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"Eu me apaixonei por um americano que me deu um golpe e perdi minha casa"

Lavínia* se apaixonou por um homem que conheceu na internet e viveu seis anos de relacionamento à distância - Getty Images
Lavínia* se apaixonou por um homem que conheceu na internet e viveu seis anos de relacionamento à distância Imagem: Getty Images

Beatriz Santos

Colaboração para Universa

01/09/2018 04h00

A professora Lavínia*, 45, se apaixonou por um homem que conheceu em uma rede social. Por seis anos, foi envolvida no que parecia ser um relacionamento sério e fez planos de mudar-se para os Estados Unidos, país onde ele morava. Só que o final da história foi muito diferente do que ela tinha sonhado.

“Eu o conheci pelo Orkut, em 2007. Eu estava separada há menos de um ano e entrei numa comunidade de brasileiros nos Estados Unidos, porque, naquela época, eu queria morar lá. Tenho dois filhos, mas eles já são crescidos e casados.

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Fiz um post perguntando qual seria a melhor cidade norte-americana para morar e trabalhar como professora infantil e esperei as dicas virem. Entre os comentários, ele se destacou. Se dizia americano e morava em Ocala, uma cidade da Flórida. Disse que poderia me ajudar com algumas informações e me chamou para conversar por MSN.

A conversa fluiu rapidamente. Eu, que estava triste com o fim de um casamento, senti que ele me entendia. Ele fazia eu me sentir bem, me ajudava psicologicamente. Passamos a conversar sobre tudo, sobre a vida, sobre os nossos sentimentos e a família.

Ele era muito carinhoso e logo a conversa evoluiu para uma relação mais romântica. Foi quando eu passei a ter mais expectativas de sair do Brasil, porque, no exterior, recomeçaria a minha vida. E o melhor: ao lado dele, por quem eu já estava me apaixonando.

Passamos a trocar declarações. Nos falávamos com bastante frequência pelo Messenger, mas também pelo telefone e por vídeo. Ele se dizia apaixonado e mandava fotos da casa –pelo menos, eu acho que era a casa dele – que tinha porta-retratos com fotos minhas.

Ele disse que viria me buscar no Brasil, para voltarmos juntos aos Estados Unidos e nos casarmos. Ele me fez organizar todos os documentos para viajar a qualquer momento. E eu fiz. Mas ele se dizia militar e, sempre quando tínhamos um planejamento, aparecia uma missão de última hora, que o impedia de vir.

Já estávamos há seis anos nos relacionando à distância quando o plano parecia que ia dar certo, finalmente. Eu já tinha até comentado com meus filhos que iria embora do país, mas nunca falei sobre ele. Eu dizia que iria sozinha.

Durante os preparativos para a minha mudança, ele me disse que a casa dele havia sido destruída por um furacão e que ele estava sem ter onde morar e estava em um trailer. Mas, como eu ia para lá, compraríamos uma casa juntos. Foi assim que o golpe aconteceu.

Um mês antes da data marcada para ele chegar ao Brasil e embarcarmos juntos, em 2013, eu vendi a minha casa no valor de R$ 189 mil. Enviei para ele R$ 160 mil, que era a minha parte na compra do nosso futuro lar. Nunca desconfiei de nada, acreditei nele até o fim.

Quando chegou o dia de embarque, fui até o aeroporto esperar por ele. O voo chegaria às 16h. Mas não chegou. Insisti e fique lá até o outro dia de manhã, esperando. Nada. Cheguei a ir no balcão de informações, mas não tinha ninguém na lista de passageiros com o nome dele. Eu ligava para ele, também, mas o telefone só dava desligado.

Saí do aeroporto e fui direto para a casa da minha sobrinha (eu não tinha mais casa) e descobri que o Facebook dele foi deletado, e ele também não estava mais no WhatsApp. Foi só aí que eu entendi tudo.

Eu me senti uma completa idiota. Aos 40 anos, sendo enganada de uma forma tão grotesca. Foi triste, muito doloroso. A minha casa era tudo o que eu tinha. Eu também tinha pedido exoneração do meu cargo de concursada, então, fiquei sem casa e sem emprego.

Não pensei em denunciá-lo. Achei que polícia não resolveria, até porque ele não colocou uma arma na minha cabeça. Eu mesma quem mandei o dinheiro a ele. Também não contei nada aos meus filhos. Eles acham que eu desisti da viagem para ficar perto deles.

Uma amiga, a única pessoa que soube dessa história até hoje, tentou me alertar, mas eu não acreditava nela. Achei, na verdade, que ela estava com inveja. Foi na casa dela que eu morei por um tempo, até conseguir me ajeitar. Demorei seis meses para conseguir um emprego. Hoje, sou contratada da prefeitura e moro de aluguel.

Eu cheguei a enviar uma carta para o endereço que ele tinha me dado, mas nunca recebi resposta. Tempos depois, meu filho foi aos Estados Unidos a trabalho e pedi que fosse no endereço, com a desculpa de que uma amiga morava lá. Ao chegar, ele descobriu que era somente um terreno com um trailer, onde moravam um casal de idosos.

Nunca mais quis ter redes sociais, fiquei traumatizada. Passei anos sem tocar no assunto, mas ainda dói falar sobre. Eu me sinto muito idiota em destruir a minha vida e a minha estabilidade por algo que nunca existiu de fato. Mas, mais do que perder dinheiro, dói ter sido decepcionada e iludida. Nunca mais pensei em namorar. Prefiro viver sozinha.”

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