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Elogios: por que tantas mulheres têm dificuldade em aceitá-los?

Não se reconhecer bonita, publicamente, é uma característica de muitas mulheres - Getty Images/iStockphoto
Não se reconhecer bonita, publicamente, é uma característica de muitas mulheres Imagem: Getty Images/iStockphoto

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

28/10/2018 04h00

Amiga: "Seu cabelo está lindo hoje!"

Você: "Que nada, nem deu tempo de lavar."

Na festa: "Uau, lacrou, hein?!"

Você: "Esse vestidinho? Ah, é tão velho..."

Na convenção da empresa: "Adorei sua apresentação!"

Você: "Sério? Acho que gaguejei muito. E se tivesse tido tempo, teria feito melhor."

Se identificou? Pois é, só quando enxergamos essas situações do lado de fora nos damos conta do quanto, em circunstâncias diversas do dia a dia, costumamos nos colocar para baixo. Boas notícias: você não é a única a agir dessa forma e, sim, dá para mudar.

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Mas por que raios as mulheres têm a péssima mania de desqualificar ou minimizar os elogios que recebem? Existem alguns motivos por trás desse comportamento tóxico. "Em primeiro lugar, temos uma cultura que privilegia o ato de se colocar modestamente e não se apreciar publicamente. O não reconhecimento próprio é muito mais aceito", lamenta Ideli Domingues, psicoterapeuta e especialista em constelações familiares de São Paulo (SP).

Outra questão crucial é que só há pouco tempo a mulher vem ganhando o lugar de destaque - merecido - na sociedade. Até então, prevalecia a máxima de que "por trás de todo grande homem, sempre há uma grande mulher", como se as conquistas femininas precisassem permanecer nas sombras para jogar luz nos feitos masculinos. O medo de soar arrogante ou metida tem a ver com esse silêncio cultural. "Em que ponto da história aprendemos que, se queremos ser uma boa pessoa, não podemos ver as coisas boas que temos? Quando aprendemos que para sermos agradáveis, delicadas e humildes precisamos nos diminuir perante o outro e até perante nós mesmas?", questiona Branca Barão, palestrante e consultora do CRIE (Centro de Referência em Inteligência Emocional), em Campinas (SP), e autora do livro “8 ou 80 - Seu melhor amigo e seu pior inimigo moram aí, dentro de você” (DVS Editora). Para ela, arrogância tem mais a ver com diminuir alguém e se comparar, mostrando-se superior, do que com assumir com honestidade algo em que somos boas e ter a humildade de continuar melhorando aquilo em que não somos.

O perfeccionismo e a síndrome da impostora (sensação de não ser tão competente ou bacana quanto os outros acreditam que você é) são outros fatores que merecem menção. "A necessidade feminina de ser perfeita e se cobrar constantemente gera muito sofrimento, porque nada quase nunca está bom. É uma insatisfação constante", pontua Márcia Sando, psicóloga e coach de relacionamentos, de São Paulo (SP).

Para a terapeuta integrativa Rosi Antunes, também da capital paulista, essa impressão dolorosa de nunca conseguir fazer o bastante vem das crenças limitantes aprendidas na infância, através de pais muito controladores ou exigentes. "Isso faz com que a mulher não se sinta merecedora de muitas coisas, inclusive receber elogios. Inconscientemente, muitas já se desqualificam no momento da ação e acabam enxergando tudo com menor valor do que a realidade. Ao se 'mostrarem' ofuscam os próprios resultados, minimizam os seus atos por receio de expressar arrogância e por medo de receber críticas", explica.

Veja como romper esse padrão

*Quando receber um elogio, simplesmente diga "obrigada". Você não precisa se explicar nem justificar nada.

*Lembre-se que a mania de perfeição é um dos principais fatores para a baixa autoestima. Não se cobre tanto, nem cobre tanto os outros.

*Internalize suas qualidades. "Mesmo que você, em princípio, não encontre nenhum adjetivo para definir a si mesma, faça o exercício de procurar. Ao achar, trate de ficar feliz e assumir quem você é", orienta Branca.

*Ao ouvir um elogio, aceite e desfrute esse reconhecimento. Entenda que é algo bom que está fazendo para si mesma e que isso também faz bem para quem falou com você.

*"A verdadeira bondade está em reconhecer o que tem de bom no outro, não em desmerecer a si mesma", fala Branca. "Quando nos diminuímos perante alguma qualidade é como se não permitíssemos que a outra pessoa transbordasse suas qualidades também", completa.

*Trate a si mesma como costuma tratar sua melhor amiga. Se você sempre a coloca para cima e reforça suas qualidades, porque cuida tão pouco da própria autoestima?

*Sempre tenha em mente que você merece os elogios que recebe e que se esforçou, sim, para obtê-los.

*Sempre haverá algo que você não sabe ou que precisa trabalhar melhor. E tudo bem.

*Pegue mais leve nas expectativas que cultiva a respeito de si mesma. Relaxe e seja feliz.