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Traição financeira: omitir gastos do par é uma forma de ser infiel?

Omissão de gastos pode acontecer quando o casal passa por problemas ou pensam diferente sobre dinheiro - iStockphoto/Getty Images
Omissão de gastos pode acontecer quando o casal passa por problemas ou pensam diferente sobre dinheiro Imagem: iStockphoto/Getty Images

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

21/01/2019 04h00

Um relacionamento costuma ser pontuado por vários acordos ao longo do caminho. Alguns são explícitos, outros mais sutis, mas volta e meia as finanças fazem parte desses combinados, pois elas têm a ver com os objetivos e os projetos de vida de um casal. Economizar para comprar um apartamento próprio, cortar gastos para programar uma viagem, abrir mão de certos confortos para saldar uma dívida são alguns dos muitos momentos envolvendo dinheiro que permeiam a trajetória de um par.

Nem sempre essas decisões são tomadas com tranquilidade, principalmente quando os dois pensam de maneira diferente a respeito do assunto. "Por isso, omitir gastos pode, sim, ser considerado uma forma de traição, principalmente se o casal tem uma contabilidade aberta entre eles ou conta corrente em conjunto", fala o psicólogo Yuri Busin, diretor do CASME (Centro de Atenção à Saúde Mental Equilíbrio), de São Paulo (SP).

A deslealdade tem um peso ainda maior se o casal vem atravessando uma fase de contenção de despesas. "A traição financeira envolve outros tipos de omissão: estourar o limite do cartão de crédito e ficar de bico calado, contrair dívidas ou empréstimos às escondidas, fazer retiradas de aplicações sem avisar o par, não revelar que recebeu um aumento de salário, esconder compras excessivas etc.", comenta Livia Marques, psicóloga do Rio de Janeiro (RJ). "Os gastos do casal envolvem um confiar no outro. Essas escolhas e atitudes quebram a confiança e costumam gerar muita raiva, angústia e desespero, entre outros sentimentos negativos", comenta Yuri.

Algumas pessoas podem estar enfrentando problemas financeiros e acabam omitindo a realidade por medo ou vergonha, mas não abrir o jogo só produz mais brigas. O ideal é sempre conversar sobre o que está acontecendo na vida financeira um do outro e estabelecer uma relação de parceria e confiança. Para facilitar, alguns casais tem contas individuais para os gastos pessoais e outra conta conjunta para as despesas da casa, por exemplo, o que ajuda a evitar ruídos. No entanto, o ideal é que planos, gastos e comprar de maior valor devem ser debatidos a dois.

Segundo Angélica Capelari, especialista em análise do comportamento e docente no curso de Psicologia da UMESP (Universidade Metodista de São Paulo), a traição financeira pode desgastar o relacionamento e até provocar o fim. "É difícil lidar com situações estabelecidas de forma obscura", conta. Insegurança, suspeitas e um medo constante de que as circunstâncias se repitam impedem que o dia a dia se desenrole de maneira saudável e feliz.

O cotidiano corrido e estressante muitas vezes leva homens a mulheres a conversarem apenas sobre assuntos mais leves quando conseguem se encontrar, muitas vezes somente no fim do dia. Daí, preferem não esquentar a cabeça com contas e boletos. No entanto, fazer um orçamento a dois e planejar compras e economias pode poupar não só dinheiro, como muito aborrecimento.

Para Livia, quem comete ou pensa em cometer uma infidelidade financeira precisa deixar de lado a resistência em admitir o erro ou relatar a realidade sobre sua situação. "Só através do diálogo é possível achar soluções", acredita. A resistência em falar sobre dinheiro em grande parte dos casais precisa ser vencida, pois envolve planejamento, cumplicidade e tranquilidade --fatores indispensáveis para relações saudáveis.