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Asilo não é crueldade; veja cuidados necessários ao pensar na alternativa

Decisão não significa negligência familiar e não implica em abandono ou descaso - iStock
Decisão não significa negligência familiar e não implica em abandono ou descaso Imagem: iStock

Letícia Rós e Carolina Prado

Colaboração para Universa

20/10/2018 04h00

A necessidade de recorrer ao serviço oferecido por um asilo ou casa de repouso não significa negligência familiar e não implica em abandono ou descaso. De acordo com a psicóloga Dorli Kamkhagi, coordenadora de Grupos de Maturidade do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas, em São Paulo, os brasileiros ainda estão sendo educados para cuidar dos idosos. “Na Europa e nos Estados Unidos, esse serviço de assistência pode ser pago antecipadamente e, quando chega o momento, a transição ocorre de forma mais amena. O carinho e o cuidado são essenciais, de qualquer forma”, reforça.

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A falta de planejamento e de uma preparação adequada para a idade avançada, tanto por parte do idoso quanto da família que o cerca, transforma a decisão de institucionalizar em algo extremamente difícil. E, em geral, ela vem sempre acompanhada de uma boa dose de culpa.

Porém, segundo a especialista, o sentimento que deve nortear essa escolha é o sincero propósito de encontrar a melhor alternativa para todos os envolvidos. “Estar presente e participar ativamente do cotidiano desse ente querido, mesmo residindo em locais distintos, é o melhor caminho para manter o vínculo e oferecer segurança ao idoso”, diz. O importante é que ele não se sinta deixado de lado e cabe aos familiares oferecer esse conforto.

Para a psicóloga Samantha Sittart, idealizadora do Projeto Desafios da Terceira Idade, todo o processo de encaminhar o idoso a um lar geriátrico traz uma série de dúvidas, incertezas e medos. “Essa decisão pode tornar-se angustiante diante de valores morais, sociais e religiosos que a família já tem”, afirma. Porém, é preciso entender que, com o aumento da longevidade, a atitude pode ser a mais racional, sem o comprometimento dos laços afetivos.

“Tive certeza de que havia feito a escolha certa quando percebi que minha avó estava adaptada ao ambiente e melhorando a cada dia”, conta a microempresária Silvana Heinrich, 45 anos. Ao lado dos familiares, Silvana decidiu que esse encaminhamento seria o melhor para garantir o bem-estar da idosa. “Ela sempre elogia a comida e diz que é muito bom ter amigas da mesma idade para conversar”. Nesse caso, a neta optou por uma clínica perto de sua casa, pois, assim, consegue acompanhar, semanalmente, o quadro clínico da idosa, mantendo contato regularmente.

Aliás, essa é uma dica importante: escolher uma clínica que permita o contato frequente e que tenha horários flexíveis para visitas. Foram esses fatores que orientaram a corretora de imóveis Katia Paulice, de 48 anos, a levar a mãe para a clínica onde está atualmente. “Consigo ver minha mãe, que tem Alzheimer, com bastante regularidade, porque a clínica fica perto de casa. Também participo de todos os eventos e festas que acontecem por lá”, diz. 

Segundo Samantha, para manter um vínculo sadio, é preciso estar perto por opção e não por se sentir obrigado. Assim, se o convívio em casa não é amistoso, de nada adianta ficar na mesma residência que o idoso. “O idoso precisa sentir-se parte integrante da família, é essencial dar espaço para que ele possa se expressar e, ao mesmo tempo, perceber que é bem aceito.” Além disso, é essencial não menosprezar as críticas do idoso e atentar-se a cada consideração feita.

Uma decisão importante

Em situações qur implicam limitações funcionais, cognitivas e locomotoras, a institucionalização pode se apresentar como a melhor alternativa. “Tomei a decisão de forma racional e acredito que fiz a coisa certa”, avalia Katia.

Ela acompanha por meio de câmeras o dia a dia de sua mãe. “Mantenho contato com os donos da clínica e com a equipe, porque isso ajuda a garantir que minha mãe receberá toda a atenção de que precisa”, afirma.

A contadora Karla Bechtold, 41 anos, internou a mãe há pouco mais de um ano. Ela e os outros irmãos tentaram se revezar nos cuidados com a idosa, que tem Alzheimer. Mas, com o tempo, a mudança constante de uma casa para outra passou a prejudicar a saúde da mãe. “Ela ficava muito agitada, e era preciso aumentar a dose de calmantes”. 

Com a internação, segundo Karla, o quadro permaneceu mais estável. Hoje, uma das estratégias que a filha usa para saber tudo o que acontece com a mãe é solicitar vídeos diários em que a idosa aparece realizando suas atividades, captados pelos próprios funcionários. Ela costuma visitar a mãe no período da noite, após sair do trabalho.

Samantha destaca que o olhar da família é primordial para garantir a qualidade de vida do idoso. “É preciso observar o asseio, a alimentação oferecida, se o idoso emagreceu ou engordou, conferir o dormitório, roupas e demais pertences, além de falar regularmente com os profissionais de cada área do residencial geriátrico. Outra dica é fazer visita em dias não estipulados para flagrar a realidade do local”, sugere.