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Dizem que o diálogo é a base de qualquer relação. Mas e quando não rola?

"Na maioria das relações o diálogo é inadequado, ineficiente e agressivo ou simplesmente não existe", diz psicoterapeuta - Getty Images
"Na maioria das relações o diálogo é inadequado, ineficiente e agressivo ou simplesmente não existe", diz psicoterapeuta Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Colaboração com Universa

09/12/2018 04h00

Embora seja o principal pilar de um relacionamento saudável e prazeroso, a boa comunicação nem sempre é presente no dia a dia de muitos casais, independentemente do tempo em que estão juntos.

"Pela minha experiência em consultório, na maioria das relações, o diálogo é inadequado, ineficiente e agressivo --ou simplesmente não existe. As pessoas precisam entender que falar e interagir com o outro dá trabalho, exige esforço, empenho, compreensão e coração aberto para aceitar que o par é diferente", afirma Carmen Cerqueira Cesar, psicoterapeuta e terapeuta de casais, de São Paulo (SP).

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Quando a comunicação é truncada, a convivência pode, pouco a pouco, ficar marcada por brigas e mágoas não ditas, que vão se acumulando até culminar numa separação dolorosa. Para transformar esse cenário e fazer do cotidiano a dois algo mais gostoso e produtivo, primeiro é necessário identificar qual a falha no entrosamento entre vocês. Os motivos mais recorrentes são:

Um quer falar enquanto o outro expõe o ponto de vista

Em geral, as pessoas não sabem ouvir. Parece fácil, mas nem sempre é --e o relacionamento é uma oportunidade para isso. "Se o objetivo é chegar a um consenso, o ideal é que cada um tenha tempo para falar e se predisponha a escutar o ponto de vista alheio. Só assim podem conversar sobre a melhor solução para a questão abordada", indica Márcia Sando, psicóloga e coach de relacionamentos, também da capital paulista.

Um guarda tudo para si

É comum que um dos dois seja mais fechado e não tenha o hábito de se abrir, por razões que vão desde não querer preocupar o outro com seus problemas até o fato de não conseguir entrar em contato com as próprias emoções. Só que vai guardando tudo e um dia explode --ou implode. "Essa posição passiva para evitar conflitos não resolve nada; pelo contrário, só empurra os problemas para a frente, piorando ainda mais a situação, pois eles irão se avolumar com o passar do tempo. Insatisfação, raiva e distanciamento fatalmente vão se acumular e aí pode ser tarde demais", diz Carmen.

O outro nunca está disposto a conversar

Essa postura faz com que ambos se distanciem na relação. "Esse 'embotamento afetivo', causado pela pessoa que é fechada, sem abertura para comunicação ou expressão afetiva, pode desencadear sentimentos negativos em quem está tentando ter um diálogo", avisa Márcia. "Ou, simplesmente, trata-se de uma atitude egocêntrica e autocentrada de quem não se interessa minimamente pelo par. Muita gente ainda evita conversar por saber que provavelmente terão que ceder em alguns pontos e não querem isso. Preferem continuar fazendo tudo do seu jeito, sem se importar se o parceiro está feliz ou não", completa Carmen.

O casal acha que discutir é o mesmo que brigar

Não, não é. A questão é que são poucas as pessoas que sabem conversar, se colocar e exercer uma "boa agressividade", que conduz à assertividade e permite se colocar no mundo dizendo para o outro o que pensa e sentindo e ouvindo também. "Quem evita a conversa um dia pode explodir e, aí sim, pode ocorrer uma briga de grandes proporções", fala Carmen.

A DR acontece sempre em momentos inadequados

Exemplos? Antes de dormir, em público, quando estão cansados ou estressados, durante as preliminares etc. "São momentos delicados em que os dois estão vulneráveis e pouco comunicativos. Aí, qualquer coisinha vira uma tempestade em copo d'água, piorando toda a situação", observa Márcia.

5 passos para o casal melhorar o diálogo

1. Aprenda a ouvir. Deixe o outro falar até o fim, tente compreender seu ponto de vista e só depois coloque sua posição, mesmo que seja diferente. "E, depois, deixe o par falar de novo... E ouça. Pense que, no final, vocês vão ter que chegar a um denominador comum, algo que seja bom para ambos", sugere Carmen.

2. Ao propor uma conversa, tenha em mente que o outro é seu parceiro e não seu inimigo. Você não está numa guerra, portanto, uma conversa não pode ser uma disputa de poder. Alguns casais, quando começam a conversar, parecem que estão entrando num ringue de MMA em que é preciso vencer o adversário. E tem muita gente que adora argumentar, argumentar e argumentar, exaurindo a outra pessoa que, no fim, até desiste da conversa. Isso é totalmente improdutivo.

3. A vida a dois é um "caminhar juntos", portanto, é preciso combinar sempre --e recombinar constantemente-- uma série de coisas, desde as mais simples, até as mais elaboradas, como projetos e planos. "É preciso fazer acordos e muitas vezes, após um tempo, reformulá-los, colocar aditivos, renová-los. E todo esse processo exige uma boa comunicação, muita conversa, um bom debate de ideias. É necessário dar espaço para si e para o outro", declara Carmen.

4. Encontre brechas no cotidiano ou nos fins de semana para praticar a arte de dialogar, desde um papo despretensioso até uma conversa mais séria. Falar o que pensa e sente, com cuidado e respeito pelos sentimentos alheios, aproxima emocionalmente o casal, aprofundando o vínculo.

5. Conscientize-se de que o exercício do diálogo é uma prática enriquecedora não só para a relação, mas também para a sua evolução na vida em direção à maturidade. A comunicação humana --que envolve a nossa capacidade de pensar e sentir-- representa um universo simbólico riquíssimo e que nos coloca numa posição privilegiada no mundo: a de dar sentido às nossas vivências e relações.