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Empreendedora aos 60: mulheres contam como recomeçaram a vida profissional

Letícia Rós e Rita Trevisan

Da Universa

08/06/2018 04h00

Em idade de se aposentar, elas optaram por permanecer no mercado de trabalho. E mais: inovaram, ousaram abrir o próprio negócio e fazem planos de crescer. A receita? O conhecimento acumulado aliado a uma enorme vontade de continuar aprendendo.

“Um ano foi suficiente para curtir a aposentadoria, não aguentava mais ficar parada”

Ana Nader - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

“Durante 32 anos eu fui funcionária de banco e sempre gostei do meu trabalho. Ia para o escritório como se fosse o primeiro dia. Tanto que trabalhei mais seis anos depois de me aposentar. Até que conheci uma terapia pouco divulgada, a haloterapia, e fiquei encantada. Fui estudar e resolvi trabalhar com isso. O processo foi rápido, passou um ano entre a minha saída e o início do novo negócio, a Halosal. Esse intervalo foi o suficiente para eu curtir a aposentadoria, para viajar, ver a família, essas coisas. Logo, já não aguentava mais ficar parada. Eu já tinha capital, então, não precisei pegar recurso em banco, isso não foi um problema para mim. A dificuldade foi lidar com burocracia, contrato, divulgação, foram muitas coisas novas para mim, todo dia algo para aprender. Felizmente, eu contei com apoio total da minha família, não sofri nenhum tipo de preconceito. Quando eu falava que ia empreender, as pessoas ficavam mais surpresas do que qualquer outra coisa. Hoje, apesar de todos os desafios, estou muito realizada. No emprego antigo, eu tinha algumas metas que tinha que bater. Hoje, minhas metas são bem diferentes, tudo o que eu quero é que as pessoas passem pelo tratamento e saiam melhores. Quando isso acontece, é realmente muito prazeroso para mim. No futuro, quero abrir novos espaços em outros estados, para poder ajudar mais gente.”

Ana Nader, 60 anos

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“Estou começando do zero, mas com uma bagagem muito grande”

Veronique Forat e Marta Monteiro - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

“Conversando com pessoas do meu convívio, percebi que havia muita gente interessada em formas alternativas de moradia em idade mais avançada e logo vi que ali havia uma oportunidade de negócio. Foi dessa ideia que nasceu a startup Morar.com.vc, que une os conceitos de Cool Living e Co-house. Antes de empreender, eu trabalhava com marketing, fiz isso por 35 anos. Até que me machuquei e, por conta do acidente, fiz uma pausa forçada. Daí, comecei a me perguntar se queria fazer a mesma coisa e percebi que dava para começar de novo. Estava na idade de me aposentar, mas com pelo menos 30 anos produtivos de vida pela frente e não queria ficar de pijama vendo isso tudo passar. Minha sócia estava com a mesma sensação, nos últimos 15 anos tinha trabalhado no mercado imobiliário e percebia que ele estava parado no tempo, pedindo inovação. Começamos com uma pesquisa viral, para ver se a nossa ideia tinha potencial e, nesse levantamento, de 1.200 respostas, 85% das pessoas disseram que tinham interesse em morar, em algum momento da vida, de forma compartilhada. Ficamos bem animadas, resolvemos arregaçar as mangas e fazer acontecer. Nós mesmas desenvolvemos o site para juntar pessoas que tivessem interesses em comum e pudessem morar juntas, e fizemos isso sem a ajuda de ninguém. No início, não cobramos nada pelo serviço, porque queríamos entender melhor esse mercado. Investimos pouco e agora estamos agregando uma terceira pessoa ao negócio, que vai tornar o nosso modelo escalável, que é o que a gente mais quer. Ainda estamos atendendo uma área geográfica pequena, mas a intenção é expandir para todo o Brasil e, quem sabe, até para o exterior. Quando começamos, teve muita gente que achou loucura duas velhas se meterem em uma startup, diziam que eu estava buscando sarna para me coçar. Mas, no geral, contamos com uma torcida boa e, para mim, tem sido uma experiência não só estimulante como rejuvenescedora, eu literalmente tenho que matar um leão por dia, isso quando não são dois. Mas isso só me dá mais vontade de viver! Afinal, estou aprendendo coisas novas e aplicando tudo o que eu aprendi ao longo da minha vida, tanto pessoalmente, como profissionalmente. Estou começando do zero, é verdade, mas com uma bagagem muito grande.”

Veronique Forat, 61 anos, e a sócia, Marta Monteiro, 64 anos

“Quero trabalhar enquanto estiver viva”

Silvia Salgado e Rosa Antunes - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

“Eu já trabalhava com entretenimento, viagem, mas sempre de uma maneira informal. Tinha um emprego no ramo imobiliário e, nas folgas, levava as turmas de terceira idade para passear. Só que com a crise econômica a empresa em que eu trabalhava saiu de São Paulo e aí eu tive que me reinventar. Consegui uma sócia que topou investir no mesmo sonho e fui fazer um curso à distância de turismo, para obter mais conhecimento técnico. Depois de terminar o curso de guia, comecei a organizar os grupos de viagem, só que de uma maneira mais estruturada. E foi assim que nasceu a startup Despegad@s, que promove passeios bacanas para pessoas com mais de 70 anos, no formato clube. No início, há pouco mais de um ano, não tínhamos muito capital, então, começamos com passeios e grupos menores e fomos crescendo com o tempo. Buscamos o Sebrae e outras consultorias para ter um direcionamento. Mas a maior dificuldade é com a linguagem, é pensar em como chegar ao público que a gente quer atingir. A gente trabalha no Google, no campus, então, podemos contar com a ajuda dos mais jovens nessa parte, eles nos ajudam a fazer apresentações, roteiros de vídeos, essas coisas. Não é fácil, mas eu quero trabalhar enquanto estiver viva. Ganho menos do que quando era empregada, mas a sensação de empoderar essas pessoas, em sua maior parte mulheres viúvas, é maravilhosa. Elas começam a se sentir independentes e ativas novamente quando passeiam e viajam. Vale muito a pena.”

Silvia Salgado, 57 anos, e a sócia Rosa Antunes, 61 anos