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"Tive quatro abortos e três gestações difíceis por causa da trombofilia"

Bruna, 26, descobriu a trombofilia quando já havia tido quatro abortos - Arquivo Pessoal
Bruna, 26, descobriu a trombofilia quando já havia tido quatro abortos Imagem: Arquivo Pessoal

Natália Eiras

Da Universa

10/11/2018 04h00

Bruna Alexandre Foletto Capuci, 26, trabalha com finanças em Naviraí (MS). Ela tem o sonho de ter uma família grande. Por isso, teve, ao todo, sete gestações, mas apenas três delas foram até o fim. Ela passou por quatro abortos espontâneos e não entendia muito bem o porquê. Depois de diversas complicações, Bruna descobriu que tem trombofilia, conjunto de alterações, genéticas ou adquiridas que interfere no sistema de coagulação do sangue. 

“A trombofilia pode aumentar o risco de trombose e embolia na pessoa”, explica a ginecologista obstetra Alessandra Fernandez, de São Paulo (SP). “Na gestação, ela pode aumentar as chances de desenvolver uma doença hipertensiva ou eclâmpsia, de abortamentos recorrentes e perda gestacional”.

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Por causa da trombofilia, Bruna tomou, diariamente, durante a sua terceira gravidez, as "picadinhas de amor", apelido carinhoso dado às injeções de anticoagulante para o tratamento da condição. Depois do parto de Joaquim, seu filho mais novo, de três anos e meio, ela teve que tomar a medicação por mais um ano inteiro para controlar a trombofilia. Foram, ao todo, 617 aplicações do medicamento.

Porém, mesmo com todas as dificuldades, Bruna não quer parar por aí: ela tem planos de, daqui cinco anos, ter o quarto filho. Veja a história dela abaixo:

“Em 2009, quando eu tinha 17 anos, eu fiquei grávida pela primeira vez. Quando estava com 29 semanas de gestação, minha pressão aumentou muito, tive uma eclâmpsia e convulsionei. João nasceu prematuro e eu fiquei internada na UTI. Eu o conheci apenas três dias depois. Ele passou 40 dias no hospital e, quando saiu, teve alergia à proteína do leite e perdia o fôlego. Era um desespero. Então, a minha primeira gravidez foi bastante traumatizante.

Mesmo com o medo, eu queria ter uma família grande. Então, em 2012, quando João tinha três anos, eu decidi que queria ter mais um filho. Logo engravidei, mas, com oito semanas de gravidez, eu descobri que era ectópica --quando o feto fica na trompa. No meu caso, a esquerda. Perdi o bebê. 

Depois disso, eu fiquei mais um ano tentando engravidar e não conseguia. Por isso, fiz um tratamento de ovulação. No primeiro ciclo, em 2013, eu fiquei grávida do José. Aos quatro meses de gravidez, a minha pressão voltou a oscilar bastante. Com 35 semanas, eu tive um pico de pressão e a bolsa estourou. Tive que fazer uma cesárea pré-eclampsia. José nasceu bem, mas, mesmo depois do parto, a minha pressão oscilava muito.

Quando o José tinha 11 meses, no final de 2013, eu engravidei novamente, sem planejar. Eram gêmeas, duas meninas. Tudo estava indo bem até que, com 15 semanas, eu tive um aborto espontâneo. O meu médico disse que era normal acontecer e, como eu tinha problema de pressão, podia ter algo na placenta. Desta vez, ficamos muito decepcionados, porque já tínhamos comprado o enxoval e estávamos bem animados, pois nunca tínhamos tido meninas.

O diagnóstico

Depois do aborto das gêmeas, tive mais dois abortos espontâneos. O segundo, no entanto, foi retido: o corpo não expeliu o feto e tive de tirar. Era junho de 2014. Eu troquei de médico e comecei a me consultar com uma amiga, na minha cidade mesmo. Ela percebeu que havia algo errado e eu precisava descobrir o que era. A médica pediu para que eu fizesse uma biópsia da placenta do aborto retido. Paralelamente, fiz vários exames em São Paulo. Foi assim que eu descobri que tenho trombofilia. 

Quando soube o diagnóstico, eu quase tive um enfarto. É algo que assusta, porque você dá um Google e descobre que tem muita possibilidade de ter uma trombose, um derrame. Os médicos disseram que o ideal seria eu não engravidar mais. Mas, se eu insistisse, teria que tomar durante toda a gestação injeções diárias de um anticoagulante, o que eles chamam de picadinha de amor, e fazer um tratamento.

Voltei para o Mato Grosso e comecei a pensar na hipótese em outubro de 2014. Porém, logo que voltei ao consultório da minha médica, eu descobri que estava grávida novamente.

Bruna com os filhos João, 9, José, 5, e Joaquim, 3 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Bruna com os filhos João, 9, José, 5, e Joaquim, 3
Imagem: Arquivo Pessoal

Picadinhas de amor

Comecei a tomar as injeções diariamente. Não tive nenhuma intercorrência até as 23 semanas, quando fui para São Paulo (SP) para continuar o acompanhamento da gravidez. Morei durante quatro meses lá. Com o tratamento, eu não passei mal em nenhum momento durante a gravidez. Só senti alguma coisa quando entrei em trabalho de parto. Joaquim, meu filho mais novo, nasceu prematuro, com 34 semanas, mas não teve nenhum grande problema.

Eu o amamentei normalmente, mas tive que continuar tomando o remédio por mais um ano depois do parto, para evitar qualquer complicação relacionada à trombofilia.

Hoje em dia, eu penso que tive muita sorte por não tomar anticoncepcional, por exemplo, que aumenta muito o risco de ter trombose. Vou ter que cuidar da trombofilia para o resto da minha vida. Vou ter que tomar muitos cuidados. 

Ano retrasado, eu fiz a laqueadura, mas eu penso em engravidar novamente por fertilização. Se tudo der certo, quero ter um quarto filho daqui a cinco anos.”