Topo

Pedagoga vence depressão, investe R$ 150 e já fatura R$ 600 mil por ano

Ana Lu Rocha/ Divulgação
Imagem: Ana Lu Rocha/ Divulgação

Léo Marques

Colaboração para Universa

10/08/2018 04h00

Eliane Feline tinha um bebê de 38 dias quando recebeu a trágica notícia de que o pai havia sido assassinado, em sua fazenda no interior do estado do Pará. A tragédia abalou toda a família. Dias depois, o leite secou, a depressão tomou conta e ela sentia apenas vontade de ter morrido junto com ele. "Eu pensei que não seria capaz de viver sem meu pai", conta. Mas ela decidiu abrir um negócio de balões de festa em Belém (PA). Hoje, a Maria Fumaça, que nasceu com investimento de R$ 150, já fatura R$ 600 mil por ano e abre sua primeira franquia em Belo Horizonte (MG).

Nascida em Uberaba (MG), Eliane sempre foi muito apegada à família. "Meus pais foram muito presentes em nossas vidas. Como toda família, enfrentamos problemas e dificuldades, mas, juntos, passamos por cada uma delas. Quando ainda era pequena, nos mudamos para Tucuru (MS). Eu e minha irmã estudávamos e trabalhávamos junto com os meus pais no comércio deles. Desde pequena, tínhamos responsabilidades, além de estudar que era a maior e a primeira de todas. Valores que levamos para nossas vidas e buscamos repassar aos nossos filhos", ressalta.

Veja também

A relação que ela tinha com o pai era uma ligação muito forte e foi quebrada abruptamente com o assassinato. "Ele sempre vai ser o meu grande amor, mas sua força e aquela voz que sempre dizia nos dias difíceis 'levanta a cabeça, guria' me colocaram face a face com Deus. A fé me manteve de pé, me fez entender que é tudo no tempo Dele. Aprendi a orar por aqueles que ainda não perdoei. É um exercício diário", desabafa.

A tragédia fez Eliane passar por um longo período de terapia. "Na época, me afundei na tristeza, me omiti da vida e daqueles que me amam", recorda. Sua depressão fez com que vivesse apenas para cuidar da filha Valentina e não tivesse vontade de sair de casa. "Ela foi a minha força, seu desenvolvimento e segurança dependiam de mim, do meu amor e ninguém poderia me substituir".

Do conselho de uma amiga ao colorido dos balões

Depressão - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Formada em pedagogia, Eliane atuava na área de consultoria, gestão e logística escolar em Belém, no Pará. Com a chegada da filha, ela buscou diminuir o ritmo e vivenciar mais a família. "Junto das mudanças que haviam ocorrido, vieram também a descrença na minha área de atuação". Na época, Eliane tirava em média R$ 6 mil por mês. "Não foi algo fácil de abrir mão mesmo com o suporte do marido, mas não teve jeito", relata.

Tudo aconteceu durante a organização da festa de aniversário de um ano de Valentina. "Minha amiga Bianca me disse: faça alguma coisa por você. Comecei a chorar, pois estava tentando. Ela continuou insistindo e sugeriu que eu trabalhasse com decoração de festas e, quando apresentei todos os argumentos possíveis para dizer que não dava, ela levantou um pacote que estava sobre a mesa e me disse que eu devia vender balões", conta, rindo.

A semente estava plantada. Mesmo sem acreditar no potencial daquela sugestão, ela resolveu pesquisar. Na internet, conheceu alguns trabalhos e profissionais que serviriam futuramente de inspiração. Foi quando o destino deu um empurrãozinho. "Quando eu menos esperava, recebi uma mensagem da Bianca com uma lista de cores e quantidades de balões dizendo que uma cliente dela precisava para a próxima sexta-feira. Gargalhei e respondi que não vendia balões, e ela apenas retrucou dizendo: não vendia, se vira".

Os gastos daquela primeira compra somaram R$ 150. O lucro também foi baixo, de apenas R$ 135. "Meu objetivo, no início, foi apenas fidelizar o cliente". Eliane tomou gosto e começou a fazer contato com alguns decoradores de festa oferecendo seus serviços. Pouco tempo depois, a sala da casa dela foi tomada por caixas e encomendas.

Estratégias para ganhar o mercado

Em suas viagens para comprar novos balões em São Paulo, Eliane descobriu um novo universo das festas profissionais e materiais que ainda não faziam sucesso em Belém. Foi nesse período que conheceu os balões diferentes e importados. Porém o mercado local não estava habituado a pagar um valor acima do acostumado. Para que as pessoas pudessem conhecer e ter acesso a esses novos modelos, Eliane comprava pacotes maiores, com 50 a 100 unidades, e fracionava-os em pacotes de dez ou vendia alguns avulsos. A estratégia deu certo. Com o custo menor, eles se tornaram acessíveis e aos poucos o mercado foi se acostumando com os balões metalizados e de diferentes formatos.

"Foi um sucesso. Ganhamos o mercado, inspiramos tantos outros e com dois anos de operação passei a ver a Maria Fumaça como um negócio de fato, buscando aprender, aprimorar, criando processos, profissionalizando e exercendo o que já vinha fazendo", conta feliz.

Um ano depois, o improvisado escritório em casa ficou pequeno para atender a demanda e ela alugou uma sala comercial, onde montou sua primeira boutique de balões. Hoje, cinco anos depois, além dos decoradores de festa, ela também atende cerimoniais, fotógrafos, agências de publicidade e o consumidor final. O plano de expansão já começou por meio das franquias, a partir da inauguração, este mês, da primeira loja na capital mineira.

"No inicio era um hobby. Coloquei todo afeto, amor e dedicação que eu depositava nas coisas que amava fazer. Usei de muita criatividade para dar charme às embalagens e ao atendimento, que inicialmente era apenas virtual. Com o tempo passei a fazer visitas no local da festa e todas as ações me preenchiam a mente e esquentavam o coração. Conhecer pessoas, vivenciar os seus sonhos e as dificuldades para realizá-los me fazia melhor a cada dia e essa força me fez acreditar que era lindo e possível, e as dificuldades foram sendo superadas com muita perseverança e fé", finaliza.