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"Meu marido diz que é casado com o Didi Mocó", diz Ingrid Guimarães

Fábio Guinalz/Folhapress/Arte UOL
Imagem: Fábio Guinalz/Folhapress/Arte UOL

Camila Brandalise

Da Universa

26/10/2018 04h00

Ingrid Guimarães estreia amanhã, o programa “Viver do Riso”, uma série sobre a história do humor no Brasil, no canal Viva. No primeiro dos dez episódios, ela conversa com comediantes do naipe de Tatá Werneck e Claudia Raia e investiga a trajetória das mulheres no humor; um tema que lhe é caro. “Quando comecei, os humorísticos só tinham espaço para a gostosa.” Para driblar a falta de oportunidade, escreveu a peça “Cócegas”, um sucesso do que ficou 11 anos em cartaz. “Saí da Globo pela porta dos fundos e voltei pela da frente”, diz ela.

Ingrid, que é goiana e tem 46 anos, é a atriz brasileira mais vista do século 21 com 20 milhões de espectadores --número que deve alcançar cifras ainda mais estelares em abril de 2019, quando ela lança o terceiro filme da franquia “De Pernas Pro Ar”.

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À Universa, a atriz fala desses trabalhos, vibradores (sim, ela gosta) e, claro, eleições. “Estou apavorada com a violência.”

Conte três momentos bacanas da série.
O Maurício Sherman, diretor do “Zorra Total” por 15 anos, falou sobre a época em que as mulheres eram ensinadas a rirem de boca fechada. A Heloísa Perissé disse que humor é igual sexo: tem que ser bom para todo mundo. Se não for bom para quem está levando a piada, só para quem faz, não dá. E, em outro episódio, perguntei ao Jô Soares por que, no Ceará, tinha tanto comediante maravilhoso, como Chico Anysio e Tom Cavalcante. E ele respondeu: “Fome”. O humor também é instrumento de sobrevivência.

Veja um trailer do primeiro episódio de "Viver do Riso":

No primeiro episódiodela, você mostra como as mulheres foram conseguindo espaço de protagonismo no humor. Que chave virou para que isso acontecesse?
Foi quando as comediantes começaram a escrever os próprios textos para o teatro por falta de oportunidade na TV. Nos programas, só tinha espaço para a “gostosa”, mulher tinha que ser bonita e não podia ser engraçada; graça era coisa de homem. Eu fazia participações, mas não dava para sobreviver só com elas. Escrevi a peça “Cócegas”, que fiz com a Heloísa Perissé em 2001, e ficou 11 anos em cartaz, e por causa do sucesso dela conseguimos emplacar um programa só nosso na Globo, “Sob Nova Direção”, em 2003. Saí da emissora pela porta dos fundos e voltei pela da frente.

A falta de comediantes femininas no passado tem a ver com a mulher ter medo de se expor ao ridículo? 
Sim. Na televisão, a exceção era a “TV Pirata” (1988-1992). As atrizes faziam personagens diferentes da “bonitona”. A Claudia Raia, por exemplo, fazia a Tonhão, uma presidiária. Elas se expunham ao ridículo e foram referência para a minha geração. No geral, a mulher devia ser recatada e servir aos homens. Não podiam nem gargalhar alto. Minha mãe foi uma referência dentro de casa que me fazia questionar isso. Ela era advogada e dona do próprio caminho.

Na sua experiência, homens gostam ou não de mulheres engraçadas?
Acho que sim. Mas as mulheres engraçadas têm que saber como usar isso no jogo de sedução. Eu mesma tinha a impressão de que mulher quieta era mais sensual. Achava lindo, desde novinha, as caladinhas. Mas sempre fui falante e, depois, percebi que isso é um charme meu. Saí com homens que se divertiam comigo. É muito sexy fazer alguém gargalhar. Meu marido brinca dizendo que é casado com o Didi Mocó.

Os dois filmes “De Pernas Pro Ar” acumularam mais de 8 milhões de espectadores. Por que a história de uma mulher que se torna empresária de sex shops fez tanto sucesso?
Até eu me surpreendi. Não pensei que um filme com uma mulher gozando com um vibrador fosse dar tão certo. Colocamos lá uma personagem careta, casada e com filho, descobrindo prazeres sexuais. Foi um sucesso porque as mulheres se identificaram. Também acho que muitos espectadores se sentiram olhando pelo buraco da fechadura.

Você gosta de vibradores?
Gosto, especialmente os que têm design moderno. Do tipo que seu filho pode encontrar em uma gaveta e achar que é brinquedo. Mas têm outras coisas ótimas além de vibradores: estimuladores de clitóris, essências e bolinhas de pompoarismo. O que não curto é o lado sadomasoquista, coisa que machuca. Fui descobrindo os objetos por causa dos meus estudos para o filme e, hoje, as marcas me mandam. Gosto de objetos eróticos para usar tanto sozinha quanto com o marido.

No terceiro filme da franquia “De Pernas pro Ar”, previsto para o ano que vem, a protagonista, em certo momento, decide parar de trabalhar para ficar com a família, com quem se sente em falta mas, mesmo assim, continua infeliz – um drama que muita mulher enfrenta. Como você resolve isso, na vida pessoal?
Coloco minha filha na minha rotina. Levo para gravações, para o palco das minhas peças e de apresentações. Estou em cartaz com o musical “Annie”, em São Paulo, e vem do Rio a cada 15 dias, para ficar comigo. Já perdi muitas coisas da escola dela. Aquelas reuniões que marcam para uma terça-feira às 10 da manhã. Outro dia ela me perguntou porque não fui a uma apresentação que a mãe da amiga foi. Disse que são vidas diferentes e que a colega não sobe no palco do teatro com a mãe como fazemos.

Você é a atriz mais vista do cinema brasileiro desde 2000, com 20 milhões de espectadores. Ao atingir um ponto tão alto, o que ainda te motiva a continuar criando?
Fazer comédia é essencial porque, entre outras coisas, nos dá alívio. Imagina a gente vivendo esse momento político e econômico do Brasil, se não tivesse humor; como seria? Estou apavorada em ver como as pessoas se tornaram violentas no afã de defender um lado. A situação é perigosíssima. E me deixa triste ver o lugar em que colocaram os artistas por causa da Lei Rouanet. Não existe isso de mamar nas tetas da lei. Estou fazendo um musical com 200 pessoas. Isso gera renda e pagamento de impostos.

Até poucos anos atrás, piada sobre mulher era sempre para fazer rir da gorda ou da feia. Qual piada você faz sobre nós?
Minhas personagens são loucas, se enrolam, misturam bebida com remédio; tudo que têm a ver comigo. O humor com mulher mudou no mundo todo. Veja o que aconteceu com o “Zorra Total”: antes, eram 20 redatores e todos os homens. Hoje, desses, sete são mulheres e, na direção, há um homem e uma mulher.

Como você testa suas piadas?
Testo com amigos e o marido. O que faço é contar uma história, na mesa de um jantar, por exemplo, e ver se eles riem. Mas também colho histórias com as pessoas próximas. Tenho um grupo de mães no WhatsApp e já perguntei se alguém tinha alguma história de sex shop e episódios com filhos homens. No começo da carreira, fui animadora de festa infantil. Era um desastre. As crianças nem davam bola para as minhas peças.