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Competir com parceiro pode ser saudável, mas há chance de virar uma guerra

Cauã, 33, e Catarina, 30, têm trabalhos muito similares, mas usam competição para se motivarem - Arquivo Pessoal
Cauã, 33, e Catarina, 30, têm trabalhos muito similares, mas usam competição para se motivarem Imagem: Arquivo Pessoal

Natália Eiras

Da Universa

22/02/2019 04h00

A arquiteta Sabrina*, 35, do Rio de Janeiro (RJ), começou a trabalhar no mesmo escritório que sua parceira. Juntas há mais de 10 anos, ambas sempre foram competitivas, desde a época da faculdade, mas sempre lidaram bem com isso. Até que começaram a responder para o mesmo gestor. "Eu optei por deixar o meu emprego porque a competição estava acabando com o nosso relacionamento", fala a carioca.

De acordo com o coach de carreira e diretor do Marca Pessoal Treinamentos Ari Brito, uma dose de competitividade com o parceiro ou parceira é até um pouco sensual. "Às vezes, o parceiro até perde o tesão no outro porque ele deixou de ser um concorrente", fala o especialista. O perigo mora, no entanto, é no exagero. "Aó, você começa a dormir na mesma cama que seu inimigo", complementa a coach de relacionamento Margareth Signorelli.

Motivação

Porém, mais do que ser sensual, a competitividade pode ser uma espécie de motivação para que o casal cresça junto. "Você vê a sua parceira fazendo um curso, crescendo na vida profissional e, por isso, também decide 'correr atrás', investir na própria educação, para que possa acompanhá-la nesse crescimento", afirma Ari Brito.

Juntos há dez anos, Catarina Cicarelli, 30, e Cauã Taborda, 33, são gerentes de comunicação em empresas de tecnologia diferentes. Eles também têm cargos de liderança muito similares e partilham uma rotina cheia de viagens internacionais a trabalho. Apesar de rolar uma certa competição, eles conseguem usar isso a favor deles. "O que já aconteceu foi eu ter uma função mais abrangente que ele e ganhar a metade, mas hoje está mais balanceado", fala Catarina. "Nós inclusive já trabalhamos também em empresas concorrentes e foi legal. Por uma questão profissional, evitávamos falar de trabalho em casa, o que era bom".

A relações pública sabe, no entanto, que eles formam um casal diferente. "Sinto que ele sempre me apoia e quer mais é que eu cresça", diz. Ari Brito pontua que, em relacionamentos heterossexuais, alguns homens podem ficar com o "ego ferido" porque, culturalmente, eles foram criados para serem provedores. "Ele sente que perdeu a função dele, mas o homem precisa ter inteligência emocional para ficar feliz com o sucesso da parceira", fala. Por isso, a auto-reflexão e levar em consideração o que sente pelo seu parceiro são importantes para "calibrar" essa competição e chegar a um consenso.

No caso de Sabrina, o equilíbrio foi alcançado quando uma das duas deu um passo para trás. "Tomar esta atitude é importante, porque um relacionamento é feito de acordos que sempre podem ser renegociados", diz Margareth. E a arquiteta percebeu que era hora de alguém ceder quando percebeu que havia parado de compartilhar suas vitórias. "A casa do casal é o lugar onde existe o sentimento de pertencimento, onde as pessoas podem dividir o seu dia. Quando um começa a omitir situações, a não se sentir confortável em falar sobre seus erros, é porque a competição já não é mais saudável", explica Brito.

Essa sensação de que não é possível despir-se de sua armadura de batalha nem mesmo em seu lar pode causar problemas emocionais. "Pode levar à síndrome de burnout [um tipo de esgotamento], já que a pessoa nunca relaxa, está sempre pronta para competir", fala o coach de carreira.

Outro sinal de que a situação pode estar insustentável é quando um parceiro começa a diminuir os sonhos e vitórias do outro. "'Por que você quer esse cargo? Que besteira' é uma frase que é uma grande amostra de que as coisas não estão indo muito bem", diz Margareth.

Para a coach, a melhor forma de lidar com uma situação em que a competição está fazendo mal para a "empresa relacionamento" é bater um papo. "O segredo é a comunicação e fazer planos com o parceiro. Fale: 'Este ano eu vou focar na minha carreira, você segura as pontas?' e vice-versa", afirma a coach de relacionamentos. Se for para priorizar o relacionamento e ceder, veja se você não está abrindo mão de seu próprio sonho. "Se não pode causar ressentimento, o que é horrível para qualquer relação", fala.

Porém, Brito faz questão de lembrar que não há uma receita perfeita para contornar este momento. "Na verdade, talvez seja melhor nem competir com o seu parceiro", conclui.