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Roacutan: os prós e contras do remédio que promete acabar com as espinhas

Suellen Neves - Arquivo pessoal
Suellen Neves Imagem: Arquivo pessoal

Letícia Rós e Marina Oliveira

Colaboração para Universa

10/08/2018 04h00

A prescrição da isotretinoína, que ficou conhecida pelo nome comercial do remédio pioneiro, o Roacutan, não é novidade nos consultórios dermatológicos. É uma alternativa para quem já testou outros tratamentos orais e tópicos -de pílula anticoncepcional a adstringentes e ácido retinóico- mas continua sofrendo com acnes que inflamam, deixam marcas e abalam a autoestima. Contra o fármaco, porém, há uma lista considerável de efeitos colaterais, que exigem que a paciente pondere muitos fatores ao decidir adotar ou rejeitar o tratamento.

Para quem sofre com pele oleosa, poros abertos, cravos e acnes inflamatórias a ação da isotretinoína causa deslumbramento: "É um medicamento, derivado de vitamina A, que atrofia a glândula sebácea da pele", explica a dermatologista clínica e cirúrgica, Carla Bortoloto. O uso do medicamento exige acompanhamento médico e há efeitos colaterais, mas os resultados são muito bons para quem sofre com as espinhas.

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A estudante de publicidade e maquiadora Giovana Ferreira, 19, tinha esgotado as opções de sabonetes, cremes e soluções secativas quando decidiu iniciar um tratamento com isotretinoína. "Era uma chance de alcançar um resultado muito bom com a minha pele e que, ao fim do tratamento, persistisse. Desde os 15 anos, eu sempre tive muita acne e cravinhos", conta. O planejamento era um tratamento de seis meses. Mas, no segundo mês, Giovana precisou parar de tomar o remédio.

"Nas duas primeiras semanas, não senti muitos efeitos colaterais, foi no início da terceira semana que meus lábios ressecaram muito, assim como a minha pele e o meu cabelo. Mas até aí, era só eu reforçar a hidratação, como fui orientada. Só que, no segundo mês, comecei a ficar muito ansiosa", conta. Por volta da sétima semana, Giovana chegou na empresa e sentiu o corpo tremer, os braços formigarem e aquela sensação se espalhar pelo corpo. Era uma crise ansiedade, que a levou a se afastar do trabalho e a rever a rotina. "A médica me recomendou interromper o tratamento, já que não sabíamos o que tinha sido gatilho da crise, mas o resultado foi excelente", fala.

Distúrbios psiquiátricos, sendo mais comum a depressão, estão entre as reações raras apresentadas na bula do remédio, que diz que os pacientes que relataram os problemas não comprovaram ter sido a isotretinoína a causa, mas recomenda que quem tem histórico de doença mental deve ser supervisionado durante o tratamento. "Embora a frequência seja pequena, existem estudos que descrevem o aumento dos casos depressivos entre os pacientes", fala Bortoloto.

Dupla contracepção e drinques sem álcool

A isotretinoína também é absolutamente restritiva para mulheres grávidas ou que possam ficar grávidas durante o tratamento porque é um teratogênico, que pode ocasionar graves defeitos físicos ao feto --em particular ao sistema nervoso central, ao coração e grandes vasos. "Na bula diz que, depois que você para de tomar remédio, poderia voltar a tentar engravidar após 30 dias, mas alguns dermatologistas pedem para esperar três meses", fala a dermatologista Flávia Ravelli. O protocolo é que mulheres em idade fértil façam uso de dois métodos de contracepção simultâneos durante o tratamento.

O consumo de bebidas alcoólicas é censurado pelas médicas. "O remédio é metabolizado no fígado e causa um esforço hepático grande. Então, tudo que for sobrecarregar o fígado, pedimos para não fazer, isso inclui beber álcool e consumir suplementos de academia", explica Ravelli.

Treinos mais leves e recidiva

Suellen Neves aos 4 meses, 6 meses e 7 meses de uso da medicação - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Dores musculares e cansaço também podem ser sentidos ao tomar o remédio, como aconteceu com a empresária Suellen Neves, 24, que precisou reduzir as atividades físicas. "Tive bastante dor muscular. Não pude fazer academia e dar aulas de dança ao mesmo tempo. Escolhi parar de treinar", fala. Mas, oito meses após o fim do tratamento, ela diz que todo esforço valeu a pena.

"A minha acne, que era severa, piorou para depois melhorar. Por algum tempo, eu nem queria sair de casa, porque tinha placas de pus e espinhas inflamadas enormes. Mas, se eu soubesse que o resultado seria tão maravilhoso, eu não teria demorado tanto para começar. Ele fez uma renovação da minha pele como um todo, porque eu não tinha espinhas só no rosto", diz.

O tempo de tratamento é variável de acordo com o peso do paciente. A dose acumulada, ou seja, a soma de todos os comprimidos ingeridos, deve ser de 120 mg a 150 mg por quilo. Uma pessoa com 50 quilos, por exemplo, deve ingerir, pelo menos, 6.000 mg de isotretinoína para a diminuição completa dos sintomas ou resolução da acne. "Antigamente, costumávamos prescrever o remédio por um tempo de mais ou menos 6 a 8 meses, mas hoje já protocolos mais curtos, a depender da gravidade da acne, ou até mais longos, mas com doses baixas, para quem é intolerante aos efeitos", fala Ravelli.

Não há garantia, porém, que as espinhas não voltarão. A especialista de marketing Andréia Campos, 29, não sentiu efeito colateral algum do medicamento durante os dez meses em que tomou. "Minha pele ficou maravilhosa durante o período, lábios, cabelos e unhas também. Eu controlei bastante a alimentação -evitei ao máximo as frituras por risco de aumentar o colesterol- e só tomava água ou suco. O problema é que o remédio, para mim, não foi a cura. Com o passar dos meses, a oleosidade foi voltando e, com ela, a acne. Mas hoje eu consigo controlar com outros tratamentos", conta.

"Mesmo o tratamento tendo sido feito corretamente, a recidiva de um quadro de acne inflamatória pode acontecer e está muito bem explicado na literatura", fala Carla Bortoloto. O resultado vai depender do grau da acne, da quantidade da dose, do tratamento de manutenção e também da escolha de produtos utilizados na pele, como a maquiagem. "Se a acne está relacionada a problema hormonal que não foi corrigido, também pode voltar", fala Flávia Ravelli.