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Papo de vagina

Não uso mais calcinha: mulheres contam por que abriram mão da peça íntima

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Beatriz Santos e Carolina Prado

Colaboração para Universa

13/09/2018 04h00

Não ter que lavar a lingerie no chuveiro, andar livre, leve e solta por aí, despistar a candidíase... São vários os motivos que levaram essas mulheres a esvaziarem a gaveta de calcinhas de forma definitiva. A seguir, elas contam porque tomaram a decisão e como se viram com roupas justas e curtas, menstruação e até com o preconceito.

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“Todas as calcinhas me apertavam”

“Por volta dos 14 anos, eu já era bem gordinha e não encontrava uma calcinha que me servisse, todas ficavam muito apertadas, me deixavam com marcas vermelhas horríveis na cintura. Usar calcinha era algo doloroso, mesmo. Com o tempo, passei a tirar para ficar em casa, era a primeira coisa que fazia ao chegar da rua, não via a hora de me livrar daquilo. Depois, comecei a tirar na rua mesmo. Se a calcinha começava a me machucar e eu estava na casa de um familiar ou amigo, por exemplo, ia ao banheiro e, discretamente, tirava, enrolava e escondia no sutiã. Aos poucos, fui me acostumando tanto que desapeguei completamente. E foi um alívio! Agora, já faz uns 14 anos que não coloco uma calcinha. Quando estou menstruada, uso absorvente interno e um shortinho bem leve. Nos outros dias, uso todo tipo de roupa e nada me incomoda. A única coisa difícil de lidar foi com o machismo: tive um namoradinho que achava ruim e me pedia para colocar calcinha. Isso se transformou em motivo de briga repetidas vezes. Para ele, eu era uma safada que queria mostrar alguma coisa para alguém. Ele dizia que mulher que não usava calcinha era puta, que estava querendo facilitar... E até hoje quando alguns homens do meu convívio ficam sabendo disso, acham horrível. Algumas mulheres acham nojento e repetem o mesmo discurso machista. É lamentável, mas, hoje, eu já aprendi a me posicionar, a me afirmar, dou mais valor ao meu bem-estar do que à opinião dos outros. Dependendo da pessoa, eu simplesmente ignoro o comentário e sigo a minha vida.”

Jacqueline Reis, 28 anos, professora

“Só uso saia e vestido e o vento que bate é muito bom”

“Sempre achei a calcinha muito desconfortável: o elástico apertava, ficava entrando na bunda e eu me sentia mal de ter que ficar desenterrando na frente dos outros, sabe? Eu queria usar uma que eu não sentisse nada, que me desse mais liberdade, mas nunca encontrei algo parecido. Então, decidi que ia tentar não usar. Foi uma virada de chave. Eu fui me acostumando com aquilo e nunca mais quis colocar outra vez. Eu passei por fases em que só usava shorts, por medo de aparecer alguma coisa, mas já superei isso. Agora, só uso saia e vestido, são ótimos, não marcam e o vento que bate é muito bom! A saúde da minha vagina está ótima e eu sento no chão, rolo, brinco... Não usar calcinha não me impede de nada. Tenho encanação zero com isso. A única desvantagem é não poder usar a mesma roupa por mais de duas vezes sem lavar, por causa dos fluidos, que chegam a marcar o tecido. De resto, é só alegria, é uma liberdade incrível!”

Carolina Barbosa, 25 anos, fotógrafa

“O ginecologista me recomendou evitar a calcinha”

“Eu menstruei perto de fazer 11 anos e, desde então, tinha problemas de candidíase, crises muito fortes, achava que aquilo era assadura e me enchia de pomada. Só quando foi iniciar a minha vida sexual, aos 18, é que passei por um ginecologista e recebi o diagnóstico correto. A partir daí, o médico tentou vários tratamentos, com comprimidos, banhos de assento etc. Mas, virava e mexia, a candidíase voltava. Mais ou menos uns oito anos atrás, eu mudei de ginecologista e ele me recomendou evitar a calcinha, sugeriu que eu começasse a dormir sem. A partir desse dia, eu já vi uma melhora, de verdade. Então, comecei a pensar em levar isso para o dia, principalmente quando estivesse em crise ou aos primeiros sinais de candidíase, para evitar que piorasse. Comecei a andar sem calcinha e me adaptei muito bem, até decidir que ia ficar mesmo sem. Hoje, só coloco lingerie quando sei que vou transar. No dia a dia, costumo usar roupas mais largas, para não pegar. Na menstruação, uso coletor e até esqueço que estou sem calcinha. Quanto aos namorados, a maioria acha bem sensual. Mas para não ficar andando pelada na casa deles, depois da transa, sempre peço uma cueca emprestada. E é uma delícia: elas são muito mais macias do que as calcinhas e não entram no bumbum nem nada.”

Ana*, 33 anos, jornalista

“Meu bumbum fica mais bonito”

“Na minha infância, não usava calcinha por falta de opção: minha mãe me criou sozinha e, passando por dificuldades financeiras, mal conseguia me vestir. Calcinha era um luxo. Aos 14, 15 anos, decidi tentar usar, mas tinha que dividir com a minha mãe, pois ainda estávamos em uma situação complicada. Mas isso era bastante desconfortável e até anti-higiênico, e foi aí que desisti de vez. Hoje em dia, sou casada e uso as cuecas samba canção do meu marido quando decido colocar uma saia ou vestido muito curto ou muito rodado. No dia a dia, gosto de calças mais justas, estilo country. E acho que se eu usasse calcinha o bumbum não ficaria tão legal e tão bonito quanto fica sem.”

Erica*, 24 anos, estudante

“Parei de usar calcinha para facilitar o meu dia a dia, que é corrido”

“O principal motivo para eu ter abandonado a calcinha foi a praticidade. Todas as calcinhas que eram boas e confortáveis também eram bem caras, então, não dava para ter uma gaveta cheia delas. Daí, era aquela preocupação: lavar no banho, enxaguar muito bem para não ficar resíduo de sabão e estender, recolher, passar... Para facilitar o meu dia a dia, que é corrido, eu resolvi parar de usar em casa e, aos poucos, fiz uns testes, indo a lugares mais próximos sem. Como vi que não causei nenhuma desconfiança nas pessoas, passei a não usar definitivamente e me sinto mais livre, sequinha e com menos preocupações. Quando estou menstruada, encaixo o absorvente no fundo da própria calça ou uso o interno. Em casa, coloco só um shorts e me sinto confortável. Percebi que até o meu fluxo menstrual diminuiu bastante depois que aboli a calcinha.”

Kamilla Marine, 22 anos, estudante

O que diz o ginecologista?

Segundo o ginecologista César Eduardo Fernandes, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), não há razão que obrigue o uso da calcinha. Ainda assim, a recomendação é vesti-la, por ser uma proteção a mais para evitar contaminações. Fernandes salienta ainda que, dependendo da roupa usada, pode haver uma irritação da face interna dos pequenos lábios. “É uma mucosa sensível, então um tecido espesso ou uma costura na região da vulva pode causar ulceração”, afirma. As calcinhas mais indicadas são as de algodão.

*Nomes trocados a pedido das entrevistadas.

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