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Os maridos morreram de câncer, elas viraram amigas e ajudam pessoas doentes

Dani e Thailinn - Arquivo Pessoal
Dani e Thailinn Imagem: Arquivo Pessoal

Roseane Santos

Colaboração para Universa

03/02/2019 04h00

"No primeiro Baile da Medula, no ano de 2016, em homenagem ao Vitor, eu vi a Thailinn dançando na roda e senti um medo repentino e aparentemente infundado de um dia estar no lugar dela ". Essas as palavras foram escritas pela servidora pública, Daniele Castro, 35, no dia do aniversário de sua amiga, a administradora de empresas Thailinn Young, 32.  A história delas começou a se fundir nessa ocasião. 

O baile que Daniele se referiu foi em homenagem ao professor de dança Vitor Antunes de Lima, conhecido como Saru ( que quer dizer macaco, em japonês, um apelido de infância por ser muito inquieto). Ele era casado com Thailinn e desejava promover esse evento na academia de dança Centro Cultural Carioca, no Rio, para festejar o momento em que estivesse curado da leucemia. Além de comemorar, seu objetivo também era arrecadar fundos para ajudar o INCA (Instituto Nacional do Câncer) onde estava internado.

Thaillin e Saru - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Thailinn e Saru: sempre animados
Imagem: Arquivo Pessoal

Infelizmente, o dançarino não conseguiu realizar seu desejo. Ele faleceu em maio de 2016, aos 27 anos, com uma infecção fúngica no pulmão, em decorrência da baixa imunidade. Thailinn e os amigos de Saru resolveram fazer o baile assim mesmo, o que seria uma maneira de homenagear a memória dele. O evento aconteceu em setembro, dois dias depois da data em que Saru faria aniversário. Como é de costume nas academias de dança, o aniversariante fica no meio do salão e forma-se uma grande roda ao seu redor, quando várias pessoas o tiram para dançar.  Thailinn representou Vitor e entre tantos, um amigo muito especial alegremente rodopiou com ela ao som de um samba. 

Esse amigo era o assessor de marketing Renato Leite, então com 36 anos, que na ocasião namorava Daniele. Ele foi diagnosticado com leucemia em 2012, mas seu caso era menos agressivo do que o de Vitor. Depois de algumas sessões de quimioterapia, entrou no que os médicos qualificam como um processo de remissão da doença (quando as células leucêmicas não são mais encontradas em amostras da medula óssea e as contagens de sangue voltam ao normal). É como se a pessoa tivesse sarado.

Ajuda de um amigo

Logo quando soube que precisaria de um transplante de medula óssea, Saru ligou para Renato pedindo ajuda. Trabalhando com comunicação há algum tempo, o assessor já tinha experiência de campanhas, até porque ele mesmo foi beneficiado por uma ("Vamos Doar Sangue para o Renatinho"), promovida por amigos em redes sociais. A ideia foi gravar um vídeo no qual os dois amigos esclareceriam, por meio de cartazes, as principais dúvidas sobre doação de medula. 

O vídeo foi colocado no Facebook, e todos os envolvidos na campanha o disparavam pelo WhatsApp. A repercussão foi tamanha que o celular de Renato travou depois de dois meses, por conta da quantidade de mensagens recebidas relacionadas ao vídeo, que contabilizou 30 milhões de visualizações. Ele passou a dar entrevistas na mídia e foi convidado por empresas para fazer palestras sobre a importância da doação de medula. 

Dani e Renato - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Dani e Renato: projetos para ajudar mais gente
Imagem: Arquivo Pessoal

Renato estava animado, cheio de planos para casar e ter mais um filho com Daniele (ele tinha um menino de um relacionamento anterior). O casal fundou o Neo Medula, grupo criado com o objetivo de promover campanhas de conscientização sobre a importância da doação de medula óssea.

Em 2017, já morando com Renato, no bucólico bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro,  Daniele viveu o mesmo drama da amiga.  Depois de ser internado com pneumonia algumas vezes, veio o diagnóstico de câncer no pulmão. Em maio de 2018, ele morreu, dois dias antes da data que Saru havia falecido, em 2016. 

Amizade e soliedariedade

Elas já se consideravam amigas, mas a morte de Renato conseguiu unir ainda mais Thailinn e Daniele. " Dani foi muito acolhedora, sempre sorrindo e com uma paciência enorme para minhas histórias e lágrimas no período em que vivi meu luto. A amizade nasceu de forma tão natural que não sei realmente definir quando nos tornamos confidentes e parceiras de vida", diz Thalinn. 

Ela lembra que quando soube do câncer na volta na vida de Renato fez questão de visitar e levar Daniele para tomar um café. "Eu queria saber sobre seus medos e expectativas. Afinal a gente só não tem a doença, mas vivemos as mesmas angústias que ela traz para vida dos pacientes. Ninguém fica doente sozinho, a gente abre mão de tudo, sofre junto, vira um leão defendendo nossos amores", disse. 

Desde então, as duas não se desgrudam e resolveram tocar em frente às ações do Neo Medula e do Baile, projetos que seus amados defendiam. O baile acontece uma vez por ano e só na sua primeira edição conseguiu arrecadar mais de 3.400 fraldas para pediatria do INCA.

Somando outras doações, o valor da entrada e o consumo, a arrecadação passou dos R$ 8 mil. O dinheiro foi destinado à compra de três venoscópios (equipamento que ajuda a localizar as veias para retirada de sangue e aplicação de medicamentos) e cinco aspiradores, doados ao Instituto Nacional do Câncer. 

Daniele diz Thailinn se tornou companheira em tudo, viagens, festas e principalmente no voluntariado. Ela agora ainda pretende passar mais uma tarefa para a amiga. " A ideia é que Thalinn ocupe um pouco as funções que eram realizadas pelo Renato. Ela é mais comunicativa e saberá nos representar nas palestras das empresas, enquanto eu movimento as redes sociais e faço os contatos", diz Dani.