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Camisinha na bolsa: mais mulheres relatam terem sido vítimas do abuso

Rebecca Barboza: "Fui tomada por uma sensação de nojo" - Reprodução/Facebook
Rebecca Barboza: "Fui tomada por uma sensação de nojo" Imagem: Reprodução/Facebook

Camila Brandalise

Da Universa

06/10/2018 16h26

Depois que a jornalista Clara Novais, 27 anos, relatou ter encontrado uma camisinha usada colocada dentro de sua bolsa nas imediações de uma estação de trem em São Paulo, novas vítimas surgiram afirmando que passaram pela mesma situação.

O caso de Clara aconteceu na terça-feira (2) e, no mesmo dia, outra mulher diz ter sido vítima do abuso, inclusive, na mesma estação, Palmeiras Barra Funda. Outra alega que um homem colocou o preservativo usado em sua bolsa em março, no mesmo local. E uma terceira afirma ter vivido a situação dentro de um ônibus, em 2017.

Veja também:

Veja, abaixo, os depoimentos das vítimas à Universa:

“Fui tomada por uma sensação de nojo”

camisinha mochila Rebecca - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Camisinha foi colocada na mochila de passageira do metrô
Imagem: Reprodução/Facebook

A designer Rebecca Barboza, 25 anos, passou pela mesma situação que Clara, inclusive no mesmo dia e lugar que a jornalista. Ela diz ter sentido um líquido em suas costas na saída da estação Palmeiras Barra Funda. “Passei a mão e senti um cheiro ruim. Quando peguei minha mochila, vi que uma camisinha usada foi colocada em cima dela. Comecei a tremer e fui tomada por uma sensação de nojo."

Ela, então, chacoalhou a mochila para que o preservativo caísse. Rebecca afirma ter notado um homem olhando para trás, de provavelmente 55 ou 60 anos, de cabelos brancos, saindo das catracas e enrolando uma sacola na mão.

Logo na sequência, foi à 6° Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano), e o boletim de ocorrência foi registrado como importunação ofensiva ao pudor.

A situação foi exatamente a mesma vivida pela jornalista Clara Novais, mas o registro das ocorrências se deu de maneira diferente nos dois casos. Com Clara, o B.O. foi registrado como "outros-não criminal". Segundo a Secretaria de Segurança Pública, em nota à Universa, isso aconteceu com Clara porque não se tratava "de uma situação de flagrante ou que tenha suspeito identificado" e "por não haver indícios mínimos de autoria", embora com Rebecca também não houvesse flagrante nem indícios de autoria.

Depois do que aconteceu, Rebecca diz sentir medo ao pegar o metrô e notar a presença de algum homem com as características daquele que acredita ser o autor do crime. "Quis falar sobre isso para que outras mulheres fiquem atentas no transporte público. Esse tipo de abuso é muito mais comum do que a gente imagina.

“Saí da estação e notei um cheiro forte: era um preservativo usado”

Em março deste ano, Miréia Lima, 24 anos, pegou um trem para o trabalho e nootou o comportamento estranho de um homem próximo a ela, que a empurrava. “Achei que ele quisesse me roubar e saí de  perto. Mas percebi ele enrolando uma sacola na mão.”

Quando chegou na estação que desceria, Palmeiras Barra Funda, perdeu-o de vista. Sentiu um cheiro forte vindo da bolsa e, ao verificar o que era, notou uma camisinha usada, com um líquido amarelo. “Tomei um susto e joguei no chão. Me senti humilhada”, diz.

Dias depois, viu o mesmo homem que a empurrou e tirou uma foto. “Ele percebeu e caminhou para outro vagão. Depois nunca mais o vi. Nas duas vezes que o encontrei, ele estava com uma sacola plástica enrolada na mão.” Miréia afirma que não registrou o boletim de ocorrência porque havia jogado a camisinha fora. “Não me senti segura ao fazer a denúncia porque não tinha prova”, diz. O homem que Miréia acredita ter cometido o crime é grisalho, com aparência de ter entre 50 e 60 anos.

“Um homem se masturbou no ônibus e jogou a camisinha na minha bolsa”

A designer Ana Paula Venturini, 21 anos, pegou um ônibus para o trabalho em Guarulhos, na Grande São Paulo. Percebeu um homem ao seu lado muito agitado que em dado momento esbarrou na bolsa dela.

Ao descer do ônibus e entrar no metrô, no terminal Tucuruvi, na zona norte de São Paulo, colocou a mão na bolsa para pegar a carteira e sentiu “uma coisa estranha”. “Quando vi era uma camisinha, toda suja. Concluí que o homem estava se masturbando dentro do ônibus, gozou no preservativo e jogou na minha bolsa”, diz. “Me senti um lixo. Como alguém pode se masturbar publicamente e jogar o preservativo nas coisas de outra pessoa?”

Ana jogou a camisinha fora ao passar por um lixeiro. “Deveria ter guardado para registrar a ocorrência, mas fiquei tão nervosa e indignada que só queria me livrar daquilo”, diz. No trabalho, diz que os colegas ouviram sua história aos risos. “Me desanimei, se no trabalho riram assim, imagina na delegacia? Ainda mais depois de saber de casos parecidos que não deram em nada.”

Importunação sexual é crime

O casos relatados podem ser enquadrados como crime de importunação sexual. A lei é recente, foi sancionada no dia 24 de setembro, e caracteriza como crime o ato libidinoso praticado na presença de outra pessoa sem o consentimento dela. “E colocar camisinha na bolsa de alguém é ato libidinoso, o preservativo não é qualquer objeto”, afirma a advogada Marina Ganzarolli, da Rede Feminista de Juristas.