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Tragédia de Suzano: como trabalhar o luto nas crianças

O ataque a tiros na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, nesta quinta-feira (13) chocou o Brasil e o mundo - EPA/SEBASTIAO MOREIRA
O ataque a tiros na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, nesta quinta-feira (13) chocou o Brasil e o mundo Imagem: EPA/SEBASTIAO MOREIRA

Lucas Vasconcellos

Colaboração para Universa

14/03/2019 04h00

Na tarde da quarta-feira (13), dois homens entraram na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, e atiraram contra alunos e funcionários. Os bandidos morreram, assim como cinco estudantes e dois colaboradores do colégio, além de um comerciante. A notícia choca e assusta, mas, infelizmente, não é a primeira vez que ocorre no Brasil.

Passados alguns dias, apesar de todo o trauma da situação, será preciso que os alunos retornem a sua rotina e voltem a instituição de ensino. Junto a isso, eles estarão lidando com o luto, o medo e toda a carga emocional que uma situação como esta traz. Ajudá-los a passar por isso não é uma tarefa fácil, mas é possível.

"O luto precisa ser vivenciado e os pais precisam acolher, conversar e responder às perguntas dos filhos. Não dá para negar o que aconteceu, é necessário amparar e oferecer suporte às sequelas que podem surgir a partir dessa experiência traumática", conta a neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento humano pela USP, Deborah Moss.

É impossível mensurar a dor, mas, ao contrário de uma morte já esperada, como a de um parente que está doente, a situação da escola de Suzano é muito abrupta, cita Deborah. E embora a tristeza seja individual, nesse caso ela também é coletiva -- escola e cidade estão em luto. "Como o colégio faz parte da rotina, todos ali precisam de apoio profissional, de um espaço para que tanto os alunos quanto os profissionais possam expor os sentimentos", diz a profissional.

De olho nos sinais

Não dá para dizer se vivenciar uma experiência cruel como este massacre irá gerar traumas posteriores na criança. Mas é possível ficar de olho em alguns sinais. "O que eu tenho estudado é o efeito de algo dessa proporção na vida de uma pessoa, que leva ao estresse pós-traumático. Esse transtorno afeta de 15% a 20% das pessoas e desencadeia problemas psicológicos e físicos.

Quem passa por uma situação de violência, pode ficar revivendo o ocorrido meses depois. E com isso, surgem taquicardia, sudorese, tremor, ansiedade, que são respostas do corpo ao problema. No lado emocional, depressão, choro e síndrome do pânico acompanham o estresse pós-traumático", afirma Moss. Ao perceber isso, o responsável deve procurar a ajuda de um profissional - o diagnóstico é feito por um psiquiatra ou neurologista e o tratamento pode ser via medicamento e terapia.

O dia seguinte

Passado alguns dias, a rotina precisará ser retomada, com a criança voltando a frequentar a escola e as outras atividades do dia a dia. "O tempo para retomada da rotina é de cada família e vai de como cada criança está respondendo ao que vivenciou. Mas pode ser gradual e vale aos responsáveis lembrarem que no caminho podem ter altos e baixos. Não dá para fazer planos, é vivenciar um dia após o outro, deixando espaço para um diálogo aberto.

Atenção

A notícia sobre a crueldade na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, tomou conta dos noticiários. Mas se você não vive na cidade, é importante que não entre em pânico nem transmita isso para seu filho, alerta Deborah. É provável que o pequeno ouça isso em algum lugar, já que a notícia está por aí, mas limite-se a responder o que a criança perguntar - se ela perguntar. Falar sobre isso, sem a criança demonstrar interesse ou conhecimento, só criará o alarde e medo desnecessários.