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Violinista faz falsa invasão e toca Vivaldi em audiência de aborto no STF

Falsa invasão de violinista era parte da argumentação de grupo contra descriminalização do aborto - Reprodução/TV Justiça
Falsa invasão de violinista era parte da argumentação de grupo contra descriminalização do aborto Imagem: Reprodução/TV Justiça

Marcos Candido

Da Universa, em São Paulo

03/08/2018 19h28

A audiência sobre a descriminalização do aborto aguardava mais uma das 26 falas programadas para o dia.

Assim que a relatora Rosa Weber convidou a próxima candidata, um violinista se levantou da plateia. De semblante sério e vestindo terno, levantou-se da plateia com um violino apoiado no ombro. Calmamente, começou a tocar a "Primavera", de Vivaldi. 

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O rapaz, então, se encaminhou calmamente ao púlpito onde são feitas as falas. A câmera o acompanha. A música ressoa pela sala. 

Visivelmente irritada, Rosemeire Santiago, do Centro de Reestruturação para a Vida, tentou tirá-lo da fala. "Você não foi chamado agora, agora é minha vez na sala. Cada convidado tem o seu tempo, você pode se sentar?"

Envergonhando, o músico encerra a canção e retorna cabisbaixo para seu lugar.

Nem os assessores do Supremo Tribunal Federal sabiam o que estava acontecendo.

No Twitter, a reação: "o que foi esse cara do violino?", comentou um perfil na rede social. 

Assim que retomou a fala, Rosemeire se mostrou contra a descriminalização do aborto, apresentando vídeos de vítimas arrependidas.

Quando o relógio já marcava cerca de 18 minutos de fala, a expositora exibiu um vídeo no qual aparece o violinista

"A melhor coisa que minha mãe me fez até hoje foi me dar o dom da vida", diz o rapaz nas imagens. 

Neste momento, ele levanta da plateia e retorna ao microfone, ao lado de Rosemeire. 

Após longos elogios, a falsa invasão era apenas uma estratégia de argumentação. A mãe do garoto, supostamente pobre, se recusou a fazer um aborto.

"Senhores, eu quero dizer que a vida desse menino poderia ser interrompida".

E acrescentou. "Eu imagino se a vida dele fosse interrompida como eu o interrompi [agora]".

O garoto, chamado Calébe, ouve em silêncio. "Para mim ele é o exemplo vivo que a possibilidade da vida gera esperança".

"Você quer falar alguma coisa?", pergunta Rosemeire.

Constrangido pela entrada anterior, ele diz que não quer falar mais nada, obrigado. Logo depois, cochicha no ouvido de Rosemeire.

"Ele não vai tocar mais não. Eu tinha pedido pra ele tocar mais um pouquinho, mas ele não vai, não", explica para a plateia.

Os dois encerram a fala e retornam a seus lugares, sob palmas e sorrisos da plateia.