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Deputado de fala transfóbica revela ser gay e defende arma contra homofobia

Marcos Candido

Da Universa

05/04/2019 18h43

O deputado estadual Douglas Garcia (PSL) ouvia atentamente enquanto a deputada Janaína Paschoal, sua colega de partido, anunciava a todos os deputados algo que ele havia mantido em segredo até mesmo da família.

"Ele [Douglas] tomou a decisão, e como ele está um pouco abalado, pediu para eu fazer essa comunicação por ele. Porque hoje, depois de 25 anos, ele conseguiu conversar com os pais dele e dizer que é homossexual", afirmou a deputada no microfone da tribuna.

A declaração aconteceu nesta sexta (5), um dia dia depois da deputada Érica Malunguinho (PSOL) pedir a cassação do mandanto de Douglas. Na quarta (3), o deputado afirmou que expulsaria "a tapas" caso encontrasse uma pessoa trans em um banheiro feminino.

Transfobia no plenário

"Se um homem que se acha mulher entrar no banheiro em que estiver minha mãe ou minha irmã, tiro o homem de lá a tapas e depois chamo a polícia", disse, em plenário, em uma sessão que debatia critérios para a participação de atletas trans.

Em entrevista à Universa, Douglas diz que a primeira medida após se assumir gay é pedir ao presidente Jair Bolsonaro, do mesmo partido, para flexibilizar o manejo de arma de fogo. "É bem fácil: se um cara homofóbico vem me agredir por ser gay, eu uso minha arma de fogo para me defender", diz.

Apesar disso, o deputado nega que tenha sofrido homofobia. "Me incomoda o preconceito em geral", diz. "A essas pessoas que agridem os outros com violência não vamos combatê-las problematizando. Você não vai combater criando textão no Facebook ou tentando conscientizar. Quando a pessoa é ruim, ela é ruim", defende.

Segundo ele, o anúncio não é uma tentativa de abafar um processo contra seu mandato. "Até porque o processo não vai ser arquivado e continua", rebate.

Bolsonaro é inspiração

Douglas é negro e um dos articuladores do bolsonarismo na periferia de São Paulo. O deputado diz que o presidente Jair Bolsonaro é sua grande inspiração. No ano passado, ele foi um dos fundadores do bloco Porão do Dops, proibido pela Justiça de desfilar durante o Carnaval.

Depois da repercussão da fala transfóbica, Douglas diz que antigos parceiros ameaçaram revelar sua orientação sexual. "Para não me chamarem de cínico ou por quererem revelar uma coisa de foro íntimo, eu resolvi trazer a público", diz.

Na ocasião, a própria Janaína deu um puxão de orelha em plenário no colega de partido. "A gente pode defender as ideias de uma maneira mais cautelosa, de uma forma mais cortês. Nós assumimos o compromisso, como bancada, de conversar com o colega [Douglas Garcia]", afirmou Paschoal, em plenário.

"Meu comentário não foi transfóbico porque eu usei uma figura de linguagem. De fato, na percepção de alguns parlamentares eu posso ter cometido algum tipo de excesso, porém eu utilizei uma figura de linguagem", tenta explicar.

Em coletiva, deputados repudiaram ofensas

A 19ª legislatura da Alesp tomou posse há pouco mais de duas semanas e, até o episódio de transfobia de quarta-feira, Malunguinho afirmou em coletiva que não havia sofrido nenhum tipo de violência ou constrangimento na Casa. "Pelo contrário, fui acolhida", afirmou em coletiva de imprensa.

Ela é a primeira mulher negra transexual a se tornar deputada estadual em São Paulo. A deputada comentou que, após a repercussão do caso, recebeu apoio não só dos partidos citados, mas também de colegas à direita.