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Como treinar seu gato para dar remédio, cortar unhas e não destruir móveis

O especialista Alexandre Rossi diz que gatos precisam de um lar adaptado a seus comportamentos - Arquivo Pessoal
O especialista Alexandre Rossi diz que gatos precisam de um lar adaptado a seus comportamentos Imagem: Arquivo Pessoal

Marcelo Testoni

Colaboração para Universa

26/01/2019 04h00

Quem é dono de gato sabe o quanto ele é independente e teimoso. Por isso, costuma ser difícil submetê-lo a certas tarefas, como deixar examinar as orelhas, aparar as unhas ou dar remédio. "É preciso descobrir o que motiva o gato para ser usado como recompensa, para, então, ter sucesso nos treinos de adestramento", explica Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal.

Sim, gatos podem ser adestrados, mas, como Rossi explica, mediante recompensas e nunca com punições ou repreensões de comportamento. O especialista comenta, ainda, que, quando filhotes, os bichanos estão mais receptivos a aprendizados --embora nada impeça de se adestrar um gato adulto, pois a capacidade de aprendizado perdura a vida toda.

Juliana Damasceno - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Juliana Damasceno diz que é preciso acostumar o gato com o toque, para poder cortar suas unhas
Imagem: Arquivo Pessoal

A seguir, veja dicas para estimular seu gato, deixá-lo mais sociável, dócil e expressar sua natureza sem destruir sua casa. Porém, esteja ciente que o aprendizado pode ser demorado e exige paciência.

Segurar a pata e aparar as unhas

Gatos costumam se sentir incomodados quando são tocados nas patas, por conta das garras, que são colocadas para fora em situações específicas, como, por exemplo, para serem afiadas, higienizadas ou usadas para escalar, caçar e se defender. Braços de sofás, tapetes e colchões costumam ser suas "vítimas" favoritas. Por isso, segundo diz Juliana Damasceno, bióloga e especialista em comportamento felino, desde filhote, deve-se acostumar o gato com o toque nos dedos e, no caso dos adultos, associar o momento do corte a algo prazeroso, mas indo devagar, aparando uma ou duas pontinhas de unha por vez. 

"Deve-se usar o que chamamos de dessensibilização, que consiste em fazer o animal associar algo que lhe é inicialmente desagradável a boas sensações. Para o corte de unhas dos gatos, o ideal é usar algum alimento que interesse bastante (ração úmida para gatos costuma ser bem eficaz) e, enquanto ele come, manipular as patas, cortando as unhas delicadamente", sugere Rossi, lembrando que, se o bichano parar de comer e mostrar sinais de desconforto, espere um pouco. Continue somente tocando nos dedos dele, mas sem cortar as unhas, até acalmá-lo. Essa mesma dica pode vale para outros tipos de manejo físico ou contenção, quando o dono precisa, por exemplo, examinar as orelhas do gato ou escová-lo. 

Tomar medicação sem cuspir

Como a língua dos gatos é áspera, eles são mestres em cuspir medicação. Nessa hora, vale tentar misturar o remédio a um sachê ou alimento favorito e, se não funcionar ou se o dono tiver medo e insegurança em conter o animal, o jeito é levá-lo ao veterinário. 

"Existem seringas específicas para comprimidos, e a administração deve ser muito rápida --para evitar que o gato associe essa seringa a uma sensação muito desagradável e fuja ao vê-la. O ideal é oferecer itens gostosos na mesma seringa, no dia a dia (o caldo do sachê de ração úmida é uma boa pedida). Assim, quando for necessário medicá-lo, fica muito mais fácil", indica Rossi. 

Para obter um resultado eficaz, tente colocar a seringa ou o aplicador em gotas com o remédio atrás do dente canino do gato, assim, à medida que a medicação for liberada, o gato consegue engoli-la ao poucos e sem cuspi-la. 

Arranhar ou subir em locais não permitidos

Saltar, escalar e explorar são comportamentos naturais dos gatos e o dono deve permitir que eles possam expressá-los no dia a dia, com módulos nas paredes, prateleiras, torres, túneis e locais adaptados, onde marquem seu território e soltem seus instintos, perdendo assim o interesse pelas mobílias de gente.

"Aranhadores existem aos montes. Mas há modelos que não são bons. Por isso, às vezes, o gato ainda prefere continuar arranhando os móveis. O arranhador ideal deve suportar o peso corporal do gato e ter uma altura para que ele consiga se apoiar e puxar, pois ele faz força quando arranha. O material e a direção da peça também são importantes. Alguns gatos irão preferir arranhar em locais mais amadeirados, outros carpetes, outros na horizontal, na vertical", esclarece Juliana, recomendando observar a preferência do bicho antes da compra.

Quanto a métodos para evitar que o gato suba onde não deve (lembrando que para isso o lar precisa já estar adaptado com locais para o gato ocupar), explica Alexandre Rossi, o ideal é investir em medidas desagradáveis, como, por exemplo, fixar fita dupla face em superfícies proibidas. A fita faz com que os pelos das patas grudem nela e os gatos passam a evitar esses locais. Mas, atenção, a técnica deve ser usada apenas em situações específicas e a fita nunca deve ser colada no gato, seja qual for o motivo. Pois, além de não aprender, o animal se estressa e pode ficar traumatizado ou se ferir.

Rossi também dá dicas extras para evitar que o gato fique miando e arranhando a porta do quarto para querer entrar, principalmente à noite, quando os donos estão dormindo. 

"O grande segredo é não abrir a porta, pois rapidamente eles aprendem que basta miar e o objetivo é alcançado. Apesar de serem animais especialmente noturnos, dar mais atividades ao longo do dia permitirá que tenham mais sono à noite. De qualquer forma, dificilmente dormirão sete ou oito horas. Portanto, é interessante deixar o ambiente onde eles ficam com atividades para realizarem, por exemplo, colocando porções de alimento em locais estratégicos, para que eles tenham que farejar, subir e comer", conclui.

Fontes: Alexandre Rossi, zootecnista, mestre em psicologia, membro do conselho de bem-estar animal do CRMV-SP (BEA) e da Association of Professional Dog Trainers (APDT) e sócio fundador da Cão Cidadão; Juliana Damasceno, bióloga, mestre e doutora em psicobiologia (USP e UCC Irlanda) e fundadora da WellFelis comportamento e bem-estar felino.

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