Topo

Traumas no sexo? A terapia tântrica é alternativa para voltar a ter prazer

A terapia tântrica pode nem chegar aos estímulos em órgãos sexuais - iStock
A terapia tântrica pode nem chegar aos estímulos em órgãos sexuais Imagem: iStock

Claudia Dias

Em colaboração para Universa

22/07/2018 04h00

Aos 40 anos, a terapeuta holística Nubia Oliveira se considerava bem-resolvida em relação ao sexo: orgasmos frequentes, zero tabu ou preconceito, corpo e aparência satisfatórios, nada anormal. Por curiosidade, buscou o tantra - queria ampliar suas experiências e trazer algo novo para sua vida.

Tudo seguia bem até que, a partir de algumas manobras feitas pelo terapeuta durante as famosas massagens - que são apenas parte da terapia tântrica, diga-se -, descobriu que havia "travas" em seu corpo. Mais que isso, conseguiu enxergar o inesperado e descobriu que havia sido abusada sexualmente ao longo da vida, sem se dar conta. "Comecei a alcançar áreas que estavam bloqueadas na minha memória e tive acesso a um abuso sexual que sofri por volta dos 3 anos de idade. Surgiu um conflito interno e, de repente, outros processos começaram a ser desbloqueados", relata.

Nubia resgatou situações da adolescência, quando rapazes forçaram situações sexuais que ela a princípio negava, mas acabava cedendo porque aprendeu que "é normal garotos populares fazerem isso com garotas". O tantra também identificou abuso no casamento, numa ocasião em que aceitou usar o sexo para resolver conflito com o marido. "Ele forçou a situação e eu deixei acontecer para que não ficasse magoado", admite.

Veja mais:

Depois do tratamento, a realidade é outra. Nubia agora se posiciona quando não quer transar, pois aprendeu que o sexo não é apenas um ato obrigatório. "Antes do tantra, o sexo era menos intenso e muito ligado ao carnal, uma coisa meio primitiva que funcionava no automático. Hoje, é uma troca de energia essencial e totalmente saudável, além de ser mais intenso, com prazer mais elevado", afirma.

Eficácia garantida

O desbloqueio que Nubia conseguiu não é exclusividade nem tarefa difícil de ser alcançada. Apesar de a filosofia ser bastante procurada por homens e mulheres interessados nos hiperorgasmos que promete despertar, o tantra garante ser uma arma poderosa para eliminar todo e qualquer bloqueio referente ao sexo.

Nubia passou por uma experiência comum nos tratamentos tântricos: a partir de toques específicos, as pessoas (chamadas de interagentes) conseguem se recordar de cenas e situações de traumas e abusos vividos. Tais bloqueios podem ser conscientes ou inconscientes, já que o esquecimento tende a ser um mecanismo psíquico de proteção.

Segundo especialistas, todo e qualquer tipo de trauma pode ser resolvido através da terapia tântrica, desde a vergonha de uma pessoa em ficar nua diante de outra até situações mais complexas, como atos violentos. Agnideva Simha, terapeuta e instrutor de desenvolvimento tântrico, da Aldeia Estrela Azul do Oriente, explica que existe uma especial eficiência no que se refere às vítimas de estupro, abusos e assédio sexual. "Isso ocorre porque o contato entre terapeuta e interagente traz de volta a confiança, a sensação de respeito, de segurança, de permitir-se ser tocada, sentir prazer, sem o risco de ser machucada em sua integridade", argumenta.

O objetivo do tantra, como acrescenta Magna Prem, terapeuta e instrutora de curso de massagem do Centro Metamorfose em Fortaleza, é ajudar a pessoa a aceitar o que aconteceu e seguir em frente. "É como se fosse uma ferida. Se só tapar, ao abrir de novo, vai doer. Temos que fazer com que essa ferida cicatrize", compara.

Não é só massagem

Bem diferente do que a maioria das pessoas imagina, o tantra não se resume às massagens, muito menos a momentos de interação sexual entre terapeuta e interagente. Engloba, isso sim, meditação, respiração, técnicas vibracionais e energéticas, dinâmicas corporais e até danças.

"A massagem tântrica é só uma parte, que ajuda muito nos traumas por causa do autoconhecimento e do empoderamento que proporciona", diz Magna. Cada caso é tratado de forma particular, já que toda pessoa tem seu histórico. As técnicas costumam variar, dependendo do problema e de como o transtorno se fixou na pessoa.

Inclusive o tipo de massagem é diferente conforme a intenção da terapia e o perfil da pessoa. Intervenções sem toques genitais, por exemplo, costumam ser suficientes para tratar traumas mais leves, de cunho afetivo, carência ou vergonha do próprio corpo. Ou, ainda, para situações em que houve molestamento, mas não penetração ou sexo oral forçado.

Vítimas de estupro, num primeiro momento, são massageadas sem estímulos genitais, justamente para desenvolver a confiança entre terapeuta e interagente. Só depois, com o progresso da terapia, passa-se a outro tipo de estímulo, em que há o toque genital nos grandes e pequenos lábios e no clitóris (para mulheres) ou estimulação do corpo peniano e glande (para homens).

Com a evolução emocional, acrescenta-se o estímulo interno - nas mulheres, no ponto G, no início do canal vaginal; nos homens, na próstata. Esse tipo de massagem, entretanto, é a último a ser aplicado e não se trata de uma regra aplicado a todas as pessoas.

Além disso, pede bastante cuidado em casos delicados de violência sexual, e é indicada apenas quando o interagente estiver pronto para esse tipo de abordagem. "Vai recondicionar e ressignificar os toques e estimulações internas, afetadas em razão da violência sofrida", pontua Agnideva Simha.

A origem de tudo

Nem tudo o que trava a vida sexual tem a ver com questões abusivas - estupros, violência ou assédios, mais especificamente. As origens dessas barreiras podem ser bem distintas - uma pancada na região genital na infância, ter crescido em ambiente repressor ou vivido um relacionamento forte do qual não consegue se libertar (e, inconscientemente, achar que está "traindo" o ex-parceiro).

Podem, ainda, estar relacionadas com alguma crítica sarcástica ou agressiva em relação ao desempenho na cama ou ao próprio corpo. "Muitas vezes as pessoas sofrem traumas que nem sabem, até dentro do útero da mãe", afirma Rodrigo Francioli, terapeuta tântrico e instrutor de curso de massagem do Centro Metamorfose em Fortaleza.

Os especialistas enxergam os traumas sexuais como emoções bloqueadas. "Nosso corpo todo, músculos e células, possuem a capacidade de armazenar um tipo de memória emocional. A emoção traumática se fixa em diversos pontos e, quando o trauma está ligado à sexualidade, invariavelmente ele se fixará também nos genitais", esclarece Agnideva.

É por isso que toda vez que o genital de uma pessoa com algum bloqueio é "acionado", ocorre o desencadeamento da memória relativa àquele problema, mesmo que seja de forma inconsciente. "É nosso organismo se preparando para o pior, tentando evitá-lo, já que relaciona o sexo e o pós-sexo ao abuso, à violência, às carências", explica o terapeuta da Aldeia Estrela Azul do Oriente.

A terapia tântrica promete ser tão eficaz que a pessoa que deseja eliminar bloqueios (conscientes ou inconscientes) não precisa ser alguém com cabeça aberta, livre de julgamentos e tabus ou ser adepta a terapias alternativas.