Topo

Antropólogos sobre Donata Meirelles: "O que faz alguém se vestir de sinhá?"

Da Universa

10/02/2019 13h12

Na última sexta-feira (8), a diretora de estilo da revista "Vogue Brasil", Donata Meirelles, comemorou a chegada de seus 50 anos com uma festa com temática de candomblé, em Salvador. 

As fotos do evento, em que uma série de convidados brancos aparecem posando com mulheres negras vestidas com roupas brancas, que remetem a mucamas, receberam uma série de críticas nas redes sociais pelo teor racista. 

A antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz e o antropólogo Hélio Menezes foram alguns dos estudiosos e influenciadores que usaram as redes sociais para se manifestar sobre o tema. 

"Alguém me explique o que faz uma diretora de uma famosa revista feminina se vestir de sinhá e ficar recebendo os convidados ao lado de duas mucamas? É isso que se chama racismo estrutural! Um racismo tão enraizado que parece invisível", explicou Schwarcz, em publicação no Instagram. 

No texto, ela que é também doutora em antropologia social pela USP, professora titular na mesma universidade e autora de importantes obras como "Raça e Diversidade", condena "essa falsa nostalgia" do período de escravidão, "um passado romântico que nunca existiu". 

Hélio Menezes, por sua vez, comparou a cena de Donata sentada em meio às mulheres negras vestindo roupas brancas a uma série de fotos antigas, do período colonial, em que sinhás são carregadas por seus escravos.

"O registro causa enjoo", escreveu.

Para ele, a sequência de fotos mostra como a mulher branca "usa mulheres negras como enfeite, decoração. E replica a violência do machismo sobre o corpo de outras mulheres". 

"A foto da festa de Donata Meirelles faz reviver as 'cadeirinhas de carregar' do século 19, com dois escravos ao lado de uma figura branca ao centro. Além de violenta, a versão atual da imagem é exageradamente cafona -- mas aqui nos tristes trópicos a cena ganha ares de elegância, com direito a selo Vogue de qualidade", critica. 

Outro lado

Procurada por Universa, Donata Meirelles informou, por meio da assessoria da "Vogue Brasil", que a festa pessoal não fazia referência ao período da escravidão, mas ao candomblé.

"Nas fotos publicadas, a cadeira não era a de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa", falou. "Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas. Respeito a Bahia, sua cultura e suas tradições, assim como as baianas, que são Patrimônio Imaterial desta terra que também considero minha e que recebem com tanto carinho os visitantes no aeroporto, nas ruas e nas festas. Mas, como diria Juscelino, com erro não há compromisso e, como diz o samba, perdão foi feito para pedir".