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Ex-executiva abre confeitaria e dobra o salário de gerente de multinacional

Foi em um almoço de família que as cunhadas Mariana (esquerda) e Daniela Gorski tiveram a ideia de abrir o negócio - Divulgação
Foi em um almoço de família que as cunhadas Mariana (esquerda) e Daniela Gorski tiveram a ideia de abrir o negócio Imagem: Divulgação

Léo Marques

Colaboração para Universa

03/05/2018 04h00

Uma viagem a trabalho mudou a história da empreendedora Mariana Gorski, de São Paulo. Gerente de produto no marketing da empresa de cosméticos Natura, em 2008, Mariana tinha acabado de voltar de licença maternidade de seu primogênito quando precisou ir para o Rio de Janeiro a negócios. Foi então que ela recebeu uma ligação dizendo que o filho de cinco meses estava com quase 40ºC de febre. “Fazia parte do meu trabalho viajar pelo Brasil. Mas receber uma notícia como essa me levou a uma reflexão de quais seriam as prioridades da minha vida. Adorava o que fazia, mas amava mais o meu filho”, lembra emocionada.

A partir daí as coisas mudaram completamente. Ela, na época com 28 anos, percebeu que estar perto da família era o mais importante e, por cerca de um ano, planejou seu desligamento da empresa. Foi durante esse processo de saída, em um almoço de família, que Mariana resolveu transformar o próprio hobby culinário em negócio, abrindo uma confeitaria junto com a cunhada Daniela Gorski, então gerente em uma fábrica de doces. Para aprimorar seu conhecimento, ela e a cunhada resolveram encarar um curso de confeitaria no Senac.

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Investimento de R$ 150 mil

Antes mesmo de abrir o negócio, as sócias viajaram para Paris e visitaram mais de 30 confeitarias tradicionais. Na sequência, para não terem o trabalho de montar uma empresa do zero, compraram uma confeitaria sem muita lucratividade. Investiram juntas R$ 150 mil. A partir daí desenvolveram o projeto da Confeitaria Dama, cujo nome é inspirado na união das primeiras sílabas de Daniela e Mariana.

Inaugurada em 2009, a empresa atendia apenas sob encomenda para outras casas de doces, supermercados finos, restaurantes e eventos.

A principal dificuldade no começo foi a produção. “Não tínhamos espaço suficiente para atender um cliente e tivemos que pensar longe”, conta Mariana. Isso fez com que elas mudassem de um pequeno espaço atrás do Shopping Morumbi, na zona sul da capital paulista, para o bairro de Pinheiros, na zona oeste. O aumento na demanda fez as sócias enxergarem uma oportunidade e em 2011 inauguraram a primeira loja própria no mesmo estabelecimento onde ocorria a produção em Pinheiros. Hoje, já são quatro unidades, duas delas localizadas em shopping e duas em comércio de rua.

"Queria mais tempo com os filhos, mas não foi bem assim..."

Mariana aprendeu logo no começo que ser dona do próprio negócio não significa necessariamente ter mais tempo livre. Pelo contrário. “Você deixa de ter uma estrutura a seu favor e precisa dar conta de muitos setores dentro do negócio”, conta. Ela ainda complementa: “Meu filho tinha dois anos no início e eu estava grávida pela segunda vez. Passei a gestação inteira trabalhando. Meu mais velho já ia para a escola e eu voltava para casa para almoçar com ele e depois retornava ao trabalho. Quando minha filha nasceu, na terceira semana já estava de volta”.

Ganhador de prêmios, o mil-folhas é o carro-chefe da confeitaria e a diversidade de sabores rende festivais ao longo do ano. Na foto, o doce tem recheio de caramelo de café - Divulgação - Divulgação
Ganhador de prêmios, o mil-folhas é o carro-chefe da confeitaria e a diversidade de sabores rende festivais ao longo do ano. Na foto, o doce tem recheio de caramelo de café
Imagem: Divulgação

Apesar da correria, Mariana acredita que o negócio agrega mais do que afasta as crianças. “É gostoso poder envolver a família no trabalho. Eles participam de grandes momentos da confeitaria, como Páscoa e Natal”. 

Outra dificuldade enfrentada no início foi a confecção das sobremesas. “É muito difícil trabalhar com doces. Qualquer erro na receita você não consegue corrigi-la e acaba indo para o lixo”, conta. 

Já os rendimentos iniciais também representaram uma barreira. As sócias estabeleceram um salário para si, mas até o quarto ano Mariana recebia bem menos do que na Natura. A partir do quinto, ela passou a ganhar o mesmo e no ano seguinte já tirava 20% mais. Hoje ela tem uma retirada mensal que chega ao dobro do salário que recebia como funcionária.

Doces premiados

As sobremesas da Dama têm forte influência da confeitaria francesa com um toque de ingredientes brasileiros. As sócias conquistaram, inclusive, alguns prêmios - principalmente por conta do mil-folhas, que chega a vender 5 mil unidades por mês. Em 2017, a confeitaria foi eleita a melhor da capital paulista pelo júri num concurso da Folha de S. Paulo e também como a melhor doceria pela Revista Veja Comer & Beber.