoas gostam de usar argumentos clichês como 'tenho amigos negros', 'já namorei negros', 'o pai do tio do meu avô era negro' e por aí vai.

Quando, na verdade, isso nunca isentou e nem vai isentar alguém de ser racista. Uma pessoa desse tipo pode conviver com negros tranquilamente, mas, a partir do momento em que lhe nega uma oportunidade de trabalho por enxergá-lo como um ser inferior ou ofende sua dignidade por conta da cor da pele, está perpetuando todas as piores esferas do preconceito, mesmo que aperte a mão ou abrace a pessoa", complementa Luana.

Jeito espontâneo?

Em momentos de exibição ao vivo do programa, Paula defendeu sua permanência no jogo com o argumento de que é uma pessoa "espontânea" - na tentativa de amenizar possíveis falas controversas no jogo. A participante gosta de reforçar a ideia de que não mede as palavras. "A espontaneidade não importa aos negros se não ofendê-los. No entanto, a partir do momento em que vira discriminação pela cor, isso não pode ser chamado de atitude espontânea, mas sim de atitude racista. As pessoas precisam começar a dar a nomenclatura certa para as coisas", defende Luana.

Diálogo é a solução?

De acordo com a especialista existem várias formas de desconstrução do racismo. "Entendê-lo pelo amor, através do diálogo, exige empatia da outra parte", sinaliza. "No entanto, quando a empatia não acontece, é preciso que entenda por outros meios: seja sofrendo uma ação judicial, perdendo clientes na empresa, sofrendo diminuição dos lucros, tendo sua vida pessoal exposta, entre outros", conclui.