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Quando os chefes gostam de você, mas não te promovem: o que falta?

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Letícia Rós e Marina Oliveira

Colaboração para Universa

20/08/2018 04h00

A agente de atendimento Patrícia, que prefere não dizer o sobrenome, 31, trabalha há três anos e dez meses no mesmo cargo para o qual foi contratada. Há dois anos, ela espera uma promoção.

"Eu me dou muito bem com os meus chefes, o que me dá ainda mais esperança de conseguir a promoção, mas, as vezes em que conversamos, eles dizem não ter vaga. Só que várias pessoas já foram promovidas nesse tempo, inclusive as com menos tempo de empresa do que eu."

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Ter uma boa relação com os gestores, sem dúvida, favorece o funcionário que pretender crescer na empresa. Mas só isso não basta. A regra é: sobe quem está dando mais resultados.

"O que importa é o que você gera e como você gera. Antes, algumas pessoas cumpriam as metas, mas passavam por cima de todo mundo ou agiam de uma maneira inadequada com os valores da empresa. Isso não é mais permitido", fala a especialista em comportamento no trabalho, Daniela do Lago.

Bom relacionamento é mandatório não só com o chefes, mas com toda a equipe, porque indica inteligência emocional, que é basicamente saber lidar com as próprias emoções, entender o que levar para a empresa e o que deixar em casa.

"Ter boas relações não significa fazer amigos. No trabalho, nem todo mundo que está lá é seu amigo, e é importante aceitar isso. Mas, ao se relacionar bem, você forma boas alianças", diz Lago.

É preciso fazer mais

Desempenhar bem as tarefas que lhe foram delegadas não é diferencial para ser promovido, explica o diretor da ABRH-SP (Associação Brasileira de Recursos Humanos), Luiz Eduardo Drouet.

"O profissional precisa apresentar potencial para melhorar ainda mais essa performance. Caso contrário, a empresa e os gestores terão receio de perder um profissional que ocupa bem a posição atual ao promovê-lo para um novo desafio em que ele não se saia tão bem", explica.

Não raramente, dizem os especialistas, o profissional tem uma autopercepção diferente da realidade. "Vale a máxima: não importa o que você pensa sobre o seu trabalho, mas o que as pessoas, clientes e gestores, pensam", fala Drouet.

Por outro lado, às vezes, o próprio bom desempenho no atual cargo joga contra o crescimento.

"Se você é a pessoa que 'carrega o piano', que faz acontecer, ao promover você, eu perco isso. Eu estou cansada de ver isso nas empresas e é uma ação erradíssima, porque limita esse profissional. Nesses casos, o problema não é o funcionário, mas o chefe", diz Daniela do Lago.

Empresa grande x empresa pequena

Os critérios de promoção variam com o perfil da empresa. Mas há semelhanças.

"A empresa pequena exige um profissional multifuncional, muitas vezes. Ele tem que ser alguém que sabe de tudo um pouco, precisa de mais flexibilidade para saber lidar com desafios diferentes", fala a coach de carreira, Paula Dias.

"Já em empresas grandes, a especialidade conta mais, assim como o lado político. É promovido alguém que tenha cuidado com as relações, que saiba medir as palavras", completa.

Existe um tempo médio para as promoções acontecerem. "No início de carreira, espera-se um crescimento a cada um ano e meio e dois anos. Em níveis de coordenação, as promoções ocorrem em média a cada três a cinco anos", fala o diretor da ABRH-SP.

E é preciso pedir. "São raríssimas as vezes em que tem um RH que vai lá e faz acontecer ou um líder que oferece o cargo maior. A maior parte das pessoas precisa lutar pela sua promoção e negociá-la", diz Daniela do Lago.

Quando mandar CV

A crise econômica é real e muitas empresas não estão conseguindo crescer nesse cenário, o que leva ao congelamento de vagas.

Mas se outras pessoas ao seu redor são promovidas e você não, como é o caso de Patrícia, que contou sua história no começo do texto, ou você está fazendo algo errado (e ainda não percebeu) ou a empresa, realmente, não tem planos de te reconhecer.

"A falta de feedback da gestão é um sinal de que você não está sendo considerado, assim como não ser envolvido em processos maiores e não ser chamado para novos projetos", fala a coach de carreira e especialista em Gestão de Pessoas e RH, Michele Souza.

Por fim, Paula Dias recomenda: "Não mude de emprego quando você estiver por baixo, com a autoestima abalada porque não foi reconhecido. Para conseguir algo melhor, tem que estar bem, dando resultados e confiante", diz.