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Por que algumas marcas estão optando por influenciadores artificiais

Robôs dividem o espaço com modelos e celebridades reais - Divulgação
Robôs dividem o espaço com modelos e celebridades reais Imagem: Divulgação

Malu Pinheiro

Colaboração para Universa

16/11/2018 04h00

A tecnologia traz mais um cenário nas redes sociais: robôs dividem o espaço com modelos e celebridades reais. Na era digital, algumas marcas como Dior, Prada e Fenty Beauty estão apostando em modelos criados virtualmente para estampar editoriais e propagandas de seus produtos. É o caso de Shudu Gram, a primeira supermodelo artificial do mundo. Criada pelo fotógrafo britânico Cameron-James Wilson em 2017, a sul-africana trabalha para a marca de maquiagem de Rihanna e já posou para revistas mundialmente conhecidas.

Shudu (@shudu.gram) possui quase 150 mil seguidores no Instagram e é uma animação digital em 3D. Recentemente, James Wilson criou mais duas modelos e deu origem ao novo time de rostos da campanha da marca francesa Balmain. O trio, Margot, Shudu e Zhi, passa a ser o “virtual army” da grife. Seu diretor criativo, Olivier Rousteing, já havia dito ao "New York Times" que queria inovar: “Nós precisamos romper os limites. Precisamos conversar com a nova geração. Precisamos fazer moda relevante.”

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“Observando como o mercado tem evoluído, eu acredito que essa é uma possibilidade bem razoável para as marcas, não no sentido de substituição, mas sim de uma nova modalidade”, diz o prof. Eric Messa, coordenador do Núcleo de Inovação em Mídia Digital da FAAP. “Já é uma realidade bastante presente no Japão, onde, por exemplo, existem bandas compostas por músicos totalmente holográficos. A cultura oriental já está acostumada a ter experiências com personagens virtuais.”

Modelo, cantora e influenciadora

Miquela Souza, outro bom exemplo de perfil artificial, já ultrapassa o número de seguidores de Shudu. A influenciadora, de 19 anos, é de Los Angeles e acumula mais de 1,5 milhão de fãs em seu Instagram. Ela chama Trevor McFredies e Sara Decou de pais, mas na verdade eles são os fundadores da startup Brud, estúdio de robótica e inteligência artificial. Miquela (@lilmiquela) gera conteúdo novo todos os dias, fala de moda, política e feminismo. Já participou de campanha das marcas Supreme, Prada e Diesel e lançou até uma música no Spotify.

Robôs dividem o espaço com modelos e celebridades reais - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
“De início, pode causar um estranhamento que alguém que não exista de fato faça tudo isso, mas vamos nos adaptar. Principalmente nós, brasileiros, que temos uma facilidade gigante em nos relacionarmos e comunicarmos com entidades. Temos experiências que estão ficando cada vez mais populares, como a Magalu, do Magazine Luiza”, diz Eric Messa. Em 2014, o Facebook encomendou uma pesquisa ao Ipsos, uma das maiores empresas de inteligência de mercado do mundo, que mostrou que entre os latino-americanos os brasileiros já eram os que mais interagiam com marcas na plataforma (61%).

Um robô com personalidade e ética?

Para as empresas que já trabalham com os influenciadores artificiais, nada difere dos modelos-reais. Pelo contrário, existe a facilidade de não precisar lidar com problemas de agenda ou qualquer outro contratempo que uma negociação com uma celebridade teria. A marca pede o ensaio e, por um custo bem alto, o recebe pronto. Para o público, tudo continua igual. Alguns podem não se atentar ao fato de que a modelo é um robô, mas a informação não é escondida. Na descrição do perfil de Miquela, por exemplo, está escrito: “19/LA/Robot”.

Tudo o que é divulgado nas redes sociais é planejado – até mesmo por nós, com perfis pessoais. Quando falamos, então, de influenciadores a questão aumenta exponencialmente. Tanto Miquela quanto Shudu não possuem inteligência artificial (ainda), mas sim uma equipe por trás que cuida como essas personagens devem agir na web. Toda a criação e gestão é pensada, desde que cor de cabelo a modelo terá até como será seu comportamento.

Eric Messa alerta, então, sobre o viés duplo que esse caminho pode traçar: “Precisamos ter uma certa cautela com isso do ponto de vista ético. Quando você tem uma pessoa envolvida, tem-se também seus valores. Quando você tem um personagem, tudo é criado através de um roteiro que pode ser moldado a qualquer momento. É uma porta completamente nova para as marcas que podem ter a liberdade para criar um perfil de acordo com o que quiserem.” E esse é o perigo.