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"É a luta que não me deixa pensar em suicídio", diz viúva de Marielle

Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, participa de ato em Brasília Imagem: Lucio Tavora/Uol

Talyta Vespa

Da Universa, em Brasília

04/08/2018 12h25

Entre as centenas de mulheres que se reuniram no Festival Pela Vida da Mulher, em Brasília, nesta sexta-feira (3), está a viúva de Marielle Franco, Mônica Benício. "Essa passeata não é por ela. Se ela estivesse viva, o movimento estaria acontecendo e estaríamos aqui juntas", diz a professora à Universa. Durante o evento, manifestantes cantaram músicas em homenagem à vereadora, assassinada em 14 de março.

Com os olhos marejados em diversos momentos, Mônica relembra a luta ao lado da esposa e afirma que é a vontade de mudança que não a deixa cair.

"Eu sinto uma dor que cresce todos os dias. Mas, mesmo com o luto, preciso me levantar. A luta e a busca por justiça são as únicas coisas que não me deixam pensar em coisas ruins, como suicídio", diz. "E sei que essa dor não é só minha. Não posso ser egoísta e querer chorar sozinha e trancada no quarto o dia todo. Essa dor é de muitos, por isso estou aqui."

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"A polícia tem trabalhado para desvendar o crime, mas não tem sido fácil. Foi tudo muito bem executado, com pouquíssimos erros. Mas, sei que quando for solucionado, vai gerar um escândalo enorme no país. Isso porque não há apenas políticos, mas também agentes do Estado envolvidos no assassinato de Marielle", afirma.

Mônica não tem medo de acusar. Ela, na verdade, não tem medo de mais nada.

"Nada mais faz sentido, nada mais importa. E, por isso, não tenho medo. Só paro de acusar quando me provarem o contrário", desabafa. "E sei que não vão conseguir provar. Não sei quem foi, mas sei que foi alguém grande."

Ainda incerta sobre como continuar o legado da esposa, a carioca não descarta entrar para a política. Contudo, acredita que é mais fácil ser ativo politicamente nas ruas do que no Congresso.

"Antes, a única coisa que eu queria era fazer mestrado e dar aula em universidade. Tudo mudou", diz.

"Marielle foi a quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro e sempre teve projetos em que defendia os Direitos Humanos. Ainda assim, ela só foi reconhecida e recebeu a devida importância quando foi assassinada. E porque foi assassinada. Se tivesse infartado, ninguém se importaria."

Os últimos dias ao lado da esposa fizeram Mônica admirá-la ainda mais.

"Quando saíamos para jantar e algum eleitor a reconhecia, a abraçava e dizia que se identificava com a luta dela. Aquilo era lindo. Eu brincava: 'Você virou atriz de novela ou vereadora?'. Ela sabia que estava fazendo um trabalho delicado e bonito", conta. "Eu penso que devo isso a ela, que preciso continuar lutando, e não por mim. Mas pelo povo favelado, como eu e como ela. Para que não se repita o que aconteceu com meus amigos de infância, que, aos 17 anos, não viram alternativa a não ser o tráfico. E morreram", afirma.

O nome de Marielle se tornou símbolo de luta entre as mulheres que marchavam a favor da descriminalização do aborto. Mônica era uma delas. Com um megafone, gritava a dor de não ter a companheira ao lado. "O aborto é uma questão de saúde da mulher. Ele existe, muitas fazem. Agora, é preciso cuidar da vida delas, para que parem de morrer".

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Violência contra a mulher